Início do conteúdo

08/09/2005

Especialistas de todo o mundo se reúnem no Rio para discutir os avanços e os desafios no combate à Aids

Adriana Melo e Fernanda Marques








Começou neste domingo (24/07) e vai até quarta-feira (27/07) a 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids sobre Patogênese e Tratamento do HIV. O evento - organizado em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Sociedade Brasileira de Infectologia - ocorre no Riocentro, no Rio de Janeiro. Participam das atividades delegados de 128 países e mais de dois mil resumos de trabalhos foram submetidos para apresentação na conferência.


 <FONT class=legendas><FONT class=legendas2 size=2>Reunidos no Rio, especialistas debatem os desafios da Aids</FONT></FONT>

Reunidos no Rio, especialistas debatem os desafios da Aids


No primeiro dia do evento, especialistas discutiram o desenvolvimento de um novo tipo de medicamento, que impede a ligação do HIV a receptores na superfície do linfócito T (célula branca do sistema imunológico) e, assim, inibe a entrada do vírus nessa célula. De acordo com Brian Gazzard, do Chelsea & Westminster Hospital, na Inglaterra, apenas uma dessas drogas já foi licenciada para uso. Mas existem pelo menos sete outras em testes clínicos, cujos resultados se revelam promissores.


Entre os inibidores da entrada do HIV, estão aqueles que bloqueiam o receptor CCR5, ao qual se ligam vírus HIV do tipo R5. Pesquisa feita com macacos rhesus por John Moore, da Cornell University, nos Estados Unidos, sugere que inibidores do receptor CCR5 devem ser usados no início da infecção e combinados a outras drogas.












 

 

 
 

André Az/Fiocruz

 J.Moore

J.Moore



Segundo levantamento feito por Moore, entre 979 portadores do HIV, 801 tinham o tipo R5, 177 uma combinação de R5 e X4 e um só estava infectado apenas pelo X4. O pesquisador verificou também que o R5 sozinho é mais comum nas fases iniciais da infecção, enquanto a combinação do R5 com o X4 - associada a uma maior carga viral e a uma menor contagem de linfócitos T - aparece em fases posteriores. O X4 raramente é transmitido e, ao que tudo indica, surge devido a uma transformação do R5.


Em seu discurso, Jürgen Rockstroh, da Universidade de Bonn, na Alemanha, destacou que a Aids é hoje "uma doença crônica e tratável". Porém, em um simpósio coordenado pelo NIH (National Institutes of Health, dos Estados Unidos), o indiano N. Kumarasamy, do YRG Centre for Aids Research and Education, lembrou que um dos maiores obstáculos no combate ao HIV é o fato de o tratamento não estar acessível a todos. Ilustrou com o exemplo de um serviço no sul da Índia, onde mais de 30% dos pacientes interromperam a terapia anti-Aids porque ela era cara.


Kumarasamy defendeu o uso de anti-retrovirais genéricos. O indiano apresentou referências de estudos que atestam a segurança e a eficiência dessas drogas e demonstram que elas são capazes de reduzir a carga viral e a mortalidade.


No mesmo simpósio coordenado pelo NIH, outros palestrantes destacaram que, além do custo elevado, outros fatores determinam o abandono do tratamento, principalmente a toxicidade dos medicamentos. Os efeitos colaterais a longo prazo podem ser metabólicos, como a diabetes, e morfológicos, como alterações na distribuição corpórea das gorduras. Esses efeitos - causados pelos medicamentos e também pela própria natureza da infecção pelo HIV - podem levar ainda a um risco aumentado de doenças cardiovasculares.


Apesar da toxicidade, os benefícios e os avanços dos anti-retrovirais são inegáveis. Nos países industrializados, em 1996, 21% dos portadores do HIV ficavam doentes no primeiro ano do tratamento e 18% morriam neste mesmo período. Já em 2002, esses percentuais caíram para 10% e 1%, respectivamente.


"Nosso objetivo é o acesso universal à terapia anti-retroviral como um direito humano", disse o britânico Charles Gilks, da Organização Mundial de Saúde. Segundo ele, o assunto está na pauta do G8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia), que se comprometeu a atingir essa meta do acesso global aos medicamentos até 2010. Contudo, Gilks alertou que não basta investir apenas em anti-retrovirais: a prevenção é imprescindível. "O tratamento só será eficaz se a contaminação cair ano a ano", destacou.


Julho/2005

Voltar ao topo Voltar