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28/07/2008

Esquistossomose: estudo destaca necessidade de trabalho de vigilância

Catarina Chagas


Em seu trabalho de conclusão do curso de especialização em malacologia de vetores no Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, o guarda de endemias André Ricardo Valoura de Oliveira coletou caramujos vetores de esquistossomose em três distritos do município de Mangaratiba (RJ), a fim de verificar os riscos de transmissão da doença na região. Embora os espécimes coletados não estivessem infectados pelo helminto Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose, o estudo ressalta a importância de um trabalho constante de vigilância em saúde naquele município.


 Estudo alerta para a importância do monitoramento dos caramujos (Foto: Bruna Cruz/Fiocruz)

Estudo alerta para a importância do monitoramento dos caramujos (Foto: Bruna Cruz/Fiocruz)


Os locais escolhidos para a pesquisa foram uma cachoeira natural em Conceição de Jacareí; um córrego em Itacuruçá; e uma vala de drenagem e uma piscina artificial formada por barragem de cachoeira em Muriqui. Enquanto a cachoeira e a piscina são regularmente freqüentadas por moradores e turistas, o córrego e a vala apresentam risco porque, em épocas de chuva, transbordam e atingem áreas residenciais.


De outubro de 2007 a fevereiro de 2008, foram coletados por Valoura e agentes de saúde locais 735 espécimes de caramujo, sendo 724 da espécie Biomphalaria straminea – o principal molusco hospedeiro do S. mansoni no estado do Rio – e o restante da espécie Biomphalaria tenagophila, mais comum na Região Nordeste do país.


Entre as regiões estudadas, as proximidades da vala de drenagem em Muriqui foram as mais habitadas por moluscos. Isso acontece porque elas têm condições ideais à colonização, como abundância de matéria orgânica, vegetação ou limo nas margens; fluxo de água passando em baixa velocidade – ao contrário do que acontece na cachoeira –; e despejo de dejetos das várias casas do distrito, que se tornam fonte de alimento constante para os moluscos.


“Nenhum caramujo que encontramos estava parasitado, mas isso é normal em áreas não endêmicas, como o estado do Rio”, explica o pesquisador. Em todo caso, o monitoramento das populações dos moluscos hospedeiros do S. mansoni e a pesquisa da helmintofauna associada são indicadas como medidas preventivas pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.


Esta medida é ainda mais importante nos ambientes onde há contato freqüente da população com a água, via de transmissão da esquistossomose. “Controlar a população de moluscos é muito difícil, pois eles têm características biológicas muito favoráveis à reprodução e facilidade de se adaptar a áreas poluídas e períodos de seca”, enfatiza Valoura, responsável pelo Programa de Controle da Esquistossomose no município e cuja monografia foi realizada junto ao Laboratório de Malacologia do IOC, sob a orientação da pesquisadora Monica Ammon Fernandez.


O especialista adverte que focos de esquistossomose podem surgir em áreas onde não há uma rede de saneamento adequada: residências despejam esgoto nos rios e cachoeiras que servem de áreas de lazer. “As atividades de vigilância são imprescindíveis porque, uma vez inserido no ambiente o helminto causador da doença, torna-se fácil a contaminação dos moradores”, justifica.


Outro fator que justifica a necessidade da vigilância é a presença de áreas turísticas na região, como cachoeiras e praias. A população do município, então, sofre grande aumento nas altas temporadas, como o verão. Entre os turistas recebidos em Mangaratiba estão moradores de áreas endêmicas de esquistossomose, como Minas Gerais, estado responsável por 70% dos casos no país. 


Publicado em 25/07/2008

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