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12/03/2012

Estudo avalia a relação entre comportamentos de risco e suicídio

Renata Moehlecke


Para os profissionais da saúde, avaliar o risco de suicídio, que abrange tanto a idealização do ato quanto as tentativas cometidas, constitui um desafio mais importante do que buscar a causa imediata da ação. Cientes da necessidade de compreender melhor esse risco a fim de auxiliar o desenvolvimento de estratégias nacionais de prevenção de mortes auto infligidas, pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas investigaram a relação entre comportamento de risco à saúde e suicídio em 1.560 jovens de 18 a 24 anos da zona urbana da cidade. O estudo, publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, apontou uma prevalência de risco de suicídio de 8,6%.


 Dentre os jovens que exibiram risco de suicídio, 31,6% tinham transtorno de ansiedade generalizada, 37,7% transtorno bipolar e 36,7% apresentaram episódio depressivo maior

Dentre os jovens que exibiram risco de suicídio, 31,6% tinham transtorno de ansiedade generalizada, 37,7% transtorno bipolar e 36,7% apresentaram episódio depressivo maior


“A juventude é um período em que estrutura-se a identidade, sendo assim, uma etapa do desenvolvimento que exige mudanças nos níveis sociais, familiares, físicos e afetivos. Essas mudanças, embora normais, levam o jovem a experimentar crescente ansiedade e angústia, aumentando o risco de problemas emocionais, entre os quais sintomas depressivos”, explicam os pesquisadores. “Este estudo alerta quanto à importância de observação de comportamentos de risco em jovens não apenas como característica própria da etapa, mas sim como um preditor para comportamentos mais graves como o risco de suicídio”.


Dentre os jovens que exibiram risco de suicídio, 31,6% tinham transtorno de ansiedade generalizada, 37,7% transtorno bipolar e 36,7% apresentaram episódio depressivo maior. Quase 14% desses adolescentes também relataram ter participado de brigas com agressão física, 29% carregaram arma branca (faca, canivete etc) nos últimos 30 dias anteriores à consulta e 55% afirmaram portar arma de fogo no mesmo período. “No Brasil, o método mais utilizado em suicídios consumados, em todas as idades, é o enforcamento (55,7%), seguido por armas de fogo (13,2%) e ingestão de pesticida (5,5%)”, comentam os pesquisadores.


O estudo também indicou associação entre acidentes de trânsito e risco de suicídio. Dentre os jovens que mostraram tendências suicidas, 9,8% relataram não utilizar cinto de segurança, 8,9% afirmaram não utilizar capacete, 6,3% dizem ultrapassar o sinal vermelho, 6,9% dirigiram ou andaram na carona com motorista bêbado. Além disso, 12,6% desses jovens contaram que já sofreram acidentes que os obrigaram a ir ao pronto-socorro e 18,4% ingeriram bebida alcoólica antes de se acidentar. “Tal relação pode ser subestimada por conta da intenção suicida estar disfarçada nessas situações. De acordo com estudos sobre o tema, cerca de 1% a quase 15% de todas as fatalidades no trânsito são suicídios”, destacam os estudiosos.


Os resultados ainda apontaram que 15,4% desses jovens com tendências suicidas são dependentes de tabaco, 13,4% fazem uso abusivo de álcool, 26% são dependentes de maconha, 30,3% de cocaína e 34,4% usam sedativos em excesso. Além disso, 37,5% afirmaram serem dependentes de crack e 40% fizeram uso abusivo de anfetaminas. “Tal dado é preocupante visto que o uso dessas substâncias vem aumentando nos últimos tempos, a primeira de forma ilícita e a segunda, lícita, na venda de medicamentos”, alertam os pesquisadores.


Publicado em 9/3/2012.

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