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03/12/2007

Especialistas debatem mídia e violência em seminário internacional

Catarina Chagas


Pesquisadores da América Latina estiveram reunidos no Rio de Janeiro para debater a violência e possíveis estratégias para combatê-la. Durante o seminário Perspectivas de enfrentamento dos impactos da violência sobre a saúde pública, organizado pela Fiocruz, um dos assuntos escolhidos para reflexão foi o papel da mídia na prevenção da violência.


Desde a década de 1950, com o advento da televisão, alguns profissionais de saúde, sobretudo nos Estados Unidos, começaram a apontar a violência na mídia como uma das causas da violência na sociedade. Para a jornalista Kathie Njaine, pesquisadora do Centro Latino Americano de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Fiocruz que proferiu palestra sobre o tema, apesar de a violência não poder ser atribuída aos meios de comunicação, estes são fatores simbólicos importantes no desenvolvimento social de crianças e adolescentes. “Imagens e discursos podem banalizar, dramatizar, espetacularizar ou aprofundar o entendimento sobre o fenômeno da violência, dependendo dos contextos de produção, circulação e consumo da informação”, justificou.


Segundo a especialista, mais do que a escola ou os profissionais de saúde, a TV é uma importante fonte de informação para a juventude. Pode, portanto, ser utilizada para educar contra a violência, assumindo atitudes como ampliar o debate sobre a resolução dos conflitos apoiada no diálogo e em uma cultura de não violência e promoção da vida ou divulgar orientações sobre serviços de atenção a pessoas em situação de violência. “Os meios de comunicação brasileiros já perceberam isso e começam a abordar essas questões delicadas tanto na dramaturgia quanto nos programas jornalísticos”, ressaltou Kathie. “Temas difíceis de e tratar com os jovens, como a própria violência, o uso de drogas e o comportamento sexual, podem ser mais facilmente abordados a partir de programas de televisão”.


A pesquisadora apontou que a cobertura jornalística muitas vezes não transcende o factual nem abre espaço para a reflexão e discussão do que há por trás da criminalidade, aspecto da violência privilegiado nos noticiários. “A cobertura do adolescente em conflito com a lei, por exemplo, é feita de forma conservadora e policialesca, desconsiderando o contexto social do jovem envolvido”, diagnosticou.


A apresentação de Kathie foi complementada pela fala do secretário executivo da ONG Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), Veet Vivarta. “Em geral, as notícias pouco discutem as causas ou as soluções para o problema”, afirmou. Um estudo da organização, após monitorar a cobertura de temas sobre a infância em diversos jornais impressos do país, apontou que as principais fontes consultadas são policiais, deixando em segundo plano especialistas e formuladores de políticas públicas da área. “É preciso investir na capacitação da imprensa para abordar a violência sob uma ótica mais ampla”, declarou Veet.

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