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17/03/2006

Estudo avalia a importância da educação especializada para o deficiente visual

Roberta Monteiro


A deficiência visual atinge 315 milhões de indivíduos no planeta, o que corresponde a 5,1% da população mundial. Estima-se que no Brasil 1,2 milhão de pessoas possuam algum tipo de deficiência visual ou tenham dificuldades para enxergar. Buscando compreender a experiência de ser um deficiente visual e avaliar a importância da educação especializada para a trajetória de vida deste grupo, o educador Carmelino Souza Vieira, ex-diretor do Instituto Benjamin Constant (IBC), desenvolveu como tese de doutorado no Instituto Fernandes Figueira (IFF), uma unidade da Fiocruz, o tema Alunos cegos egressos do Instituto Benjamin Constant no período 1985 a 1990 e sua inserção comunitária.


O estudo foi realizado entre 2002 a 2004, com a participação de 89 ex-alunos do IBC - instituto de referência nacional para as questões voltadas para a deficiência visual e escola pioneira na América Latina na educação de cegos. Para as entrevistas foram selecionadas pessoas que concluíram o ensino fundamental no período de 1985 a 1990, visando descobrir qual a realidade vivenciada por eles fora do IBC, considerando as diversas barreiras encontradas na sociedade para atingir os objetivos, tais como a entrada na universidade, a realização de concursos públicos e a formação da família.


Segundo o educador, muitos jovens enfrentam dificuldades no momento de deixar a escola especializada e continuar os estudos numa escola de nível médio ou na universidade, porque, muitas vezes, tornam-se vítimas de preconceitos dos próprios alunos e professores. Por meio dos depoimentos, o pesquisador constatou que a carga mais pesada para o deficiente pode não ser a cegueira, mas a maneira como a sociedade o vê. "Muitas pessoas acham que o cego deve viver isolado da sociedade e os encaram como incompetentes e incapazes de produzir, por desconhecerem as suas possibilidades", destaca Vieira.


Para a doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-RS), Olga Solange de Souza, a entrada do deficiente visual numa escola especializada é fundamental para a sua inclusão na sociedade. Olga conhece a realidade de perto. Além de realizar pesquisas na área da educação especial, é deficiente visual de nascença e freqüentou uma escola para cegos a partir dos seis anos. "As nossas possibilidades ainda são desconhecidas para muitas pessoas, mas quando vivemos em sociedade e nos adaptamos a ela, há como não nos sentirmos completamente cegos", ressalta a educadora, que mesmo sendo deficiente, atua como professora na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).

De acordo com o pesquisador, dos 87 ex-alunos que estão vivos, 48 trabalham em estabelecimentos públicos, 11 em empresas privadas e nove encontram-se desempregados. Segundo Vieira, o trabalho prova que mesmo com as conquistas expressivas conseguidas pelos deficientes, principalmente nos serviços públicos, ainda existe resistência no setor privado para a oferta de empregos aos deficientes visuais.


A importância dos esforços no sentido de promover a prevenção da cegueira pode ser justificada pelo número de casos que poderiam ser evitados ou tratados, que correspondem respectivamente a 60% e 20% dos casos. Para Vieira, é preciso que os centros de apoio aos deficientes visuais, como o IBC, revejam o seu papel de assessorar as escolas comuns, a fim de que possam atender com a mesma qualidade observada nas escolas especiais, o que inclui a realização de cursos de pós-graduação na área da educação especial para deficientes visuais.






 

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