22/06/2009
Renata Moehlecke
Em artigo publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo estimaram as causas atribuídas e os fatores de risco associados à prevalência de deficiência auditiva em 5.250 pessoas, com 12 anos ou mais, moradoras de quatro regiões do Estado de São Paulo. Dos participantes analisados, 480 relataram possuir a deficiência, sendo que 80,6% destes apresentaram dificuldade auditiva, 15,8% surdez unilateral e 3,5% surdez bilateral.
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“O levantamento dos deficientes auditivos de uma comunidade, sua localização e o estudo de suas condições sociais são de extrema importância para a adequação das medidas de saúde pública, nos vários níveis de prevenção”, afirmam os pesquisadores no artigo. Os resultados apontaram que as principais causas atribuídas à deficiência auditiva são doenças (19,8%), idade avançada (12,7%), acidentes de trabalho (9,3%), causas congênitas (5,6%), acidente doméstico (1,3%), acidente de trânsito (0,5%) e violência ou agressão (0,3%). A média de idade dos participantes da pesquisa foi de 52 anos.
Quando a análise foi associada à faixa etária, a categoria de causas congênitas foi a mais frequente (26%) entre adolescentes, de 12 a 19 anos. Os indivíduos entre 20 e 59 anos relataram como a causa mais prevalente as doenças (21%) e o trabalho (10%), principalmente o ligado a exposições prolongadas a ruídos. No grupo entre 60 e 75 anos, a presbiacusia (perda auditiva natural do idoso) configurou-se como a principal causa para o transtorno (17,7%), seguida pela categoria doenças (17,5%). Os indivíduos com idade superior a 75 anos apresentaram taxas elevadas nestas mesmas duas categorias, sendo 41,4% para presbiacusia e 27,9% para doenças.
Em relação a fatores de risco, de acordo com os pesquisadores, doenças reumáticas, diabetes, hipertensão, depressão, acidente cardiovascular cerebral, transtorno mental comum e uso de medicamentos apresentaram associações estatisticamente significativas para o desenvolvimento de disfunções auditivas. Além disso, os autores do artigo destacam que 15% das pessoas consultadas não souberam dizer ao certo a causa para sua deficiência. “A definição etiológica da deficiência auditiva é um processo trabalhoso, visto que este agravo pode ter causa multifatorial ou se desenvolver ao longo de muitos anos e, no momento em que o sujeito percebe o agravo auditivo, este, por sua vez, pode ter sido instalado num passado distante”, explicam.
Segundo os pesquisadores, a população adulta e idosa deve ser foco de programas que visem cuidar da saúde auditiva, devido à associação desta deficiência com o avanço da idade. “Atualmente, os grandes programas de saúde auditiva no Brasil são voltados para recém-nascidos e crianças, e ocorre escassez de projetos voltados para o adulto e, principalmente, para o idoso”, comentam. “Este enfoque poderia ser incluído em programas já existentes na atenção básica (voltados para diabéticos, hipertensos, saúde do idoso, saúde da mulher e saúde mental, entre outros) e poderia evitar ou diagnosticar de forma mais precoce a deficiência auditiva adquirida na fase adulta e também amenizar o sofrimento psíquico destas pessoas que são afetadas pelo problema”, concluem os autores no artigo.
Para ler o artigo original no periódico Cadernos de Saúde Pública, clique aqui.
Publicado em 22/6/2009.