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27/05/2009

Estudo revela associações parasitárias registradas pela primeira vez no Brasil

Renata Moehlecke


Segunda maior ordem de mamíferos do mundo, com aproximadamente 1.075 espécies, os morcegos são importantes componentes do ecossistema tropical. Das 190 espécies que ocorrem na América do Sul, 74% são registradas no Brasil e os principais biomas em que se encontram são a bacia amazônica e a Mata Atlântica. Apesar do número expressivo de ocorrências, ainda existem poucos estudos no país sobre esses animais. Com o objetivo de preencher esta lacuna, a bióloga Juliana Almeida resolveu inventariar a fauna de ectoparasitos (insetos e ácaros) e suas associações no corpo de morcegos que ocorrem no Parque Estadual da Pedra Branca e em seu entorno, fragmento de Mata Atlântica localizado no Rio de Janeiro. Seu trabalho, apresentado como monografia de conclusão do curso de especialização em entomologia médica no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), apontou que existem, no local, 16 espécies de morcegos da subordem Microchiroptera, 13 espécies de ácaros parasitos desses animais e dez de moscas. Revelou, ainda, 15 associações parasitárias, registradas pela primeira vez no Brasil, entre as espécies encontradas.


 O habitat natural dos morcegos são cavernas, mas, com o desmatamento, tem sido frequente a vinda deles para áreas urbanas 

O habitat natural dos morcegos são cavernas, mas, com o desmatamento, tem sido frequente a vinda deles para áreas urbanas 


A pesquisa de Juliana faz parte de um projeto maior chamado Morcegos da Floresta do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que visa entender diversos aspectos sobre esses animais, como ecológicos, comportamentais e taxonômicos. “Não há estudos relacionados ao parasitismo em morcegos no estado do Rio de Janeiro e há também uma escassez no resto do país”, afirma a bióloga. “O estudo de ectoparasitos de morcegos oferece informações para entender alguns aspectos biológicos, sistemáticos e filogenéticos desses animais, bem como acrescenta novos dados à biodiversidade da área analisada”. Para o estudo, foram capturados 181 morcegos entre março de 2006 e junho de 2008. O método utilizado nesse trabalho de campo, realizado uma vez por mês, foi o de redes de neblina, sendo estas vistoriadas a cada 15 minutos. Todos os animais foram soltos no mesmo local de captura. “Apesar de cinco espécies de morcego não terem apresentado qualquer tipo de ectoparasitos, a grande quantidade e diversidade de parasitos encontrados nas outras espécies chamou atenção”, comenta Juliana.


A pesquisadora explica que é preciso combater a ideia de que o morcego constitui um perigo. “Há a necessidade de se criarem programas de educação ambiental em prol desses animais”, diz Juliana. “Eles não atacam a não ser que sejam provocados e nem são vilões; pelo contrário: têm um papel fundamental dentro do ecossistema”. Ela conta que os morcegos insetívoros podem comer 200 ou mais insetos por minuto de vôo. Os frugívoros espalham centenas de sementes contribuindo para a recomposição de florestas e matas, e uma variedade de plantas depende exclusivamente deles. Os carnívoros se alimentam, geralmente, de pequenos roedores que tanto trazem prejuízos para a agricultura. “Até os temidos morcegos hematófagos, que se alimentam de sangue, têm sua importância, pois são praticamente os responsáveis pela existência de vida nas cavernas. Além disso, na sua saliva, apresentam uma potente substância anticoagulante, que ajuda em pesquisas científicas na busca de novos medicamentos para doenças do coração”, destaca a pesquisadora.  


Juliana acrescenta que o habitat natural desses animais são cavernas em matas, mas que, com o desmatamento, tem sido frequente a vinda deles para áreas urbanas. “Existem três espécies hematófagas no mundo e elas ocorrem no Rio de Janeiro. O perigo da vinda desses animais para o ambiente urbano decorre do fato de que, se esses hematófagos estiverem infectados, eles podem transmitir a raiva, além do risco de sua mordida causar infecções secundárias”, alerta. “Para o meu trabalho, preocupei-me em conhecer a fauna ectoparasita que infesta alguns desses animais, o que é apenas o começo de uma longa jornada, já que temos uma grande fauna de morcegos no Parque. Se existe alguma associação entre os parasitos e as doenças que os morcegos podem causar, não posso afirmar, pois ainda não temos trabalhos comentando essa associação. Acredito que, antes de fazer esse tipo de estudo, é preciso conhecer muito bem os parasitos e sua ecologia, o que estou fazendo com o projeto que desenvolvo”.


Publicada em 22/05/2009.

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