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25/11/2009

Especialistas discutem carga de doença na formulação de políticas públicas

Informe Ensp


"A aplicação dos indicadores revela prioridades para a saúde. Esses subsídios fomentam atualização e desenvolvimento de novas políticas públicas para a área", considerou o professor do Departamento de Saúde Global da Universidade de Washington Rafael Lozano, durante a primeira conferência do seminário internacional Estudos de Carga Global de Doença no Brasil em Debate. O primeiro dia do evento contou com duas conferências sobre questões metodológicas e tendências do Estudo de Carga Global de Doença, que abordaram aspectos nacionais e internacionais sobre o tema.


 Da esquerda para a direita: José Carvalheiro, Carlos Gadelha, Antônio Ivo e Joyce Schramm 

Da esquerda para a direita: José Carvalheiro, Carlos Gadelha, Antônio Ivo e Joyce Schramm 


A mesa de abertura contou com a presença do vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz e representante do Departamento de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (Decit/MS), Carlos Gadelha; o membro do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Inovação em Doenças Negligenciadas (INCT-IDN) da Fiocruz José da Rocha Carvalheiro; o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Antônio Ivo de Carvalho; e a coordenadora do Centro de Investigação sobre Métodos Aplicados aos Estudos de Carga de Doença da Ensp, Joyce de Andrade Schramm.


José Carvalheiro comentou que o trabalho realizado no CDTS/INCT-IDN está diretamente relacionado ao estudo de carga de doença, pois, além do desenvolvimento de tecnologias baseadas nas condições brasileiras de saúde, tanto epidemiológicas quanto econômicas, são trabalhados eixos de formulação de políticas. "Vamos dar início a uma discussão crítica para a elaboração de um índice de saúde, em que mergulharemos nos conceitos da carga de doenças", disse. Antônio Ivo relembrou que a Ensp, com o grupo coordenado por Joyce, é pioneira neste estudo no Brasil. "Estamos convencidos de que essa abordagem tem auxiliado a identificar e compreender melhor os problemas. Isso nos possibilita enfrentar a realidade sanitária brasileira e, principalmente, as desigualdades, que são o maior problema do país, de maneira mais preparada", afirmou o diretor da Escola.


Carlos Gadelha lembrou que o Brasil e o mundo estão passando por um processo de transformação global muito intenso e, nesse processo, a saúde é pauta da agenda prioritária. "A saúde articula política social com política econômica. A análise de prospecção da carga de doença tem caráter estratégico para se pensar o futuro da saúde mundial e o contexto das relações políticas internacionais, no que se refere à saúde. Devemos usar esses dados como subsídio para formulação e implementação de políticas para as próximas décadas", alertou o vice-presidente da Fiocruz.


O conferencista Rafael Lozano apresentou um amplo panorama da Carga Global de Doença (CGD) no mundo e contou sobre a sua experiência no tema. Comentou, ainda, que em um dos maiores sítios eletrônicos de busca aparecem quase 500 mil referências sobre a CGD e mais entradas ainda quando se busca o termo DALY, que significa Disability Adjusted Life Years e representa a soma dos anos de vida com os anos vividos com incapacidade. "O DALY deixou de ser apenas o modo utilizado para fazer a mensuração dos estudos: tornou-se um marco para a aplicação de políticas no mundo", definiu.


Com o estudo da CGD, disse ele, "é possível identificar as principais causas de doenças que mais matam. Sabendo quais são as prioridades e baseados em evidências, temos um maior poder de convencimento frente aos tomadores de decisão. Conscientes das prioridades, estes atores poderão investir em estratégia de prevenção de maneira mais acertada". Lozano destacou que muitos países realizam estudos dessa natureza, mas, por não publicarem na língua inglesa, eles acabam ficando fora das grandes comparações. "Por isso, incentivo o esforço para a tradução desses estudos para o inglês. Dessa maneira, eles se tornam mais acessíveis", enfatizou.


Além disso, Lozano comentou que está participando de um grande estudo, desde o ano de 2005, que tem como objetivo produzir DALY específicos para mais de 200 doenças. O grupo de pesquisa, composto por cerca de 800 integrantes de várias regiões do mundo, busca traçar estimativas epidemiológicas, como mortalidade, prevalência de doenças e outras, mas se depara com uma grande quantidade de 'código de lixo', isto é, informações inúteis para fins de análise em saúde pública. O palestrante contou que o Brasil era um país com uma alta taxa de 'código de lixo', mas que este índice vem caindo de maneira impressionante e que a qualidade das hipóteses dos dados e co-variantes brasileiras têm melhorado. Ele concluiu dizendo que "na busca por estimativas mais precisas, estamos criando novas tecnologias de análises mais fáceis e flexíveis, possibilitando, assim, um cálculo melhor e mais abrangente em relação ao peso e ao número de indicadores da CGD".


Publicado em 23/11/2009.

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