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12/07/2011

Estudo avalia cuidado a gestantes hipertensivas

Renata Moehlecke


No Brasil, as síndromes hipertensivas constituem uma das principais causas de morte de gestantes. Apesar da alta cobertura de assistência pré-natal, a mortalidade decorrente da enfermidade continua elevada. Cientes dessa dificuldade, pesquisadores da Escola Nacional da Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) resolveram avaliar fatores associados ao manejo adequado do pré-natal em hipertensas. Para o estudo, foram consultadas 1.974 grávidas (9,6% hipertensas) usuárias da rede SUS do Rio de Janeiro. A adequação do pré-natal foi de 79%, mas apenas 27% das hipertensas tiveram manejo da pressão arterial considerado ideal.


 Os resultados também apontaram que, entre as hipertensas, a proporção de gestantes com mais de 34 anos foi três vezes maior do que as de baixo risco e a frequência de multíparas entre elas foi o dobro da encontrada no segundo grupo

Os resultados também apontaram que, entre as hipertensas, a proporção de gestantes com mais de 34 anos foi três vezes maior do que as de baixo risco e a frequência de multíparas entre elas foi o dobro da encontrada no segundo grupo


“Verificou-se que a chance de ser submetida a um manejo adequado da hipertensão arterial no pré-natal foi 2,4 vezes maior para aquelas com idade igual ou superior a 35 anos, quando comparadas àquelas com idade entre 20 e 34 anos”, destacam os pesquisadores, em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Também foi constatado que gestantes com história de natimortalidade e/ou neomortalidade tiveram chances quase quatro vezes maior de serem submetidas a manejo adequado da hipertensão arterial no pré-natal em comparação com as que não tinham esses passados obstétricos”.


Os resultados também apontaram que, entre as hipertensas, a proporção de gestantes com mais de 34 anos foi três vezes maior do que as de baixo risco e a frequência de multíparas entre elas foi o dobro da encontrada no segundo grupo. Além disso, 23% das hipertensas foram classificadas como crônicas.  Já a frequência de obesidade foi quase quatro vezes maior entre as hipertensas. “A necessidade de repouso foi referida por 66% das gestantes hipertensas e os cuidados com a alimentação, por 76%”, afirmam os estudiosos. “Entre as que foram medicadas para tratamento da enfermidade, 42% foram encaminhadas para um clínico, cardiologista ou outro médico e 37% para um nutricionista”.


Os dados ainda indicaram que, no que se trata de avaliações no pré-natal, a anotação do fundo uterino foi menor nas gestantes hipertensas. “Sabe-se que a verificação do fundo uterino após a vigésima semana é um método importante no acompanhamento do crescimento fetal, e que as síndromes hipertensivas são causa importante de restrição de crescimento intrauterino”, explicam os pesquisadores. “O esperado era que este registro fosse encontrado na quase totalidade dos cartões nos dois grupos por ser rotina da consulta pré-natal, ou que houvesse predomínio de registro no grupo das hipertensas, porém encontrou-se justamente o contrário”. 


Eles acrescentam que, em decorrência de potenciais complicações fetais, as hipertensas tivessem realizado um maior número de ultrassonografias obstétricas, o que não aconteceu. “É possível que a quantidade semelhante entre os grupos, e até inferior em hipertensas, tenha se dado por falta de acesso ao exame, uma vez que este depende de equipamento de alto custo e profissional especializado”, comentam os estudiosos.  


No que se refere ao diálogo com as pacientes, embora a maioria dos profissionais de saúde tenha alertado sobre a elevada pressão arterial, quase um terço das gestantes não obteve esclarecimentos sobre os riscos que a doença acarreta na gravidez. “Este dado revela a dificuldade dos profissionais de saúde em conversar com as pacientes, como, por exemplo, orientações sobre planejamento reprodutivo para mulheres hipertensas”, elucidam os pesquisadores. “Esta deveria ser uma preocupação do pré-natalista, sem a qual a mulher provavelmente voltará a engravidar e ter uma nova gestação de risco”.


Os estudiosos também ressaltaram que a medicação para o tratamento da hipertensão arterial não estava disponível para um terço das pacientes nos serviços de saúde e cerca de 10% das gestantes não foram pegar os remédios. “A dificuldade de adquirir o medicamento certamente traz grande prejuízo para as gestantes e seus conceptos”, afirmam. “Os serviços de pré-natal devem garantir o fornecimento continuado destas medicações para gestantes hipertensivas, a fim de que haja melhoria do cuidado pré-natal e avanço na meta de redução das taxas de mortalidade materna”.


Publicado em 7/7/2011.

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