03/07/2009
Renata Moehlecke
Há 27 anos, um estudo sobre esquistossomose no distrito de Ravena, no município de Sabará (MG), detectou uma prevalência de 36,7% da doença. Na época, a implantação do sistema de água tratada e o tratamento específico da população infectada foram as principais medidas tomadas para a redução desse índice. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas e do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas) resolveram avaliar, nos dias de hoje, a prevalência da esquistossomose e a presença de hospedeiros intermediários do Schistossoma mansoni, parasita causador da doença, na localidade. A investigação concluiu que as respostas às intervenções foram positivas, sendo a prevalência agora de 2,5%. Porém, a pesquisa apontou que o distrito ainda é uma área de risco em potencial por apresentar fatores favoráveis à manutenção da doença.
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Os pesquisadores alertam que a maior parte das pessoas ainda acha que a infecção pelo S. mansoni ocorre quando se permanece por muito tempo dentro dos rios ou lagoas e acredita que o simples fato de molhar os pés não constitui risco |
“Os programas de controle da esquistossomose no Brasil têm contribuído para a redução da prevalência e das formas graves da doença, mas não têm impedido que novos focos apareçam, especialmente nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos”, afirmam os estudiosos em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Para que os níveis continuem baixos, será necessário investir em saneamento, educação em saúde além de tratamento dos infectados. Apesar do alto índice de casas com água potável, a infraestrutura em alguns locais de Ravena ainda é bastante precária”.
Para a pesquisa, cerca de 1,6 mil pessoas responderam a questionários e realizaram exames de fezes. Dentre as residências analisadas, 97% dispunham de água tratada, 90% de esgoto canalizado sem tratamento, sendo os dejetos lançados in natura nos córregos, e 84% apresentavam instalação sanitária em seus interiores. Segundo os pesquisadores não houve notificação de nenhum caso grave da doença. Além disso, não houve associação da infecção por S. mansoni com gênero, mas indivíduos na faixa etária de 15 a 29 anos mostraram tendências maiores de contrair a doença. As atividades que mostraram relação significativa com a esquistossomose foram: nadar, atravessar córrego e trabalhar na lavoura.
Em relação à análise dos hospedeiros intermediários do parasita, os pesquisadores coletaram aproximadamente 5.630 moluscos, das espécies Biomphalaria tenagophila, Biomphalaria glabrata e Biomphalaria straminea, em 12 córregos em que as pessoas relataram ter contato com a água. Apenas seis exemplares de B. glabrata, originários de um dos córregos analisados, encontravam-se infectados com S. mansoni. Os pesquisadores ainda introduziram sentinelas biológicas, ou seja, 300 camundongos em cinco pontos de contato com a água em coleções hídricas citadas pela população no questionário. Não foi observada a infecção pelo parasita em nenhum desses animais. “A dificuldade de infectar camundongos e de encontrar caramujos infectados pode estar relacionada à baixa carga parasitária da população que foi em média de 21 ovos por grama de fezes”, comentam os estudiosos.
Os pesquisadores ainda alertam que a maior parte das pessoas ainda acha que a infecção pelo S. mansoni ocorre quando se permanece por um tempo longo demais dentro dos rios ou lagoas e acredita que o simples fato de molhar os pés não constitui nenhum risco. “Campanhas informativas nas escolas, igrejas e centros comunitários, com a ajuda do Programa de Saúde da Família podem ser eficientes para mudar essa prática, contribuindo, assim, para a redução do número de indivíduos infectados”, concluem.
Publicado em 2/7/2009.