Início do conteúdo

18/08/2008

Estudo não aponta relação direta entre usinas e casos de câncer em Angra

Informe Ensp


Um estudo coordenado pelo pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fiocruz, Arnaldo Lassance, avaliou a relação direta entre as possíveis emissões de material radioativo e os eventuais danos à saúde da população do município de Angra dos Reis e localidades vizinhas. A pesquisa comparou as taxas de mortalidade por câncer nos municípios de Angra dos Reis e Cabo Frio, este escolhido como referência por ter características socioeconômicas e demográficas semelhantes ao primeiro. Os resultados não apontaram a existência de alteração do perfil de mortalidade na área de influência das usinas nucleares em comparação com o município escolhido e o restante do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho será apresentado sob a forma de pôster no Congresso Mundial de Epidemiologia, em setembro, em Porto Alegre. O estudo também responde pela futura usina de Angra 3, que deverá entrar em operação em 2013.


 As usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, no litoral sul do Rio de Janeiro (Foto: Eletronuclear)

As usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, no litoral sul do Rio de Janeiro (Foto: Eletronuclear)


O trabalho foi desenvolvido a partir de uma demanda da Fundação Eletronuclear de Assistência Médica (Feam). De acordo com o coordenador da pesquisa, Arnaldo Lassance, um estudo com características semelhantes já havia sido elaborado por uma pesquisadora do Centro Biomédico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e apresentado na forma de dissertação de mestrado. “Esse estudo já havia sido elaborado, e nós fizemos uma atualização e um aprofundamento dos casos. Escolhemos a cidade de Cabo Frio e a comparamos com Angra pelas semelhanças da população e por se tratar de uma cidade de veraneio, com uma população flutuante. Aprofundamos e aprimoramos alguns dados sobre mortalidade de câncer e, especialmente, sobre má formação congênita, duas das doenças mais comuns quando falamos em exposição à radiação”, explicou.


A pesquisa não detectou nenhuma mudança significativa no perfil de mortalidade entre os dois municípios. De acordo com Lassance, não havia muita expectativa em encontrar qualquer alteração que relacionasse a exposição à doença, embora a imprensa noticiasse o contrário. “Alguns jornais publicaram matérias sobre o tema, mas, na verdade, não eram dados oficiais e não foram corretamente interpretados. Publicaram uma reportagem, há cerca de dois anos, afirmando que as pessoas daquela região tinham uma taxa de incidência de câncer acima do padrão normal dos demais municípios do estado. Houve um certo desconforto e preocupação dos gestores locais e da população”, revelou.


A partir daí, a Eletronuclear também se manifestou e, por intermédio da Feam, encomendou o estudo. “Como disse, não existe maior risco relativo para óbito por neoplasias e más formações congênitas na população de Angra dos Reis, Paraty e Rio Claro em relação a Cabo Frio. As pessoas, em princípio, não estão expostas, a não ser em casos de acidente. O nível de exposição à radiação nessa região equivale a qualquer outro lugar que não tenha nenhuma fonte natural ou artificial de radiação, o que se chama de radiação de fundo ou background”.


Estudo também responde por Angra 3


O pesquisador afirma que o estudo também responde pela usina nuclear Angra 3, que deve ficar pronta em 2013. “Em princípio, esse estudo já responde pela usina Angra 3. A nova usina é uma continuação de Angra 2 e as bases de funcionamento serão similares. Claro que se trata de uma outra usina, um outro empreendimento e problemas podem acontecer, mas esse tipo de usina, chamada de ocidental, têm uma segurança muito grande. Eles têm um controle e monitoramento interno bastante eficiente”, garantiu.


O trabalho sugeriu, ainda, o acompanhamento de alguns indicadores de saúde. Caso alguma doença viesse a ter alguma relação com a exposição à radiação, a equipe se comprometeu a acompanhar o indivíduo ao longo de cinco anos, o que serviria como efeito sentinela. “Caso pudesse ser estabelecida alguma relação com a exposição à radiação, nós faríamos o acompanhamento e rastreamento desses casos”.


Publicado em 14/08/2008.

Voltar ao topo Voltar