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09/09/2008

Estudo analisa nova técnica para diagnóstico de doença neurológica

Isis Breves


O projeto Adaptação da técnica de PCR quantitativa em tempo real para o diagnóstico da leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP) foi um dos contemplados pelo edital Programa Bolsa Nota 10, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e também do Programa Estratégico de Apoio à Pesquisa em Saúde (Papes 5). A pesquisa é da bióloga Flávia Fontenelle Muylaert, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do Instituto de Pesquisa Clínica (Ipec) da Fiocruz. O objetivo do estudo é analisar a PCR em tempo real, método que tem se mostrado mais sensível para o diagnóstico da LMP.


 

 Imagem estilizada do HIV

Imagem estilizada do HIV


“A LMP é uma doença do sistema nervoso central, decorrente da infecção de células produtoras de mielina, os oligodendrócitos, pelo poliomavírus humano JC (JCV). O JCV encontra-se disseminado no mundo e pode infectar até 80% na população adulta de grandes centros urbanos. É uma infecção primária que parece ocorrer durante a infância, com o vírus persistindo de forma latente no rim, sem causar nenhum tipo de doença na maioria da população. Em condições de imunossupressão a reativação viral pode ocasionar mutações e o tropismo do JCV por células gliais”, diz Flávia.


O diagnóstico de presunção de LMP pode ser feito por tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética do cérebro, para se estabelecer o diagnóstico definitivo e o diagnóstico diferencial com outras enfermidades, em particular a encefalopatia pelo HIV. Entretanto, este é um método invasivo, tendo uma morbidade de 8,4% a 12% e uma letalidade de 2% a 2,9%. Atualmente, a detecção do DNA do vírus JCV no líquido cefalorraquidiano (LCR), pela nested-PCR, é aceita como uma ferramenta valiosa para confirmar a LMP.


Entretanto, aproximadamente 15% de casos suspeitos de LMP podem não se confirmar. Este percentual de casos não confirmados tem se mostrado mais elevado em pacientes infectados pelo HIV, grupo mais acometido pela doença, provavelmente pelo uso da terapia anti-retroviral altamente potente. Dados da literatura mostram que o percentual de casos não confirmados chega a 42,5%. Apesar das estimativas de que 2% a 7% dos infectados pelo HIV desenvolverão LMP.


Pelas evidências citadas e somando-se o fato de que a nested-PCR é um método qualitativo de longa duração, cuja identificação e detecção do produto é feita por eletroforese em gel de agarose corado com brometo de etídeo, substância altamente mutagênica, a pesquisa vai comparar os resultados obtidos na nested-PCR com a PCR em tempo real. A PCR em tempo real pode ser até 100 vezes mais sensível que a PCR convencional, permitindo detecção de mínimas quantidades do JCV-DNA, assim como a quantificação viral. "O método proposto é semelhante a nested-PCR convencional, também constituído por duas etapas de amplificação, o primeiro round da n-PCR será mantido, o que muda é a segunda etapa que usará a técnica PCR em tempo real para aumentar a sensibilidade, e para quantificar a carga viral”, explica a bióloga.


O projeto está em andamento e os testes serão feitos na Fiocruz. “O levantamento dos pacientes e a extração do LCR para os testes já foram realizados. Usaremos amostras do LCR desses pacientes armazenados pelo Serviço de Virologia de janeiro de 2002 até setembro de 2008, o que constitui um total de 23 amostras. Para o grupo controle, selecionamos 25 amostras LCR de pacientes com outras condições neurológicas e sem evidências para LMP. Estamos para iniciarmos a fase dos testes propriamente ditas, com a padronização do método e posterior análise das amostras de LCR”, afirma Flávia.


A LMP permanece como sendo a segunda mais freqüente doença neurológica em portadores do HIV. “A relevância do estudo é justamente ter um método de diagnóstico que diga o quanto antes que, e o quanto, o paciente está infectado com o vírus JC podendo desenvolver a LMP”, conclui a bióloga.


Publicado em 9/9/2008.

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