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09/03/2007

Estabelecido ciclo da febre do Oeste do Nilo na América do Sul

Pablo Ferreira


Um projeto que contou com ativa participação da Fiocruz comprovou o estabelecimento do ciclo da febre do Oeste do Nilo na América do Sul. Iniciado em agosto de 2004 e todo realizado na Venezuela, o trabalho constatou a presença do vírus causador da doença (conhecido como WNV) no sangue de aves residentes naquele país e migratórias procedentes dos EUA – onde a doença vem sendo diagnosticada no homem, aves e eqüinos desde 1999. “Agora, urge realizar o mesmo tipo de inquérito epidemiológico aqui no Brasil”, afirma o entomologista da Fiocruz Anthony Érico Guimarães, envolvido na pesquisa.


 Pesquisadores recolhem amostras de sangue de colibri para tentar identificar o vírus (Foto: Anthony Érico)

Pesquisadores recolhem amostras de sangue de colibri para tentar identificar o vírus (Foto: Anthony Érico)


O vírus já havia sido detectado isoladamente no continente após a morte de cavalos na Argentina e na Colômbia. Não se sabia, contudo, se eram casos isolados e nem se tinha a confirmação de como os animais haviam se infectado – o WNV poderia ter se estabelecido em uma viagem para competição, por exemplo; apesar dos proprietários garantirem que os eqüinos jamais haviam saído de seus países. Os fatos indicaram a necessidade de se realizar uma investigação mais aprofundada sobre a doença. Nesse sentido, virologistas, ornitólogos e entomologistas de Venezuela, Estados Unidos, Porto Rico e Brasil uniram forças para verificar se as aves migratórias procedentes dos EUA estariam trazendo o vírus para o Sul e se o ciclo seria estabelecido pelo encontro de aves residentes com mosquitos infectados.


Desse modo, pássaros selvagens foram capturadas durante os anos de 2005 e 2006. Os pesquisadores logo observaram que, quando as aves vindas dos EUA chegavam à Venezuela, seu número superava o das locais. “O que ocorre: o mosquito transmissor da febre do Nilo se alimenta das migratórias e quando estas vão embora ele passa a buscar as aves residentes, transmitindo-lhes o vírus e estabelecendo o ciclo da doença”, explica Guimarães, destacando que “esse foi o ponto chave dessa primeira etapa da pesquisa, que confirma, não apenas a presença do vírus causador da febre do Nilo na América do Sul, como também a existência do ciclo de transmissão em nosso continente”. O trabalho continua, visto que agora os cientistas buscarão o WNV nos mosquitos da região.


Com esses resultados, o entomologista acredita ser imprescindível a realização de um projeto semelhante aqui no Brasil, já que dos pássaros advindos dos EUA, alguns ficam na Venezuela e voltam; outros, porém, vêm para o Nordeste do Brasil, para o Pantanal, para a Argentina e outras regiões do continente. “O ideal seria levantarmos inquéritos epidemiológicos, com muitas amostragens feitas durante todo um ano e em todas as regiões brasileiras que recebam aves dos EUA. Para tanto, precisamos de um investimento, como este do projeto da Venezuela”, completa Guimarães.


Perguntado sobre o que o país deve fazer como medida preventiva contra a febre do Nilo, o entomologista é taxativo: “Temos que investir no controle do vetor, principalmente através de saneamento básico em grandes centros urbanos”. O motivo é que o principal meio de transmissão da doença é pela picada de mosquitos do gênero Culex. Também indagado se a estratégia de combate do Culex difere da do mosquito do dengue (do gênero Aedes), Guimarães diz que diferentemente do Aedes, que é doméstico, ou seja, vive dentro das casas, o Culex é urbano, vive nos arredores dos domicílios. Enquanto o Aedes precisa da água limpa das chuvas para se reproduzir, o Culex utiliza-se de águas poluídas – valas negras, esgotos etc. “Trata-se do grande transmissor urbano, vetor da filariose (elefantíase), e seu combate é feito de maneira distinta da do Aedes”, diz.


Os resultados dessa primeira etapa do trabalho foram submetidos e aceitos para publicação no periódico Emerging Infectious Diseases, sob o nome de Established Introduction of West Nile virus in Venezuela. O projeto é financiado pelo National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos. A Fiocruz participou por meio do seu Laboratório de Diptera, vinculado ao Instituto Oswaldo Cruz.

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