Agência Fiocruz de Notícias

Comum no prato de brasileiros ricos e pobres, o tradicional feijão com arroz pode reduzir o risco de câncer oral. Esta é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores de São Paulo e publicado na edição de março da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. Sem colesterol e com baixo teor de gorduras saturadas, os dois alimentos fornecem uma boa combinação de proteínas, fibras e açúcares. Contudo, o mecanismo que explicaria a proteção contra o câncer oral ainda não foi esclarecido.

No ranking dos cânceres mais comuns no Brasil, o oral ocupa a sétima posição, respondendo por quase 3% de todos os tumores malignos. São Paulo é a cidade da América Latina com maior incidência de câncer oral, que atinge principalmente homens, mas está avançando entre as mulheres. O tabaco e o álcool são os fatores de risco mais importantes para essa doença, que também pode estar relacionada à alimentação. Investigar a associação entre o câncer oral e a dieta foi o objetivo da pesquisa coordenada pela nutricionista Dirce Marchioni, da Universidade de São Paulo (USP).

Foram usadas informações do Estudo Internacional de Fatores Ambientais, Vírus e Câncer da Cavidade Oral e da Laringe, feito pela International Agency for Research on Cancer em cinco cidades brasileiras e duas de outros países latino-americanos. Mas, no artigo, foram analisados apenas dados dos 835 participantes de São Paulo: 366 casos (pacientes com câncer oral ou de faringe) e 469 controles (indivíduos sem história nem suspeita da doença). Ambos os grupos responderam a um questionário sobre características sócio-demográficas, hábitos alimentares e consumo de cigarros e bebidas alcoólicas.

Como já era de se esperar, o tabagismo e a ingestão de álcool foram mais freqüentes entre os casos do que entre os controles. Contudo, independentemente dos hábitos de fumar e beber, os casos, quando comparados aos controles, relataram consumo menor de arroz, massas, feijão, vegetais crus e saladas.

Os benefícios para a saúde do feijão, em particular, e das leguminosas, de modo geral, têm sido reconhecidos na literatura científica. “Seu consumo vem sendo recomendado por organizações de saúde, pois aparentemente colabora para a redução de riscos das doenças crônicas não transmissíveis”, diz o artigo. Também já existe certo consenso quanto às vantagens de uma dieta rica em vegetais.

Outros achados da pesquisa, no entanto, são controversos, como, por exemplo, o fato de que a ingestão de mais de 11 porções de leite ou laticínios e o consumo aumentado de ovos e batatas estariam associados a um maior risco de câncer oral. Nesses casos, os pesquisadores atribuem o risco maior da doença não aos alimentos em si, mas à falta de variedade na dieta e à conseqüente carência de determinados nutrientes.