Início do conteúdo

06/09/2007

Estudo avalia e visa difundir modelo de humanização da assistência ao parto

Danielle Neiva


Entender e difundir a idéia da humanização da assistência ao parto na rotina dos profissionais de saúde e pacientes é o intuito da pesquisa Humanização da assistência ao parto: conceitos, lógicas e práticas no cotidiano de uma maternidade pública, do médico obstetra Marcos Dias, doutor em saúde da criança e da mulher pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF), uma unidade da Fiocruz. Por meio de uma pesquisa etnográfica e entrevistas, o médico estudou no contexto do atendimento às gestantes o relacionamento delas com os profissionais de saúde e analisou as representações que são construídas sobre a questão da humanização da assistência ao parto e os seus limites no atendimento público.


 Segundo a pesquisa, feita em uma maternidade pública do Rio, a possibilidade de ter um acompanhante é a única inovação que as mulheres conhecem dentre os cuidados oferecidos (Foto: Peter Ilicciev)

 Segundo a pesquisa, feita em uma maternidade pública do Rio, a possibilidade de ter um acompanhante é a única inovação que as mulheres conhecem dentre os cuidados oferecidos (Foto: Peter Ilicciev)


Com o objetivo de identificar se as gestantes têm informação sobre o que é e o que envolve o parto humanizado, o médico coletou relatos sobre o atendimento na gestação presente e os comparou com as anteriores, dividindo as entrevistas em dois momentos, um entre o oitavo e nono mês de gestação, e o outro, 30 dias após o nascimento do bebê. Foram feitas entrevistas com 21 gestantes internadas em uma maternidade pública da rede própria da Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 20 e 30 anos, com pelo menos uma experiência anterior de parto normal e sem complicações, além de entrevistas com 19 profissionais de saúde, entre eles médicos obstetras, enfermeiros obstétricos e pediatras que atuam na maternidade analisada.


Entre as conclusões do estudo, Dias destaca a insegurança da gestante em relação à não garantia de vaga para a realização do parto, a possibilidade de peregrinação e o não conhecimento dos conceitos da humanização da assistência ao parto. De acordo com Dias, a possibilidade de ter um acompanhante é a única inovação que as mulheres conhecem dentre os cuidados oferecidos. Entre os profissionais de saúde, o estudo mostra que a humanização da assistência ao parto ainda não está completamente incorporada na rotina e que alguns profissionais não encaram a humanização como uma política que engloba uma série de ações que constituem o direito da mulher.


Segundo o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) do Ministério da Saúde, a humanização compreende, entre outros, dois aspectos fundamentais: respeito à convicção de que é dever das unidades de saúde receber com dignidade a mulher, seus familiares e o recém-nascido, e a adoção de medidas e procedimentos sabidamente benéficos para o acompanhamento do parto e do nascimento. Para o pesquisador, todos estes fundamentos requerem atitude ética e solidária por parte dos profissionais de saúde, ambiente acolhedor e a adoção de condutas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto à mulher.


Para Dias, a humanização da assistência ao parto evita práticas intervencionistas desnecessárias, com ações voltadas à redução de cesarianas e incentivo aos partos normais humanizados. “Ações simples, como áreas livres para a gestante circular, chuveiro com água aquecida para o banho, espaços individuais para preservar a intimidade, leitos confortáveis e o estabelecimento de uma boa relação médico-paciente são algumas maneiras de refletir a humanização e criar um ambiente tranqüilo e confiante”, explica Dias, que acrescenta que a boa relação entre os próprios profissionais de saúde faz parte do modelo de humanização da assistência. Segundo o pesquisador, o grande desafio é não permitir que a rotina de trabalho prejudique a sensibilidade do obstetra e o seu poder de decisão sobre o tipo de parto, principalmente se a gestante for de baixo risco.

Voltar ao topo Voltar