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18/08/2009

Estudo avalia a saúde dos policiais militares do Recife

Rita Vasconcelos


O policial militar costuma ser visto, pela sociedade, de muitas formas: herói, algoz, super-homem, repressor, destemido, violento, guardião da ordem, entre outros. O que raramente as pessoas enxergam é o seu papel de servidor público. A invisibilidade quanto a esta condição colabora para que sejam poucas as investigações a respeito da saúde desse trabalhador. Em Pernambuco, uma pesquisa buscou contribuir com a mudança deste quadro, investigando quais as condições de saúde dos policiais militares do Recife.


 Policiais militares jogam futebol em campo em frente ao Quartel-General da PM de Pernambuco

Policiais militares jogam futebol em campo em frente ao Quartel-General da PM de Pernambuco


O estudo, que teve os dados coletados em 2007, investigou as condições de trabalho, dos modos de vida e da saúde de 288 praças, do sexo masculino, que atuam no Comando de Policiamento da Capital da Polícia Militar de Pernambuco. O resultado encontrado foi uma corporação bastante fatigada (56,3%), com problemas de visão (44,8%), dores musculares (36,5%), com um alto grau de ansiedade (33%) e de irritação (32,6%).


Para que se tenha noção de quanto os agravos podem comprometer o desempenho profissional destes trabalhadores, basta refletir sobre como pode um profissional que se encontra extremamente cansado, enxergando mal e com dores musculares, desenvolver bem atividades como o monitoramento, a mira e a perseguição, atividades comuns no seu dia a dia? Outro dado diagnosticado pela pesquisa diz respeito ao baixo nível de atividade física dos policiais.


Segundo o estudo, dos 288 entrevistados, 206 declararam que fazem menos de duas horas e meia (150 minutos) de atividades físicas, por semana, com intensidade moderada, estando muito aquém do esperado para o desempenho das suas funções, já que eles precisam de um programa de condicionamento físico com um mínimo de três sessões semanais e com mais de 150 minutos por semana.


Além disso, 70% deles também estão com excesso de peso, sobrepeso – Índice de Massa Corpórea (IMC) maior ou igual a 25 ou menor que 30 quilos por metro quadrado (kg/m2) – ou obesos (IMC maior ou igual a 30 kg/m2). Os dois fatores (baixa atividade física e excesso de peso), além de incompatíveis com a natureza do trabalho policial, favorecem o surgimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis, como a diabetes e a hipertensão. O trabalho, que foi a tese de doutorado em saúde pública na Fiocruz Pernambuco, da professora de Educação Física Daniela Karina da Silva Ferreira, foi orientado pela pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco, Lia Giraldo.


As atividades de lazer, que poderiam ajudar a amenizar este quadro de adoecimento, diminuindo a fadiga e o estresse provocados pelas condições desfavoráveis do trabalho diário dos policiais, ficam limitadas pela baixa condição financeira e pela preferência por atividades que exigem pouco gasto de energia. Entre as principais citadas pelos entrevistados estão assistir televisão ou filme (72,6%), dormir (61,8%) e ir à praia (46%).


Percepção sobre a saúde é boa entre os profissionais


Embora as queixas de saúde relatadas pelos policiais militares estivessem mais ligadas ao sistema neuropsíquico (fadiga, irritação, ansiedade etc.), quando são analisados os diagnósticos médicos mais frequentes os resultados são problemas de visão (32,6%), hipertensão arterial (25%), gastrite (13%), depressão (11,8%) e varizes (11,1%). Mas, mesmo diante de todo este diagnóstico, a percepção que 47,7% dos PMs entrevistados têm da sua condição de saúde é boa. Para 17,9% ela é muito boa, 29,2% acha que a sua condição de saúde é regular e apenas 4,9% consideram a sua saúde ruim e 0,4% consideram muito ruim.


“O fato da maioria dos policiais ter percebido o seu estado de saúde geral como positivo (muito bom ou bom) perpassa tanto pela questão de gênero, devido à masculinidade, bem como pelo papel social que estes trabalhadores ocupam na sociedade, o que pode ter influenciado a capacidade de se perceberem saudáveis”, ponderou Daniela. Ela comentou, ainda, que a divergência entre os dados de morbidade referida (alta frequência de queixas de saúde e diagnósticos médicos) e a percepção do estado de saúde geral como positiva pode ser uma evidência de que a forte rede de suporte social entre os colegas da corporação é um elemento importante do bem estar, contribuindo para que a maioria se sinta “segura”.


Segundo o major Leonardo Tavares, assessor de comunicação da Policia Militar de Pernambuco, a corporação tem se empenhado em modificar este cenário. “O panorama traçado pela pesquisa foi o mesmo que o governador Eduardo Campos encontrou quando tomou posse, no ano de 2007. Diante disso, a atual gestão vem tomando diversas medidas no intuito de reverter este quadro, como a instituição de programas como o Entrando em Forma, de combate a obesidade por meio de reeducação alimentar e exercícios físicos. Os policiais também têm sido estimulados participar de eventos, promovidos pela corporação, como caminhadas ecológicas, passeios ciclísticos, torneios de futebol e ginástica laboral.


Publicado em 14/8/2009.

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