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29/01/2006

Estudo tenta desvendar desenvolvimento da tuberculose

Paula Lourenço


Estimativas apontam que dois bilhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas pela tuberculose, mas que 90% delas não desenvolverão a doença. Por que os outros 10% ficarão enfermos, correndo até risco de vida? A resposta pode estar num tipo de célula que inibe a defesa natural do organismo do ser humano: a célula T regulatória, que pertence ao próprio sistema imunológico, mas que está ligada a várias doenças infecciosas, principalmente as crônicas, entre elas a Aids. Com base nessa hipótese, pesquisadores do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz) no Recife, deram início a uma pesquisa sobre os fatores imunes envolvidos no desenvolvimento da doença, focalizando as atenções para essa célula.


Outra pergunta que o estudo buscará responder é porque a bactéria causadora da doença, o Mycobacterium tuberculosis, parece permanecer no hospedeiro por praticamente toda a vida do indivíduo infectado, mesmo que ele possua uma forte resposta imune contra o parasito. Para desenvolver o trabalho, iniciado em novembro de 2005, os cientistas contarão, em princípio, com a parceria do Posto de Saúde Lessa de Andrade, da Prefeitura do Recife, onde há um ambulatório de tuberculose e hanseníase. Os pacientes que quiserem ser voluntários da pesquisa doarão sangue para que essas amostras sejam estudadas em laboratório. O estudo precisa ser feito com aproximadamente 75 pessoas.


"Vamos examinar o sangue desses pacientes e verificar se há a presença de células T regulatórias específicas para o M. tuberculosis, ainda determinando a porcentagem dessas populações celulares. Elas serão examinadas por um equipamento, chamado citômetro de fluxo, e, depois, vamos purificá-las, para isolá-las em cultura, e vermos se, realmente, elas têm potencial para inibir a ação das células T efetoras responsáveis pelo combate à bactéria", explicou José Cândido Ferraz, pesquisador ligado ao CPqAM pelo Programa de Apoio a Projetos Institucionais com a Participação de Recém-Doutores (Prodoc) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


As células T efetoras agem na defesa do organismo do ser humano, quando a pessoa é infectada por algum parasita. Já as células T regulatórias atuam justamente de forma inversa, suprimindo a ação das T efetoras. Normalmente, elas existem para inibir a auto-imunidade assim como as respostas inflamatórias excessivas que podem causar extenso dano em tecidos saudáveis. Porém, assim como outras bactérias e vírus, o M. tuberculosis pode estar usando esta característica das células T regulatórias em proveito próprio, inibindo respostas efetivas do hospedeiro (ser humano) para eliminá-la.


Os resultados do estudo podem colaborar para o desenvolvimento de um tratamento ou vacinação mais eficaz contra a doença, direcionando pesquisas para, por exemplo, manipular as ações das células T regulatórias nos pacientes portadores da tuberculose, agravo de importância para a saúde pública em todo o mundo, devido ao contágio e à dificuldade terapêutica.


O trabalho tem orientação de Frederico Abath e co-orientação de Silvia Montenegro, ambos do Departamento de Imunologia do CPqAM, além de contar com a colaboração da pesquisadora Maria de Fátima Militão, do Departamento de Saúde Coletiva (Nesc) do CPqAM.

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