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13/10/2009

Estudo analisa relação entre lazer e sociabilidade de jovens de Manguinhos

Informe Ensp


Com o objetivo de compreender o papel do lazer na construção de grupos sociais e na percepção da individualidade de jovens do conjunto de favelas de Manguinhos, o cientista social Fabio de Faria Peres realizou a pesquisa Lazer, juventude e sociabilidade em um conjunto de favelas cariocas para o curso de doutorado em saúde pública na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). O estudo teve como foco a forma como aconteciam os arranjos individuais e coletivos entre os jovens e como eram atualizados os laços de amizade, lealdade, aliança e conflito entre eles.


 

 O estudo aponta para a relação entre participação e experiência em um quadro cultural e social heterogêneo e a construção da individualidade e da subjetividade dos jovens (Foto: Ensp/Fiocruz)

 O estudo aponta para a relação entre participação e experiência em um quadro cultural e social heterogêneo e a construção da individualidade e da subjetividade dos jovens (Foto: Ensp/Fiocruz)


De acordo com Fabio, a ideia central da tese surgiu ainda no mestrado. Sua dissertação se relacionava com a compreensão dos significados e valores que as lideranças comunitárias de Manguinhos atribuíam ao lazer e com a compreensão dos processos associativos vinculados às iniciativas. Inserido no convívio com alianças comunitárias, e acompanhando atividades e projetos, Fabio ficou em contato com muitos jovens, participantes ou não dos projetos e iniciativas sociais. "Foi a partir desses contatos que surgiu a ideia de estudar o que os momentos de lazer significam para jovens moradores de favelas. Meu intuito era identificar como esses momentos são necessários, não apenas do ponto de vista individual, mas também na vida da comunidade".


Resultado de uma pesquisa etnográfica, o estudo aponta para a relação entre participação e experiência em um quadro cultural e social heterogêneo - com múltiplos mundos sociais e níveis de realidade - e a construção da individualidade e da subjetividade dos jovens. Segundo Fabio, tendo em vista a realidade diferenciada e complexa de Manguinhos, outra questão foi fundamental para o desenvolvimento da pesquisa: como levar em consideração tal quadro tão plural e complexo? "A trajetória da investigação envolveu várias dúvidas, hesitações, surpresas tropeços. Mas se consideramos que, por definição, uma pesquisa é sempre algo que se procura, este caminhar por vezes incerto e vacilante faz parte e é mesmo condição da própria investigação social".


O estudo foi dividido em quatro artigos: Lazer, esporte e cultura na agenda local: a experiência de promoção da saúde em Manguinhos, A divisão social da cidade e a promoção da saúde: a importância de novas informações e níveis de decupagem, Simmel, sociabilidade e "jogo" de distâncias: contribuições ao estudo do lazer e A experiência de "ser eu mesmo": práticas de lazer, juventude e sociabilidade em um conjunto de favelas cariocas. "Os quatro artigos se relacionam, mas cada um deles representa uma fase importante da pesquisa", ressaltou.


Fabio destacou ainda que durante a pesquisa sua atenção esteve voltada principalmente para jovens que não formavam necessariamente um grupo, no sentido tradicional que o termo adquire nas ciências sociais: "As experiências cotidianas dos jovens pesquisados não produziam fronteiras simbólicas suficientemente significativas e bem delimitadas, ainda que isso não signifique ausência de vínculos e redes de reciprocidade".


Dessa forma, Fabio priorizou jovens que participavam, em graus variados, de diferentes grupos. "Enfocar esses jovens enquanto indivíduos não quer dizer que optei por uma perspectiva atomista, que reduz a realidade social a átomos isolados, mas sim uma preocupação com o caráter relacional que as práticas de lazer configuram e são configuradas na individualidade e nos arranjos coletivos. Esse aspecto relacional pode ser mais ou menos claros, mas permanece criando e dissolvendo laços sociais", enfatizou.


De acordo com Fabio, as pessoas tendem a imaginar, por exemplo, que o fato de as pessoas viverem próximas uma das outras, em espaços caracterizados como favelas, possa se traduzir em uma possível homogeneidade ou proximidade simbólica, na qual os indivíduos compartilham uniformemente valores e significados.


Da mesma forma, tendem a acreditar que as pessoas vivem e participam univocamente, sem nuances, ambigüidades e escolhas, do mundo social em que estão inseridas. "Tive a possibilidade de mostrar como esses jovens se veem e se identificam ao vivenciar os momentos de lazer, isso é, como eles se representam, se imaginam e conduzem suas condutas a partir de princípios eletivos. Afinal, as representações sobre eles mesmos são reais em suas consequências: nas relações que estabelecem entre eles e entre eles e o mundo social", concluiu.


Publicado em 8/10/2009.

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