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03/03/2008

Estudo mapeará ciclo da leishmaniose em área do Exército em Pernambuco

Paula Lourenço


Um estudo do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, quer identificar quais são os animais que ajudam a manter o ciclo de transmissão da leishmaniose tegumentar americana (LTA) em um campo militar na Zona da Mata Norte do estado. A pesquisa, alvo de um projeto de doutorado, está sendo feita no Centro de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), situado no município de Paudalho, a 60 quilômetros do Recife. No local de 6,28 mil hectares de mata, são treinados, anualmente, mais de cinco mil militares do Exército oriundos de todo o Nordeste. De 2002 a 2007, 110 pessoas foram contaminadas pela LTA na área. O maior surto aconteceu em 2006, quando foram registrados 71 casos no CIMNC.


 Militares participam de treinamento no quartel de Paudalho onde será realizado o estudo da Fundação (Foto: Exército Brasileiro)

Militares participam de treinamento no quartel de Paudalho onde será realizado o estudo da Fundação (Foto: Exército Brasileiro)


Segundo o orientador do estudo, Sinval Brandão Filho, do Departamento de Imunologia do Centro, a hipótese levantada é que os reservatórios da doença sejam pequenos roedores, a exemplo do preá (Nectomys squamipes) e o rato-de-rabo-peludo (Bolomys lasiurus). Os animais já estão sendo capturados na área. Uma vez identificados os roedores, os responsáveis pelo CIMNC poderão tomar medidas profiláticas mais adequadas, reduzindo a contaminação dos militares. “Com a identificação dos reservatórios conheceremos o padrão de transmissão da leishmaniose naquela área”, pontuou a enfermeira do Hospital Geral do Recife (HGeR) Maria Sandra Andrade, que é major do Exército e a doutoranda responsável pelo trabalho.


Com a colaboração do Laboratório de Leishmaniose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, no Rio de Janeiro, foram feitos, paralelamente à captura, isolamentos do parasita que infectou os militares na área, em 2006. Os testes classificaram-no como o Leishmania braziliensis, causador da LTA. “O estudo tem importância epidemiológica, mas tem cunho absolutamente científico”, esclareceu Brandão Filho.


A tese de Maria Sandra será defendida em 2009. Apesar disso, um pôster sobre o trabalho recebeu menção honrosa no 20º Congresso Brasileiro de Parasitologia, promovido de 28 de outubro a 1º de novembro, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. A apresentação ficou entre os dez melhores trabalhos do evento e foi a única do CPqAM selecionada pela comissão julgadora do congresso.


 Centro de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (Foto: 7ª Região Militar)

Centro de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (Foto: 7ª Região Militar)


Em 2003, Maria Sandra concluiu o mestrado em saúde pública também no CPqAM. Na dissertação, ela verificou o período de maior ocorrência da doença na região e de maior incidência do flebotomíneo (de maio a agosto, devido às chuvas), além das áreas mais susceptíveis ao contágio. “Instruímos os militares que treinavam na região e os médicos que acompanhavam os grupos para evitarem as áreas de contágio, tanto que, nos anos em que fizemos essa ação educativa (2004 e 2005), não foram registrados casos na localidade”, pontuou a enfermeira. Seu interesse pelo estudo da leishmaniose surgiu depois de acompanhar os pacientes que chegavam ao HGeR para tratamento da doença.


O Exército já havia solicitado apoio do CPqAM para realizar um inquérito sobre a leishmaniose no CMINC. O levantamento foi feito em 1997, pelo pesquisador Sinval Brandão. Nele, foram identificadas as espécies de flebotomíneos e sugeridas medidas preventivas, como o uso de repelentes ou de roupas com maior proteção. Naquele ano, o Exército registrou um surto na área, com 56 casos.

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