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22/01/2008

Epidemiologista esclarece dúvidas sobre a febre amarela

Catarina Chagas


Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias (AFN) nesta quarta-feira (16/1), o vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz, José da Rocha Carvalheiro, elogiou o sistema de vigilância em saúde brasileiro e ratificou a impossibilidade de uma epidemia de febre amarela. “É um sistema muito rigoroso, que nos permite ficar tranqüilos em relação à saúde da população”, disse.


 Carvalheiro: o sistema de vigilância nos permite ficar tranqüilos em relação à saúde da população

Carvalheiro: o sistema de vigilância nos permite ficar tranqüilos em relação à saúde da população


AFN: O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, declarou que não há risco de uma epidemia de febre amarela no Brasil. No entanto, a palavra ‘epidemia’ vem sendo usada pelo senso comum para se referir ao aumento do número de casos de febre amarela notificados no país. O que, afinal, caracteriza uma epidemia?


José da Rocha Carvalheiro: A epidemia é a ocorrência de uma doença de forma concentrada no tempo e no espaço, numa época específica e numa região específica, como a epidemia de meningite meningocócica ocorrida no Brasil em 1974. Podemos compreender isso em termos de vigilância quando coletamos dados da ocorrência de uma doença mês a mês ao longo dos anos para projetar uma curva de comportamento esperado da doença em determinada região. Se o número de casos registrado num mês é maior do que o esperado para o período, dizemos tratar-se de uma epidemia. Já o conceito de “surto”, a rigor, não é científico. Configura uma concentração inesperada de casos associados no tempo e no espaço.


AFN: Quais os fatores envolvidos no comportamento epidemiológico da febre amarela?


Carvalheiro: O vírus da febre amarela, até meados do século passado, circulou no meio urbano no Brasil transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que hoje transmite a dengue. Naquela época, houve um esforço para eliminar o mosquito do continente americano e a doença gradativamente desapareceu do meio urbano, ficando restrita ao ambiente silvestre. Com isso, sua estrutura epidemiológica mudou. Hoje, a febre amarela é transmitida por outros vetores e não passa de uma pessoa para a outra por meio dos mosquitos. Assim, apresenta apenas casos biologicamente isolados uns dos outros.


AFN: Já que o mosquito A. aegypti voltou a infestar o ambiente urbano no Brasil, há risco de a febre amarela se espalhar novamente pelas cidades?


Carvalheiro: Não, porque, embora a estrutura epidemiológica para a disseminação da doença esteja  nas cidades – pela a presença dos vetores –, seria necessário que centenas de pessoas contaminadas pela febre amarela viessem para as zonas urbanas para corrermos o risco de reintroduzir a doença nesse tipo de ambiente. Para evitar que isso aconteça, contamos, além da vacinação de pessoas que moram ou visitam áreas de risco, com um sistema de vigilância muito rigoroso, que, além de acompanhar a saúde humana, investiga a ocorrência de altos índices de morte de macacos em locais próximos a ambientes urbanos. É esse sistema de vigilância que nos permite ficar tranqüilos em relação à saúde da população.


AFN: O que falta para erradicar a febre amarela do Brasil?


Carvalheiro: Considerando a atual estrutura epidemiológica silvestre da doença, diria que é impossível erradicar a febre amarela. Erradicar quer dizer tirar pela raiz, eliminar de vez. Então, para erradicar a febre amarela, precisaríamos acabar com os focos naturais da doença – meios pelos quais ela circula na natureza independentemente da presença do homem. Como seria muito difícil eliminar de vez o A. aegypti para destruir a estrutura epidemiológica urbana da doença, seria mais correto falar em termos de eliminação da doença, ou seja, tê-la totalmente sob controle, com número de casos igual a zero no ambiente urbano, mantendo um rigoroso sistema de vigilância. Esta é a atual situação da febre amarela urbana no Brasil.


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