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24/03/2011

Estudo indica que capital social pode auxiliar a aderência a medicamentos por idosos

Renata Moehlecke


Apesar dos altos custos que a prescrição de remédios impõe aos idosos, somente esse fator não explica a não aderência ao tratamento indicado, já que muitos pacientes usam a medicação independentemente dos custos e outros abrem mão mesmo quando podem pagar. A fim de investigar quais podem ser as causas para essa subutilização de medicamentos, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Fiocruz Minas consultaram 1.134 idosos, maiores de 60 anos, moradores de Belo Horizonte.


 Os idosos são, possivelmente, o grupo etário mais medicalizado na sociedade, devido ao aumento de prevalência de doenças crônicas com a idade (Foto: Peter Ilicciev) 

 Os idosos são, possivelmente, o grupo etário mais medicalizado na sociedade, devido ao aumento de prevalência de doenças crônicas com a idade (Foto: Peter Ilicciev) 


“Pacientes que reduzem o custo de medicamentos tomando-os esporadicamente, usando doses menores do que as prescritas ou adiando a reposição podem não alcançar os benefícios completos proporcionados pelo tratamento”, afirmam os pesquisadores, em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Aliás, esse sistema de não aderência tem sido associado a consequências sérias, incluindo redução de informações sobre seu estado de saúde, aumento de admissões em hospitais e mortes”.


Os resultados apontaram que a aderência aos remédios foi maior para indivíduos com maior coesão ao bairro de moradia e com cobertura pela medicina suplementar. Por outro lado, a prevalência de não aderência foi maior para idosos com pior auto percepção de saúde, com múltiplas condições crônicas e para aqueles que raramente ou nunca obtêm do profissional de saúde esclarecimentos sobre sua saúde ou tratamento.


Segundo os pesquisadores, um dos componentes-chave para a compreensão da subutilização de medicamentos é a percepção de capital social pelos idosos, ou seja, que eles possuem uma estrutura social baseada em reciprocidade ou obrigações mútuas facilitadoras de ações de benefício conjunto, a qual pode mudar sua noção de saúde, acesso a cuidados e qualidade de vida. Esse capital social poderia, dessa forma, determinar a aderência a medicamentos a partir de sua influência em comportamentos relacionados à saúde, pela transmissão de informações sobre saúde, sobre o acesso a serviços de cuidados e pelo controle social de atitudes desviantes.


“O mecanismo que liga o capital social à aderência ainda não foi elucidado, mas é possível que uma grande quantidade do primeiro possa agir como um impulso contra injustiças na saúde ou para ajudar as pessoas a acessar serviços e recursos, como medicamentos. Particularmente, idosos com uma maior percepção de pertencimento a uma comunidade provavelmente devem ter um comportamento mais saudável, como a aderência a prescrições médicas”, destacam os pesquisadores. “Acreditamos que políticas de saúde podem utilizar essa informação a fim de estabelecer iniciativas de intensificar do envolvimento entre idosos e suas comunidades para estimular o uso da medicação prescrita, independente das dificuldades de custo”.


Publicado em 23/3/2011.

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