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29/04/2011

Estudo investiga associação entre prática de aborto e coerção sexual entre jovens

Renata Moehlecke


Em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) investigaram a relação entre a prática do aborto e a declaração de coerção sexual. Para a pesquisa, foram entrevistadas 870 mulheres, de 18 a 24 anos, que reportaram já ter tido pelo menos uma gravidez e moradoras das cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre. A opção pelas três cidades foi realizada com intuito de apreender contextos socioculturais e econômicos bastante distintos. Os resultados apontaram que a declaração de coerção sexual foi superior entre as mulheres que relataram aborto quando em comparação às que não abortaram, sendo o dobro para que declararam que a coerção ocorreu apenas uma vez.


 Outro dado destacado no artigo foi o fato de que as jovens que abortaram apresentaram um número maior de parceiros sexuais

Outro dado destacado no artigo foi o fato de que as jovens que abortaram apresentaram um número maior de parceiros sexuais


Segundo os pesquisadores, a coerção sexual não pressupõe necessariamente práticas sexuais contra a vontade, mas comtempla também um conjunto de atitudes de violência simbólica como constrangimentos como pressão verbal, social e chantagens. “As jovens com relato de coerção sexual e que declararam ter abortado apresentavam maior percentual de mães cuja escolaridade era alta (29%), quando comparadas às jovens que afirmaram não ter realizado aborto (21,8%)”, afirmam os estudiosos. “Entre as entrevistadas sem histórico de abortamento, 31,7% declararam que a coerção foi forçada pela violência física ou ameaça de violência, mesma situação de 43,3% das jovens com histórico de abortamento”.


Além disso, os dados indicaram que em grande parcela das situações de coerção, o agressor era conhecido da vítima, sendo ele parceiro ou ex-parceiro íntimo. “Embora seja pequena a parcela de jovens que relatou coerção praticada por desconhecidos, foi bastante superior nas que relataram aborto (13,9%) em comparação com as que não relataram (1,2%)”, comentam os pesquisadores.


Sobre a revelação de violência, a maior parte das entrevistadas contou para alguém (58,1% sem e 73,1% com abortamento), sendo os amigos os confidentes mais frequentes. “As instituições policiais, de ensino e de saúde foram poucas vezes informadas desse tipo de violência, desconhecendo sua ocorrência e sua a magnitude”, elucidam os pesquisadores. “O silenciamento da coerção sexual às instituições públicas contribui, portanto, para aumentar a vulnerabilidade das jovens na medida em que impede, seja pela inexistência de confiança ou de políticas específicas, o acesso a recursos educativos, jurídicos e de saúde que poderiam auxiliar na ruptura das situações de coerção e na prevenção contra novas ocorrências”.


O estudo também revelou que as jovens que obtiveram as primeiras informações sobre relações sexuais com os pais, e que possivelmente têm uma relação mais próxima com eles, encontram-se menos vulneráveis à prática do aborto. Outro dado destacado foi o fato de que as jovens que abortaram apresentaram um número maior de parceiros sexuais. “Esse tipo de comportamento pode estar associado indiretamente ao risco de que ocorra uma gravidez não prevista, que seja findada em aborto, ou pode ainda atestar uma ruptura com os valores tradicionais de gênero e de reprodução, colocando o exercício da sexualidade como uma prerrogativa também feminina, bem como o controle – mesmo que via aborto – da reprodução”, explicam os pesquisadores.


Publicado em 27/4/2011.

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