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19/10/2007

Estudo indica motivos pelos quais usuários do SUS optaram pela homeopatia

André Lima


A possibilidade de uso de medicamentos naturais, o tempo longo da consulta e a escuta atenta do paciente estão entre os motivos principais que fazem usuários do SUS procurarem tratamento homeopático. Estas foram algumas das conclusões de um estudo realizado com pacientes de um hospital público de Salvador publicado recentemente nos Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. Os pesquisadores Dalva de Andrade Monteiro e Jorge Alberto Bernstein Iriart, do Instituto de Saúde Pública Coletiva da Universidade Federal da Bahia, assinam o trabalho.


 Prateleiras com medicamentos homeopáticos em mercado de Hong Kong ( Foto: Randy Faris/Corbis)

Prateleiras com medicamentos homeopáticos em mercado de Hong Kong ( Foto: Randy Faris/Corbis)


De acordo com o trabalho, o insucesso do tratamento alopático realizado anteriormente e a busca por uma abordagem que prioriza o entendimento integral dos fenômenos corporais também estão entre as razões que levam usuários do SUS a buscarem a homeopatia. Segundo uma das pacientes ouvidas na pesquisa, "o medicamento da homeopatia pode demorar um pouquinho mais que o analgésico, mas ele trata como um todo. Tomo um medicamento alopático para a dor de cabeça. Só a dor de cabeça vai passar, mas acontece que a dor que eu sinto no pé não vai passar. Com o tratamento homeopático que estou fazendo tomo um remédio para nervoso, mas ele trata o problema do meu rim, do meu útero, do meu ovário e assim sucessivamente". 


Outro aspecto que aparece no discurso dos entrevistados que justifica a opção pela homeopatia é que o tratamento é visto como natural e não prejudicial à saúde. Esta visão, segundo os pesquisadores, aparece em oposição à representação dos medicamentos alopáticos como artificiais e passíveis de causarem efeitos colaterais. "Tomo Puran de 100 e Captopril para tireóide,coração e pressão alta. Para evitar ficar tomando comprimido, porque a gente melhora de uma coisa e piora de outra, uso a homeopatia que é mais natural, até meu estomago se sente melhor", contou Lídia, de 46 anos, também ouvida pelos pesquisadores.


A atenção dada pelos médicos e o tempo de duração das consultas também foram indicados como razões para a procura pelo tratamento homeopático. "Fui em vários médicos químicos que, infelizmente, quando eu sentava, o médico já estava com a receita praticamente pronta, nem sequer me ouvia. Ao contrario da homeopatia, que lhe ouve com paciência detalhadamente", explicou Narcisa, de 66anos.


Participaram do estudo 112 pessoas, em sua maioria mulheres (79%), com média de idade de 44 anos. A maior parte era de nascidos na capital baiana (55%), todos residentes em bairros populares. Entre os entrevistados, 45% não terminaram o ensino fundamental e trabalhavam em profissões que exigem pouca qualificação e 65% tinham renda familiar menor a dois salários-mínimos.


Para os pesquisadores, os resultados do trabalho indicam que há um potencial não explorado da contribuição das terapias alternativas como a homeopatia no SUS. A homeopatia foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como especialidade médica em 1980. Estudo realizado em 1998 pela Associação Médica Homeopática Brasileira indica que naquele ano havia médicos homeopatas atendendo em apenas 20 municípios e que em algumas cidades a oferta de consultas no campo da homeopatia eram uma iniciativa pessoal dos médicos.

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