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07/08/2008

Especialistas alertam para a importância da vacinação contra a rubéola


O Ministério da Saúde (MS) lançou no sábado (9/8) a Campanha Nacional de Vacinação Contra a Rubéola, que pretende imunizar, até 12 de setembro, mais de 70 milhões de homens e mulheres com idade entre 20 e 39 anos. A iniciativa, reconhecida pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) como a maior operação de vacinação já feita no mundo, reforça o compromisso de erradicar a rubéola no Brasil até 2010, assumido pelo Ministério na 44ª Reunião do Conselho Diretor da Opas. Em entrevista, o assessor regional da Unidade de Imunização da Opas, Carlos Castillo-Solorzano, e a virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, referência nacional do MS para rubéola, esclarecem aspectos clínicos e epidemiológicos da doença e reforçam a importância da vacinação.


 O assessor regional da Opas, Carlos Castillo-Solorzano, e a virologista da Fiocruz Marilda Siqueira

O assessor regional da Opas, Carlos Castillo-Solorzano, e a virologista da Fiocruz Marilda Siqueira



 

Qual a importância da campanha brasileira para o controle da rubéola nas Américas?

Carlos Castillo-Solórzano:
O Brasil é único país das Américas onde o vírus da rubéola ainda circula. Pretendemos interromper definitivamente a transmissão do patógeno no continente e por isso a campanha é um grande desafio, que envolve 70 milhões de pessoas – é a maior campanha de vacinação do mundo. A alta densidade populacional do Brasil também é um desafio. Geralmente, calculamos que a cobertura vacinal deve atingir 95% dos habitantes de um país. Porém, 5% da população brasileira podem corresponder a um país inteiro. Ou seja: um grande número de pessoas ainda estaria sob o risco de contrair a rubéola e de disseminar o vírus. Por isso, aqui a cobertura vacinal deve ser o mais próxima possível de 100%.

 

Qual a maior preocupação em relação à rubéola?

Marilda Siqueira:
A rubéola é uma infecção aparentemente benigna, que tem como sintomas principais a febre, manchas avermelhadas pelo corpo, mal-estar e dor de cabeça. Como a transmissão ocorre pelo ar, além do repouso o paciente deve evitar o contato com outras pessoas. O maior perigo é o contagio de gestantes, já que a doença pode causar sérios problemas ao bebê, a chamada síndrome da rubéola congênita (SRC). O bebê pode nascer com problemas como alterações cardíacas e retardo mental, além de catarata e problemas de visão.

 

Não é comum vacinar pessoas na faixa dos 20 anos. Por que isso será necessário?

Marilda:
Várias estratégias foram utilizadas para a vacinação com a tríplice viral. Fez-se uma estratégia de vacinação focada em menores de 11 anos, vacinando todos na faixa indicada. Com o tempo, não só o Brasil, mas outros países das Américas começaram a observar que os surtos de rubéola estavam acometendo uma faixa mais velha da população. Então, a Opas pensou em várias estratégias e a melhor foi vacinar homens e mulheres adultos jovens, para que se consiga acabar com a síndrome da rubéola congênita.

 

Em 2001 e 2002, o Brasil adotou uma estratégia de vacinar somente as mulheres em idade fértil e houve uma queda acentuada da doença e da síndrome. Outros países das Américas optaram por vacinar homens e mulheres nos anos seguintes. Apesar desta campanha ter sido muito boa, afinal houve queda acentuada de casos, em 2006 ocorreu o que achávamos que era um surto localizado no Estado do Rio de Janeiro, que começou em junho daquele ano e se espalhou para Minas Gerais. Em 2007, havia atingido quase todos os estados.

 

Qual a importância da participação da população nesta iniciativa de vacinação, que é a maior já realizada no mundo?

Marilda:
Esta campanha é uma oportunidade que o Brasil está tendo de realmente acabar com a rubéola e tentar não registrar mais casos de SRC nos país. A responsabilidade não é somente do governo, mas de cada um que esteja nesta faixa etária, de ir até o posto mais próximo e tomar a vacina. Porque só vamos acabar com o problema no momento em que as coberturas vacinais estiverem muito altas.

 

A Campanha Nacional de Vacinação contra a Rubéola é resultado de iniciativas anteriores que alcançaram sucesso no país?

Marilda:
A região das Américas é pioneira no desenvolvimento de estratégias de grande porte, como esta. Um bom exemplo são as campanhas de vacinação que resultaram na erradicação da poliomielite, modelo que passou a ser adotado no controle de outras doenças que contam com vacinas eficazes. Uma delas é o sarampo, alvo de uma campanha de vacinação em 1992 que imunizou 48 milhões de crianças. Depois de alguns anos, o principal foco passou a ser a introdução da vacina tríplice viral, que imuniza conta contra sarampo, caxumba e rubéola.

 

Como surgiu a campanha que começa no sábado?

Castillo-Solórzano:
Estudando as faixas etárias acometidas pelo surto de 2006-2007, vimos que havia mulheres acometidas, mas principalmente havia casos entre homens e adultos jovens. Além disso, ocorreram casos de SRC. Portanto, para eliminar a doença e a SRC foi planejada  esta campanha.

 

E como é a situação da doença fora do país?

Castillo-Solórzano:
Com exceção das Américas, e de alguns países europeus, todos os outros continentes têm circulação do vírus da rubéola em forma endêmica. Em alguns países do mundo, a vacina sequer foi introduzida. Por isso, a possibilidade que introdução do vírus no Brasil é real.

 

Qual o papel de um serviço de referência, como o prestado pelo Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo do IOC, no controle da doença?

Marilda:
Temos como função principal dar apoio para que as estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde sejam efetivas. Somos parte de uma rede que conta com laboratórios de diversos países, coordenados pelo órgão competente de cada país. Apesar de apresentarem sorotipos únicos – por isso a vacina é eficaz para todos os tipos de vírus circulantes –, descobrimos, na década de 90, que os vírus da rubéola e do sarampo têm genótipos diferentes. Com isso passamos a identificar os caminhos de transmissão, quais os genótipos mais comuns em determinadas regiões do mundo e concluir se o vírus causador de um surto aqui no Brasil é importado ou não. Este foi um passo importante para a vigilância epidemiológica da rubéola.


Qual a contribuição do trabalho desenvolvido por laboratórios como o do IOC na erradicação da rubéola nas Américas?

Castillo-Solórzano:
Se almejamos a eliminação da doença, é preciso pensar na interrupção da transmissão do vírus e, neste aspecto, o trabalho desenvolvido em laboratório é fundamental. Este tipo de serviço ajuda a conhecer o vírus, identificar sua origem por meio de estudos moleculares. Enquanto as doenças não forem erradicadas de todo o mundo, sempre estaremos em risco de importação de vírus. Mas a epidemiologia molecular, ao identificar a origem do vírus, pode nos dizer em qual local do mundo ela está ocorrendo. O laboratório do IOC é referência regional nas Américas e isso significa que, se um caso importado não for identificado, – como aconteceu recentemente no Peru –, a amostra pode ser analisada e é possível saber se o genótipo deste vírus circula em outras regiões do mundo.

 

Quais os próximos passos do Programa de Erradicação da Rubéola nas Américas, após a campanha de vacinação brasileira?

Castillo-Solórzano:
 Como demonstrado em outros países, após a campanha, é preciso fazer um monitoramento da cobertura vacinal, para que possamos definir e acompanhar as estratégias utilizadas. Depois de analisar os avanços obtidos nas Américas – acreditamos que ao final deste ano teremos vacinado mais de 250 milhões de homens e mulheres, adolescentes e adultos, em todo o continente – iniciaremos o processo de verificação e documentação da interrupção da circulação dos vírus na América. Isso é importante para que possamos, no futuro, identificar com clareza se um caso isolado foi provocado por um vírus autóctone ou importado. Para isso, cada país que integra o Programa de Erradicação da Rubéola nas Américas formará um comitê nacional de especialistas para revisar todas as informações e precisar os resultados finais a um comitê internacional. Este protocolo de verificação foi acordado na Conferêcia Sanitária Panamericana de 2007. Ao final de tudo isso, esperamos vencer a rubéola.


Publicado em 07/08/2008.

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