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06/05/2009

Estudo aponta alto percentual de abandono de tratamento por pacientes com HIV em BH

Renata Moehlecke


No Brasil, as políticas públicas de assistência à saúde de pacientes infectados pelo vírus HIV têm tido reconhecimento em âmbito mundial, principalmente, devido à garantia do acesso universal e gratuito aos medicamentos antirretrovirais. Entretanto, ainda existe uma certa dificuldade de assegurar a adesão de pacientes a esse tipo de tratamento, o que pode resultar em cepas virais mais resistentes, reduzindo as opções terapêuticas disponíveis, a sobrevida do paciente e o risco de transmissão destas para parceiros não-infectados. Com o objetivo de auxiliar a identificação de fatores associados à não-adesão do tratamento, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais avaliaram registros de dispensação de medicamentos de 323 pacientes infectados pelo HIV, que nunca realizaram nenhum tipo de tratamento, em farmácias de dois serviços públicos de referência para Aids de Belo Horizonte. O estudo, publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, apontou: cerca de 30% desses pacientes abandonaram a terapia e quase 58% praticaram pelo menos uma retirada irregular do medicamento.


 Os pesquisadores afirmaram que 93,7% dos pacientes entrevistados percebiam a necessidade do uso de antirretrovirais e 55,8% não faziam uso de outra medicação diferente

Os pesquisadores afirmaram que 93,7% dos pacientes entrevistados percebiam a necessidade do uso de antirretrovirais e 55,8% não faziam uso de outra medicação diferente


“Os resultados desta análise indicam uma preocupante situação desses serviços públicos de referência com relação à regularidade das dispensações de antirretrovirais”, comentam os pesquisadores. “Os registros da farmácia podem ser um importante marcador de utilização dos serviços de referência como indicador indireto para identificar pacientes em risco de não-adesão”. Segundo os estudiosos, os participantes do estudo foram entrevistados logo após receberem seus primeiros medicamentos nas farmácias de cada serviço e acompanhados por um período de 12 meses. Foram consideradas irregulares as dispensações que tinham um intervalo maior do que 34 dias. Já o abandono foi caracterizado pelo paciente que ficou mais de 60 dias sem retirar os antirretrovirais ou que não retornou. Os resultados também mostraram que somente 11,8% das dispensações foram regulares e que 3,7% dos pacientes já abandonaram o tratamento logo no início da terapia.


Além disso, os pesquisadores afirmaram que 93,7% dos pacientes entrevistados percebiam a necessidade do uso de antirretrovirais e 55,8% não faziam uso de outra medicação diferente. Eles ainda alertam para a necessidade de monitorar os pacientes assintomáticos, uma vez que esses apresentaram maiores chances no estudo de abandonar a terapia logo no início do tratamento. “Provavelmente não houve qualquer intervenção dos serviços para que esses abandonos pudessem ser evitados”, dizem os estudiosos. “Salienta-se a importância da responsabilização dos serviços na busca do paciente faltoso, no agendamento, no acompanhamento, no aconselhamento e no acesso de todos ao serviço de saúde de modo oportuno”.


Publicado em 6/5/2009.

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