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12/01/2011

Estudo sobre doenças cardiovasculares e diabetes investiga a saúde dos adultos

Danielle Kiffer


O maior estudo longitudinal sobre doenças cardiovasculares e diabetes do país já começou, mas não tem data para terminar. Empreitada de grande envergadura, vai exigir não só a mobilização e dedicação de um número importante de pesquisadores, mas, sobretudo, de um batalhão de voluntários. Denominado Elsa – as iniciais para Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, a pesquisa é o maior trabalho de epidemiologia do gênero já realizado no Brasil. Seu propósito é investigar a incidência e os fatores de risco para as doenças cardiovasculares – principais responsáveis pelas causas de morte no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS) – e do diabetes, o diabetes mellitus, que vem crescendo no país e no mundo, por conta do aumento do sedentarismo, do consumo de alimentos pouco saudáveis e, consequentemente, da obesidade. Para levar a tarefa adiante, os pesquisadores analisarão, além de fatores de risco reconhecidos, outras variáveis, como a escolaridade dos pais, condições socioeconômicas da infância, a idade em que começou a trabalhar, e até características da vizinhança onde moram – que podem favorecer hábitos de vida que fazem bem à saúde, por exemplo, a prática de exercícios físicos.


 As mulheres ganharam uma abordagem diferenciada, que inclui histórico de gestações, data inicial e final de suas menstruações, uso de reposição hormonal e de anticoncepcional

 As mulheres ganharam uma abordagem diferenciada, que inclui histórico de gestações, data inicial e final de suas menstruações, uso de reposição hormonal e de anticoncepcional


De acordo com o Ministério da Saúde, ocorrem cerca de 300 mil mortes e mais de 1 milhão de internações por ano decorrentes de doenças do aparelho circulatório. A hipertensão acomete aproximadamente 35% da população acima dos 40 anos e, nessa mesma faixa de idade, 11% dos brasileiros sofrem de diabetes. Iniciado em 2008, o Elsa conta com a participação de 15 mil voluntários, com idade de 35 a 74 anos, todos funcionários públicos ativos ou aposentados, das seis instituições que tomam parte no projeto. No Estado do Rio de Janeiro, até o mês de dezembro, já foram avaliados os 1.780 indivíduos que concordaram em tomar parte do Elsa. Os resultados dessa primeira etapa do programa serão divulgados em 2011.


“Para reunir um grupo de voluntários com perfil adequado aos objetivos da pesquisa, diferentes níveis de escolaridade e atividades laborais distintas, foram levados em consideração, de forma que o grupo se aproximasse ao máximo da diversidade social do Brasil”, afirma Dora Chor, coordenadora do estudo no Rio de Janeiro, representando a Fiocruz – uma das seis instituições públicas que participam da iniciativa, ao lado da Universidade de São Paulo (USP) e das universidades federais da Bahia (UFBA), do Espírito Santo (Ufes), de Minas Gerais (UFMG) e do Rio Grande do Sul (UFRGS).


Os participantes passaram por entrevistas e exames realizados nos centros de pesquisa das instituições. Nesses locais, permaneceram, em média, cinco horas, período durante o qual foram medidos peso; altura em pé; altura sentado (importante marcador de desnutrição na infância); circunferência da cintura; índice tornozelo-braquial (ITB) – que verifica a rigidez das artérias – e realizados exames como eletrocardiograma, ecocardiograma, ultrassonografia de carótidas e abdome, velocidade de onda de pulso, além de análises sanguíneas e urinárias.


O fator ‘vizinhança’ também entra na conta


Traduzidas do inglês e adaptadas para a versão em português do Elsa, algumas das questões propostas aos voluntários abordaram temas como características da vizinhança, a fim de averiguar se a localidade é propícia à prática de atividades físicas e se há oferta, por exemplo, de verduras e frutas frescas de boa qualidade, além de segurança. A pesquisa procurou levantar também o histórico de doenças, deles e de suas famílias, avaliou o estresse no trabalho e o uso de medicamentos, entre outros. “Também abordamos no questionário perguntas que ajudam a classificar transtornos mentais comuns, como depressão e ansiedade, pois há, igualmente, relação com o aumento do risco de doenças cardiovasculares”, informa Dora, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).


A respeito da dieta, foi preciso adaptar as perguntas de acordo com os diversos costumes alimentares de cada um dos estados e regiões do país que participam do Elsa. As mulheres

ganharam uma abordagem diferenciada, que inclui seu histórico de gestações, data inicial e final de suas menstruações, uso de reposição hormonal e de anticoncepcional. “Há condições específicas femininas que aumentam o risco das doenças cardiovasculares e do diabetes”, diz Dora. “O objetivo do estudo é entender as relações entre os diferentes fatores de risco das doenças cardiovasculares e do diabetes, entre elas, moradia, situação financeira e hábitos de vida relacionados à saúde. Queremos identificar as relações entre os diversos níveis de determinação dessas doenças no contexto brasileiro”, detalha.


Os procedimentos adotados pelo projeto preveem que, passado um ano do contato inicial com cada um dos voluntários e o início do processo de levantamento das informações, os participantes recebam uma ligação dos pesquisadores do Elsa, a fim de monitorar eventos de interesse do estudo. Como o estudo não tem data para terminar, as avaliações serão realizadas anualmente. “O trabalho requer que acompanhemos, por exemplo, as causas da internação, para que sejam classificadas por um comitê de médicos. O trabalho de investigação dos desfechos é realizado por enfermeiros treinados e certificados especificamente para este fim”, relata a pesquisadora, para quem o empenho dos voluntários surpreendeu a todos positivamente. “Muitos casos, no decorrer destes dois anos, nos emocionaram bastante. Os voluntários internados pediam aos familiares que nos ligassem para que nosso estudo corresse da melhor forma. Nem nesses momentos eles se esqueciam”, destaca. O projeto prevê uma nova visita dos participantes, a cada três anos, aos centros de investigação Elsa, a fim de realizarem uma curta entrevista e novos exames. As novas visitas dos voluntários aos centros que tomam parte na pesquisa estão previstas para 2012.


Financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (Decit/MS), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o projeto Elsa conta igualmente com o apoio da Faperj, que destinou recursos à iniciativa por meio de diferentes programas de fomento, como Cientistas do Nosso Estado, Jovens Cientistas do Nosso Estado e bolsas de pós-doutorado.


De acordo com Dora, o estudo ganhará importância à medida que os participantes forem avaliados por, ao menos, dez anos, a exemplo de investigações semelhantes que são realizadas em países desenvolvidos. “Esperamos gerar novos conhecimentos, formar pesquisadores em epidemiologia de doenças crônicas e contribuir para aperfeiçoar políticas implementadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de melhorar a saúde dos brasileiros. As futuras gerações agradecem".


Fonte: Faperj


Publicado em 10/1/2011.

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