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20/07/2007

Estudo correlaciona presença de bactéria no sangue à criação de gatos

Renata Fontoura


Um estudo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz investigou a infecção pela bactéria Bartonella sp. em pacientes soropositivos para HIV atendidos ambulatorialmente em um hospital do Rio de Janeiro. O resultado da pesquisa mostrou um índice significativo de reatividade para o microorganismo e apontou uma maior prevalência da infecção entre pacientes que criam gatos em casa. A síndrome da arranhadura do gato, doença não letal, e a febre das trincheiras, que vitimou milhares de soldados durante a 1ª Guerra Mundial, são as mais conhecidas doenças causadas pela Bartonella sp., bactéria da ordem Rickettsiales. “Foram testados 125 indivíduos e 40% deles apresentaram reatividade para Bartonella sp., mostrando que a população está exposta ao microorganismo”, revela a médica Cristiane Lamas, que realizou a pesquisa durante a primeira etapa de seu projeto de doutorado, desenvolvido no Laboratório de Referência em Hantaviroses e Rickettsioses do IOC sob orientação da pesquisadora Elba Lemos.


 Do grupo acompanhado pelo estudo, os criadores de gatos têm aproximadamente três vezes mais probabilidade de apresentar sorologia positiva para <EM>Bartonella sp. </EM>(Foto: Peter Ilicciev)

Do grupo acompanhado pelo estudo, os criadores de gatos têm aproximadamente três vezes mais probabilidade de apresentar sorologia positiva para Bartonella sp. (Foto: Peter Ilicciev)


“Nosso objetivo é reforçar a importância no Brasil de outras rickettsioses como a Bartonella sp., e não só da Rickettsia rickettsii, agente etiológico causador da febre maculosa. É importante ressaltar que, além das doenças mais conhecidas, existem na literatura registros de casos de endocardite, ou seja, inflamação da válvula cardíaca, causados pela Bartonella sp.”, complementa Cristiane, estudante do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC. A pesquisa foi premiada como o melhor trabalho na categoria doenças transmitidas por bactérias no 43º Congresso Brasileiro de Medicina Tropical, em março.


Segundo a médica, a opção de fazer a pesquisa em um hospital no bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, não foi casual. “Estas zoonoses são transmitidas ao homem pela arranhadura, lambedura e mordedura do gato. Suspeita-se que também a pulga possa transmitir a bactéria. Por isso, uma área semi-rural como a localidade escolhida para o estudo tem características que favorecem doenças transmitidas entre animais e homens, já que seus moradores estão mais expostos a picadas de insetos como carrapatos, piolhos e pulgas”, avalia.


Portadores de HIV assintomáticos, todos os pacientes estudados foram caracterizados de acordo com variáveis como nível de imunidade e faixa etária para que o resultado não sofresse distorções. “Todos os pacientes analisados, metade homens e metade mulheres, eram jovens com o diagnóstico recente de HIV, não eram usuários de drogas injetáveis e tinham nível de renda baixo. Cerca de 80% tinham idades entre 20 e 45 anos. Cerca de 90% tinham contato com cão, 40% com roedor e 30% com gato”, apresenta Cristiane. “Concluímos que a soropositividade da bactéria Bartonella sp. não estava correlacionada ao sexo do paciente, ao nível de células de CD4 – células de defesa relacionadas à imunidade –, à exposição a carrapatos, pulga ou piolho ou ao contato eventual com gatos e cães. Porém, entre os criadores de gatos, cerca de 70% apresentaram sorologia positiva contra 15% dos que não criavam gatos. Dando tratamento estatístico a estes dados, podemos dizer que, na amostra estudada, os criadores de gatos possuem aproximadamente três vezes mais probabilidade de ter sorologia positiva para Bartonella sp.”, resume.


Os resultados direcionaram os próximos passos da pesquisa. “Fizemos inicialmente uma investigação de soroprevalência, mas agora o trabalho está sendo estendido com a participação das pesquisadoras Alexsandra Favacho e Tatiana Rozental, responsáveis pela análise molecular. Esta etapa vai permitir a identificação direta do agente etiológico não só nos humanos, mas também nos gatos e nos artrópodes analisados”, conclui Cristiane.

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