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02/09/2010

Estudo avalia prevalência de sintomas depressivos em presidiárias no RS

Renata Moehlecke


No Brasil, nos últimos sete anos, a população carcerária duplicou, enquanto somente no Rio Grande do Sul a população carcerária feminina praticamente triplicou. Atentos ao fato de que prisioneiros possuem taxas mais elevadas de transtornos mentais, que variam entre 37% a 89%, pesquisadores da Universidade Católica do Rio Grande do Sul resolveram avaliar a prevalência de sintomas depressivos e de desesperança, além do uso e dependência de drogas, entre 287 mulheres encarceradas em Porto Alegre.


 A pesquisa também apontou que boa parte das prisioneiras era solteira, com média de idade de 33 anos, de baixo status socioeconômico e possuíam até o ensino fundamental incompleto

A pesquisa também apontou que boa parte das prisioneiras era solteira, com média de idade de 33 anos, de baixo status socioeconômico e possuíam até o ensino fundamental incompleto


“Constatou-se que as detentas que apresentam ideação suicida têm 2,8 mais chances de apresentar sintomologia depressiva grave do que as que não têm tal ideação. Quem tem história de tratamento psiquiátrico possui aproximadamente uma chance a mais de ter sintomologia depressiva grave, em comparação com as mulheres que não fizeram tratamento psiquiátrico”, explicam os pesquisadores em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Ainda, quem está encarcerada há mais de 25 meses apresenta 6,88 menos chances de desenvolver a sintomologia depressiva do que quem está até seis meses presa. O maior tempo de reclusão torna-se um fator de proteção”.


A amostra analisada pelos pesquisadores era constituída por 51,2% de presas provisórias (que aguardam decisão da Justiça a respeito do processo criminal a ser respondido) e 48,8% de presas condenadas. Com relação aos delitos praticados, a maioria responde por tráfico de drogas (62,4%), seguido de roubo (12,5%), homicídio (11,1%) e furto (8,7%). A pesquisa também apontou que boa parte das prisioneiras era solteira, com média de idade de 33 anos, de baixo status socioeconômico, possuíam até o ensino fundamental incompleto, tinham no mínimo dois filhos e exercido atividades informais.


Os resultados também indicaram que a sintomologia de desesperança, ou seja, a prevalência da extensão das expectativas negativas a respeito do futuro imediato e remoto é extremamente menor. “Apenas 5,9% apresentam uma visão negativa para o futuro. A ausência de sintomas de desesperança, por meio de perspectiva positiva frente ao futuro, pode ser vista como um fator de esperança quanto ao futuro e proteção para permanecer certo tempo na prisão”, destacam os pesquisadores.


“A prevalência de uso de drogas e álcool ao longo da vida é elevada (54,4% e 53,7%), representada pela metade da amostra de mulheres encarceradas. Das participantes, 15,7% desenvolveram dependência de álcool e 38,3% dependem de outras drogas. As mais utilizadas são: maconha (47%), cocaína (38,9%) e crack (27,2%)”, afirmam os pesquisadores. Eles acrescentam que os sintomas depressivos e o envolvimento com drogas não são desencadeados pelo aprisionamento, mas sim durante a vida em liberdade.


Outro dado considerado importante pelos pesquisadores é que as participantes que trabalham na prisão apresentam menores sintomas depressivos, sendo que os dados são significativos. “Das encarceradas que trabalham, 91,9% afirmaram sentirem-se satisfeitas com sua atividade laborativa, parecendo ser um fator de proteção para a minimização de sintomas depressivos durante a execução da pena”, elucidam os estudiosos. “Porém, quem estuda não teve diferença significativa nas médias”.


Segundo os pesquisadores, esses achados indicam a necessidade de uma atenção multidisciplinar para as mulheres presas, sempre integrando diversas modalidades de tratamento, seja psicológico, psiquiátrico ou terapia ocupacional. “Seria útil, ainda, um maior investimento no sistema prisional, no sentido de ampliar e qualificar os serviços de saúde mental, com o intuito de fornecer a essa parcela da população um tratamento adequado, frente a todas as características apresentadas neste estudo”, concluem os estudiosos no artigo.


Publicado em 30/8/2010.

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