Início do conteúdo

09/04/2008

Estudo aponta prevalência de anorexia nervosa em pré-adolescentes de Florianópolis

Renata Moehlecke


Caracterizada como um transtorno alimentar que atinge em 90% dos casos o sexo feminino, a anorexia nervosa, em geral, tem os primeiros sintomas associados à adolescência, período em que se manifestam muitas preocupações com a imagem corporal. E essas inquietações podem estar cada vez mais ocorrendo antes do esperado. Pesquisadores da Universidade Santa Catarina analisaram 1.148 adolescentes, de 10 a 19 anos, em Florianópolis e concluíram: meninas de 10 a 13 anos apresentam prevalência de sintomas da doença. O distúrbio também mostrou estar relacionado ao sobrepeso e à obesidade, à insatisfação com a imagem corporal e à rede pública de ensino.


 Os autores do estudo sugerem promover mudanças nos conceitos de imagem corporal e conscientizar sobre os prejuízos que os comportamentos assumidos para a redução de peso podem desencadear na saúde

Os autores do estudo sugerem promover mudanças nos conceitos de imagem corporal e conscientizar sobre os prejuízos que os comportamentos assumidos para a redução de peso podem desencadear na saúde


“Esperava-se que as adolescentes mais velhas apresentassem as maiores prevalências dos sintomas, sendo observado o contrário nesse estudo”, afirmam os estudiosos em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Pode-se supor que as adolescentes na faixa etária de 10 a 13 anos estejam em uma fase de exposição aos fatores de risco para o desenvolvimento do transtorno. Por outro lado, o resultado também pode ser reflexo de uma tendência precoce do desenvolvimento de anorexia nervosa nos últimos anos, observada pelo aumento do número de casos em idades mais novas”.


Para a pesquisa, foram selecionadas adolescentes que freqüentaram instituições públicas e privadas de ensino médio e fundamental entre março e julho de 2005. As participantes responderam questionário com perguntas sobre informações gerais, atitudes alimentares e imagem corporal. Medidas de peso e estatura também foram obtidas, de acordo com as normas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “As prevalências de sintomas de anorexia nervosa e de insatisfação com a imagem corporal na amostra geral foram, respectivamente, 15,6% e 18,8%”, apontam os pesquisadores. Eles esclarecem que esses números percentuais na ordem de 8,8% ou menos indicam uma população sem tendências a transtornos alimentares, e que, ao contrário, indicadores igual ou acima de 20% são bastante preocupantes.


Os estudiosos destacam o fato de não ter encontrado ligações entre os sintomas de anorexia nervosa e a presença de menarca (primeiro ciclo menstrual) ou renda per capita mensal. Em geral, alerta-se que o distúrbio alimentar detectado antes da menarca é manifestado pela presença de desnutrição sem necessariamente apresentar o aspecto de grave emagrecimento, como ocorre em idades avançadas. O agravo da anorexia nervosa, nesse caso, acarreta em uma parada no crescimento estrutural, o que pode dificultar o alcance potencial genético para a estatura da paciente. Com relação ao nível sócio-econômico, os pesquisadores indicam, atualmente, uma distribuição mais ampla dos transtornos alimentares para todas as classes sociais.


Além disso, eles consideraram difícil de explicar a ligação descoberta entre os sintomas da doença e a rede pública de ensino, sendo necessárias mais investigações. “Não se justifica pela renda per capita mensal, que não mostrou associação com o desfecho; não se justifica pelo estado nutricional, pois a rede de ensino não apresentou associação com essa variável; e não se justifica pela imagem corporal, que permaneceu no modelo independente de rede de ensinos”.


Os resultados do estudo, segundo os pesquisadores, chamam atenção para a necessidade de investimentos em programas dinâmicos de educação nutricional no ambiente escolar, com abordagem diferenciada para cada grupo de alunos atendidos. Os objetivos seriam promover mudanças nos conceitos de imagem corporal, conscientizar sobre os prejuízos que os comportamentos assumidos para a redução de peso podem desencadear na saúde e orientar para escolhas alimentares mais saudáveis. “Ao nosso ver, tanto os adolescentes como as crianças em idade escolar devem ser inseridos no programa educativo, além dos pais, professores e demais profissionais envolvidos”.

Voltar ao topo Voltar