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29/01/2013

Especialista fala sobre sintomas, riscos e tratamento para a pneumonia química

Danielle Monteiro e Renata Moehlecke


Na madrugada de domingo (27/1), uma tragédia chocou o país: um incêndio em uma boate da cidade de Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul, provocou a morte de ao menos 231 jovens. Aos sobreviventes ainda resta o perigo de contrair a pneumonia química, uma doença perigosa que, se não tratada, pode levar à morte. Com o intuito esclarecer sobre a enfermidade, o pneumologista e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Hermano Albuquerque de Castro, concedeu entrevista à Agência Fiocruz de Notícias (AFN), na qual fala sobre os sintomas, riscos e tratamento para a doença. Castro também é o atual presidente da Comissão de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).



Quais são os principais sintomas da doença? Até quantos dias pode se manifestar a enfermidade?



Hermano Castro:
Principalmente tosse e  falta de ar. Algumas pessoas podem manifestar chiado no peito. De um modo geral pode se manifestar até três dias após o acidente.

 

Qual o perigo da pneumonia química?



Castro: A fumaça inalada encontra-se em altas temperaturas durante o incêndio e, neste caso, ocorre sempre o dano físico ou uma agressão térmica na estrutura pulmonar. Junta-se a isso a presença dos gases tóxicos com potente poder inflamatório. Pessoas sobreviventes de incêndios costumam inalar fumaça (produtos incompletos da combustão) produzindo um dano inflamatório nas vias aéreas e isso pode ser responsável por até 70% da mortalidade em pacientes vítimas dos incêndios.



A fumaça é a mistura de gases, como o monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e material particulado. Os gases e os particulados podem agir diretamente sobre as células que constituem o revestimento pulmonar produzindo o processo inflamatório. O mecanismo da ação pode ser por lesão térmica direta decorrente da temperatura da fumaça; redução da inalação do oxigênio com diminuição da fração inspirada de oxigênio, o que pode levar ao óbito; gases tóxicos que agem localmente produzindo inflamação aguda; e gases tóxicos de ação sistêmica, como o monóxido de carbono (CO) e o cianeto (o CO liga-se a hemoglobina reduzindo o transporte de oxigênio para o organismo).

 

Que medidas devem ser tomadas pelo indivíduo após passar por uma situação que possa desencadear a doença?



Castro:
Pessoas que ficam expostas em situações onde ocorre inalação de grande quantidade de fumaça (gases tóxicos) e com elevada temperatura devem ser orientadas quanto à possibilidade de sintomas e, dependendo do caso, permanecer em observação e acompanhamento clínico. Idosos, crianças e pessoas que sabidamente são portadores de doenças pulmonares, como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica, devem sempre ficar sob observação clínica.

 

Por que situações de incêndio podem desencadear a doença?



Castro:
A fumaça inalada é a causadora da doença e a intensidade da lesão pulmonar depende do tempo de exposição aos gases e da toxicidade do gás inalado.

 

Além de incêndio, que outras situações são propícias para o desenvolvimento da doença?



Castro:
Ambientes com a presença de gases tóxicos, solventes, vapores podem desencadear uma pneumonia química. Ambientes de trabalho com a presença de produtos químicos aumentam o risco para a doença.

 

Qual o tratamento utilizado para a doença?



Castro:
Em primeiro lugar a manutenção da via aérea e suporte ventilatório com aporte de O2. Para redução da inflamação e edema pode ser indicado o uso de corticosteroides. O uso de antibióticos está indicado quando há indícios de infecção secundária, em geral após o terceiro dia do acidente. A clínica respiratória poderá definir o uso ou não de broncodilatadores.

 

Algum tipo de medida deve ser evitada nesse caso?



Castro:
O mais importante é o acidentado procurar imediatamente um serviço de saúde após o acidente, mesmo que não tenha ainda a presença de sintomas imediatos, como tosse ou falta de ar. Os sintomas podem aparecer tardiamente em 24 ou até 72 horas.


Situações de incêndio podem desencadear o aparecimento de outras enfermidades além da pneumonia química?



Castro:
Além das lesões pulmonares e corpóreas decorrentes da queimadura, existe sempre a possibilidade do stress pós-traumático, desencadeamento de quadros hipertensivos ou descontroles de doenças endócrinas em pessoas portadoras de patologias prévias ou latentes.


Publicado em 29/1/2013.

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