Início do conteúdo

05/04/2010

Estudo investiga prevalência de agressão física e porte de armas em adolescentes

Renata Moehlecke


Em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas avaliaram comportamentos violentos entre 960 adolescentes, de 15 a 18 anos, moradores da cidade de Pelotas (RS). O estudo apontou altas prevalências para participação em brigas com agressão física (22,8%) e para porte de armas (9,6%) nos 12 meses anteriores a pesquisa. “A adolescência é o período da vida em que o jovem está exposto a vários comportamentos que podem comprometer sua saúde física e mental”, afirmam os pesquisadores no artigo. “O comportamento violento faz parte do processo de desenvolvimento humano, a agressão física é uma forma comum de violência interpessoal entre adolescentes de diferentes culturas”.


 Adolescentes são detidos por envolvimento em briga

Adolescentes são detidos por envolvimento em briga


Os dados da pesquisa indicaram que os meninos têm 3,6 vezes mais probabilidade de portar armas do que as meninas e 2,2 vezes maior probabilidade de se envolver em brigas com agressão física. “Esse resultado reflete normas sociais e culturais da nossa sociedade, na qual brigar é um comportamento classificado como aceitável entre meninos”, comentam os pesquisadores.


Além disso, indivíduos que trabalham de forma remunerada tiveram um aumento de 97% na probabilidade de portar armas quando comparados aos que não trabalham. Dos jovens entrevistados, 21% possuem trabalho remunerado. “É possível formular a hipótese de que o trabalho nessa idade está ligado à necessidade de sobrevivência e não à satisfação profissional”, explicam os estudiosos. “Esses jovens, provavelmente, estão buscando a satisfação de necessidades imediatas de sobrevivência e frustrados com os resultados obtidos”.


Estar estudando também elevou a probabilidade de portar armas em 74%. “Após o término do ensino fundamental, ou quando o aluno atinge a idade de 15 anos, o adolescente é considerado apto a trabalhar sem que isto seja classificado como exploração do trabalho infantil. Essa idade coincide com a época em que o aluno termina o ensino obrigatório”, elucidam os pesquisadores. “O abandono do estudo e a inserção precoce no mercado de trabalho contribuem para um afastamento do jovem do processo de socialização e inibição da impulsividade em direção a objetivos em médio prazo”.


A probabilidade de portar armar também se elevou com o uso de álcool em 77% e o uso de drogas ilícitas em 69%. Dentre os entrevistados, 43,2%, 16,4% e 8,6% revelaram ter consumido bebida alcoólica, tabaco e drogas ilícitas, respectivamente, no último vez de pesquisa. “Esses resultados são especialmente significativos, pois as variáveis investigadas foram o uso do álcool e de drogas ilícitas e não dependência”, destacam os estudiosos. “Assim, o uso esporádico de drogas mostrou-se potencialmente perigoso à saúde dos jovens”.


A presença de transtornos mentais comuns (que inclui sintomas não psicóticos como depressão e ansiedade) acrescentou 69% a probabilidade de portar armas. A prevalência desses transtornos encontrada nos jovens consultados foi de 28,9% e o sedentarismo foi identificado em 38,9% dos adolescentes. “Talvez os transtornos aqui identificados sejam decorrência da situação social vivida pelo jovem e não causa da mesma”, especulam os estudiosos.


Com relação à agressão física, o uso de drogas ilícitas e beber álcool elevou a probabilidade para o comportamento agressivo em 48% e 78%, respectivamente. No que se refere a transtornos mentais, 31% dos adolescentes tiveram maior probabilidade de participar de brigas. “Os indivíduos que portaram arma nos últimos 12 meses apresentaram 2,1 vezes maior probabilidade de ter participado de brigas com agressão física no mesmo período”, explicam os pesquisadores.


Os estudiosos ainda chamam atenção para o fato de que o porte de armas no Brasil ainda é um problema alarmante. “O estabelecimento de leis mais restritivas em relação à comercialização de armas de fogo e maior fiscalização, e o estabelecimento de campanhas educativas na escola e na sociedade parecem atitudes urgentes para combater o crescimento do uso de armas e suas consequências nefastas”, dizem os pesquisadores. “Além disso, é necessária a definição de estratégias articuladas a partir da escola, das organizações comunitárias e unidades básicas permitindo atingir aqueles que estão na escola e os excluídos do sistema de ensino”.


Publicado em 1º/4/2010.

Voltar ao topo Voltar