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06/02/2007

Estudo chama a atenção para a peregrinação de grávidas por hospitais


A peregrinação de adolescentes grávidas pelos hospitais públicos não é novidade. É o que revela um estudo em conjunto das pesquisadoras do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) Silvana Granado e Maria do Carmo Leal - esta também vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz. “As adolescentes são as que mais peregrinam. Aliás, as que mais peregrinam são aquelas que mais precisariam ser assistidas, geralmente as hipertensas, diabéticas ou adolescentes com bebês prematuros”, revela Silvana, lembrando o caso da jovem que faleceu esta semana, após passar por quatro maternidades entre Duque de Caxias e o Rio de Janeiro.


 De acordo com o estudo publicado nos <EM>Cadernos de Saúde Pública</EM>, 1/3 das adolescentes não conseguiram ser atendidas na primeira maternidade que procuraram (Foto: Ana Limp)

De acordo com o estudo publicado nos Cadernos de Saúde Pública, 1/3 das adolescentes não conseguiram ser atendidas na primeira maternidade que procuraram (Foto: Ana Limp)


O estudo publicado em edição especial dos Cadernos de Saúde Pública, com o tema Saúde perinatal no município do Rio de Janeiro, alertava para o problema ao revelar que mais de 1/3 das adolescentes não conseguiram ser atendidas na primeira maternidade que procuraram, ao contrario das mulheres com 35 anos ou mais. “Isso tem a ver com a classe social e a escolaridade. Geralmente as mulheres com mais idade têm melhores condições que as adolescentes, o que leva esse último grupo a um quadro de peregrinação pelas maternidades”, destaca Silvana. Outro dado alarmante é que 30% das mulheres negras peregrinam para fazer seus partos, enquanto entre as mulheres brancas o número cai para 18%.


Mas o que leva as mulheres a essa peregrinação? Silvana acredita que o fato de a pessoa ser pobre, adolescente e ter complicações durante a gravidez faz com que peregrine mais. “Muitas vezes o próprio serviço de saúde acaba encaminhando essa adolescente para outra unidade, talvez por medo de atender ou por falta de um profissional especializado”. Esse profissional especializado ao qual Silvana se refere é um médico especialista em adolescentes. “Tem que haver um investimento maior em formar médicos para adolescentes. Elas acabam perdidas entre o pediatra ou o médico para adulto. Um especialista vai conversar sobre como evitar gravidez precoce, sobre as responsabilidades de ser mãe, e sobre outros assuntos que o pediatra não está informado”.


Sobre a não realização de exames pré-natal, as pesquisadoras perceberam que as adolescentes muitas vezes hesitam em contar sobre a gravidez ou demoram a descobri-la. Alguns serviços de saúde, no entanto, já contam com assistência especializada para esse grupo. “Esses serviços atendem mais as adolescentes, que se sentem menos constrangidas de fazerem exames em locais desse tipo. Nos hospitais públicos, essas adolescentes acabam ganhando sermão por estarem grávidas aos 14 ou 15 anos e isso as intimida”, explica Silvana.


Sobre a adolescente que faleceu no Rio de Janeiro após passar por uma unidade de saúde em Duque de Caxias, onde mora, Silva esclarece: “Em nossas pesquisas constatamos também que as pessoas de fora chegam com mais complicações daquelas que vivem no próprio município”. Segundo a pesquisadora, para evitar esse tipo de problema o governo estadual já estuda uma melhor regulação de leitos hospitalares para todo o estado: “Isso é uma coisa que já existe em diversos estados, mas no Rio de Janeiro ainda não. Ou seja, a mulher está grávida e quando chega a hora de ter o filho ela não sabe para onde vai. Tem que buscar com as próprias pernas o lugar onde terá seu filho”.


Campanhas de prevenção de gravidez organizadas pelo Governo Federal são fundamentais nesse caso. Silvana é a favor do planejamento familiar, isso porque, durante as pesquisas, viu meninas de 13 ou 15 anos que iam ao posto de saúde fazer teste de gravidez todo mês. “Esse tipo de caso tem que ser acompanhada por psicólogos, porque alguma coisa está fora do normal”. O ensino também é importante, pois a escola costuma ser o primeiro local de busca de informações para as meninas que não vão aos postos. “Infelizmente, o papel da escola ainda é ínfimo, pois os professores não costumam estar preparados para falar disso ou ainda não sabem em que idade falar com as adolescentes”, conclui.


O caso da jovem falecida no Rio


Uma adolescente de 17 anos, grávida de nove meses, morreu na segunda-feira (29/01) após procurar atendimento em quatro hospitais públicos de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e do Rio de Janeiro. Após enfrentar uma jornada de 13 horas sentindo fortes dores, a jovem foi atendida no Hospital do Andaraí, às 17h, e morreu, junto com o filho, na madrugada de segunda para terça-feira, vítima de parada cardiorrespitarória.


O drama da adolescente começou na madrugada de segunda-feira, quando entrou em trabalho de parto e começou a sentir falta de ar. Acordada pela jovem, a avó de 84 anos telefonou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e não foi atendida. Em seguida, partiram para o Hospital Maternidade de Xerém. No local, foi alegado que não havia anestesista e a jovem seguiu para o Hospital Duque de Caxias, onde preferiu não ficar, devido às más condições de atendimento.


Horas mais tarde, a jovem e sua avó resolveram seguir para o hospital Pro-Matre, no Centro do Rio. Lá, segundo parentes, informaram que ela não estava pronta para o trabalho de parto e, a partir disso, seguiu para o Hospital do Andaraí, na Zona Norte do Rio, onde apresentou problemas respiratórios e morreu, por volta de 1h da madrugada.


Fonte: Informe Ensp


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