Início do conteúdo

20/12/2011

Estudantes africanos se formam em pós-graduação da EPSJV

Cátia Guimarães


Por que trabalhadores de saúde de países africanos que lidam com educação profissional deveriam estudar temas como epistemologia? Esse é o exemplo de uma das (muitas) dúvidas que 27 alunos do curso de pós-graduação (especialização) organizado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) para Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palops) se fizeram no início deste ano. A resposta chegou, verbalizada numa oficina de avaliação, no último dia 9 de dezembro, minutos antes da cerimônia de formatura. “Agora tudo se fechou, fez sentido”, disse um dos formandos. “Isso demonstra uma concepção de educação técnica que reconhece esses trabalhadores como estratégicos para a produção da vida, indo na direção contrária daqueles que os veem apenas pela sua capacidade de executar e não de formular”, disse a coordenadora do programa de pós-graduação da EPSJV, Marise Ramos.


De fato, nada foi por acaso. Durante a formatura, a coordenadora de cooperação internacional da EPSJV, Anamaria Corbo, explicou a importância de uma iniciativa como essa, que visou — e com êxito — fortalecer as bases teóricas e metodológicas daqueles profissionais que compõem o corpo docente desses países. Segundo ela, a ausência de uma discussão mais de fundo é exatamente um dos obstáculos que a Escola encontra quando desenvolve algumas ações específicas de cooperação. A experiência de cooperação da EPSJV ajudou também, de acordo com Anamaria, a orientar o projeto do curso, que priorizou os três eixos em torno dos quais surge a maior parte das demandas de cooperação: material didático, organização de currículo e construção de projeto político-pedagógico — que foram objeto das três oficinas realizadas ao longo do curso. “Foi uma batalha campal”, resumiu Tomás Chianga, orador da turma.


Organização do curso


Se foi difícil para os alunos, do lado da Escola também não foi nada fácil. O curso aconteceu em cinco módulos, realizados em Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique e os dois últimos no Brasil. A coordenadora executiva da especialização, Marcela Pronko, explicou que, embora tenha durado dez meses, o curso envolveu dois anos e meio de trabalhos dos profissionais da Escola. Durante um ano inteiro, um grupo de trabalho se dedicou a estudar, discutir e compreender melhor a realidade africana, o que ela destacou como imprescindível para os processos de cooperação horizontal que a Escola tem mantido com os Palops. Ao todo, participaram do curso 16 profissionais da EPSJV, sendo dez deles diretamente em sala de aula. “Essa foi uma experiência marcada pela capacidade de escuta e pelo aprendizado conjunto”, resumiu.


Na especialização os alunos passaram, ao todo, por sete disciplinas, um seminário de integração e três oficinas, além da avaliação final do curso. O objetivo do seminário foi apresentar, discutir e analisar as políticas públicas de educação e de saúde de cada país representado no curso. Já as disciplinas trataram dos temas ‘conhecimento, ciência e política’, ‘economia da educação e concepções de formação de trabalhadores em saúde’, fundamentos das políticas sociais de educação e saúde’, ‘teorias da aprendizagem e abordagens didático-pedagógicas’, ‘fundamentos históricos da educação profissional em saúde’, ‘transformação do mundo do trabalho e trabalho em saúde’ e ‘currículo e didática na educação profissional em saúde’.


Formatura


Além das coordenadoras da cooperação internacional, da pós-graduação e do curso, compuseram também a mesa da cerimônia de formatura do curso a diretora interina da EPSJV, Cristina Araripe; Nísia Trindade, vice-presidente de ensino, informação e comunicação da Fiocruz;  Roberta Santos, pela representação da Organização Pan-americana de Saúde no Brasil; e Claudia Marques, representando a coordenação de ações técnica do Departamento de Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (Deges/SGTES/MS).


O curso é uma das ações do Plano de Trabalho da Rede de Escolas Técnicas de Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (RETS CPLP), que é coordenada pelo EPSJV. Foi financiado com recursos da União Europeia,  do Banco Mundial e do Termo de Cooperação (TC) 41, firmado com o Ministério da Saúde do Brasil e a Organização Pan-americana da Saúde (Opas).



Publicado em 20/12/2011.

Voltar ao topo Voltar