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10/07/2007

Estudo acompanha crianças que convivem com a violência

Catarina Chagas


As relações entre os problemas de comportamento infantil e a violência sofrida ou testemunhada pelas crianças em casa, na escola e comunidade são o alvo do trabalho de uma equipe do Centro Latino-americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Fiocruz. Foram incluídas na pesquisa 500 crianças, sorteadas nas escolas da rede pública de ensino do município de São Gonçalo (RJ). No início do estudo, em 2005, os alunos cursavam a primeira série do Ensino Fundamental e tinham entre 6 e 13 anos. A equipe do Claves entrevistou pais e professores em busca de dados socioeconômicos e de violência e aplicou nas crianças um teste de inteligência, além de solicitar a cada uma que desenhasse a própria família. Os procedimentos foram refeitos no ano seguinte.


 Para os pesquisadores, muitos responsáveis encaram como normal o fato de bater na criança para educá-la (Ilustração: programa Crianças e Violência/Conselho da Europa)

Para os pesquisadores, muitos responsáveis encaram como normal o fato de bater na criança para educá-la (Ilustração: programa Crianças e Violência/Conselho da Europa)


“Nossa idéia é acompanhar o comportamento dessas crianças e a relação deles com a violência ao longo dos anos”, explica a coordenadora do projeto, Simone Gonçalves de Assis. Os primeiros dados revelaram que cerca de 15% das crianças da amostra sofrem de pelo menos um problema de comportamento em nível clínico, como sintomas depressivos e agressividade, além de problemas com a atenção. “Observamos uma clara associação entre violência em casa e dificuldades de comportamento”, completa a pesquisadora.


 Os desenhos feitos pelas crianças, como este acima, serão analisados por psicólogos

Os desenhos feitos pelas crianças, como este acima, serão analisados por psicólogos


Segundo Simone, o problema cresce porque, culturalmente, muitos responsáveis encaram como normal o fato de bater na criança para educá-la. As entrevistas apontaram que 25,5% dos pais e 58,2% das mães ou avós aplicavam violência severa – jogar objetos, empurrar, dar tapas ou chutes, espancar, ameaçar ou usar armas de fogo ou facas – nos filhos. A agressão verbal, como chamar a criança de burra ou incompetente, também foi relatada com freqüência. “Mesmo a violência que não é direcionada diretamente às crianças, como no caso de brigas e agressões físicas entre os pais – relatadas por 22,8% dos entrevistados –, é uma atitude que pode ser prejudicial à formação dos filhos”, afirma a especialista. A situação é agravada pela falta de um sistema ágil de assistência em saúde mental infantil em São Gonçalo.


De um ano para o outro do estudo surgiram novos casos de crianças com problemas de comportamento, enquanto o relato de violência por parte dos pais diminuiu. “Isso não quer dizer, porém, que as agressões tenham diminuído de fato”, alerta Simone. “Pode ser que os pais, conhecendo o objeto do estudo, tenham falado menos sobre o assunto”.


A equipe pretende preparar um material para conscientização dos pais sobre as conseqüências das agressões vividas na infância. Além disso, pretende analisar também o papel da violência social na formação das crianças e acompanhar os alunos por mais alguns anos. Atualmente, uma equipe de psicólogos trabalha na análise dos desenhos feitos pelas crianças para traçar as especificidades evidenciadas nos desenhos daquelas com problemas de comportamento e que sofrem violência. O material deve render a publicação de um livro até o final do ano.

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