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26/11/2007

Estudos sobre violência contra crianças e jovens deficientes estarão em pauta em seminário internacional

Renata Moehlecke


Duas pesquisas, inéditas no contexto brasileiro, sobre o impacto da violência contra crianças e adolescentes portadores de deficiência serão apresentadas na próxima quarta-feira durante o seminário internacional Perspectivas de enfrentamento dos impactos da violência sobre a saúde pública. Em foco: América Latina, promovido pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves). Os estudos serão apresentados pela pesquisadora Fátima Cavalcante, que decidiu avaliar a relação entre violência, deficiência e pobreza, uma vez que famílias mais pobres têm mais dificuldades e recursos para lidar com o problema.


“Há 600 milhões de pessoas com deficiência em todo o mundo, destes 80% estão em países em desenvolvimento, uma grande parcela em regiões pobres”, comenta Fátima. “A literatura internacional, ao contrário do Brasil, especialmente os EUA, o Canadá e a Europa já tem mais de duas décadas de estudos e pesquisas sobre o referido problema.” A pesquisadora ainda acrescenta que estudos norte-americanos estimam que crianças e jovens com deficiência tem até 3,4 vezes mais chance de sofrer abuso ou maus tratos do que aquelas sem distúrbios do desenvolvimento, pois necessitam de mais cuidados e são difíceis de manejar. “Essa dificuldade, em geral, é mais acentuada quanto outros fatores de risco estão associados, como família monoparental, uso abusivo de drogas, baixa renda e escolaridade dos pais, condições precárias de vida, entre outros”.


Para realizar a pesquisa, Fátima e equipe tomaram como base duas instituições de referência no campo da deficiência: a Fundação Municipal Lar Escola Francisco de Paula e o Instituto Fernandes Figueira da Fiocruz, ambas no Rio de Janeiro. “Estudamos as deficiências sensorias (visual, auditiva), motora, mental, múltipla, do desenvolvimento (autismo, psicose infantil)”, diz a pesquisadora. “Ainda descobrimos um novo grupo, que não é reconhecido como deficiente e nem contemplado nas políticas públicas: os ‘dependentes de tecnologia’, ou seja, crianças com doenças funcionais crônicas que sobrevivem graças ao avanço da tecnologia e necessitam de vários equipamentos, medicamentos e procedimentos médicos para sobreviverem.” Ela ainda afirma que essas crianças podem ocupar por tempo prolongado leitos hospitalares se um programa domiciliar não for desenvolvido, adaptando a atenção hospitalar na própria residência.


Fátima mostrará resultados mais completos do estudo durante sua exposição no seminário do Claves, e destaca que os esforços de sua pesquisa já rendeu diversos produtos, entre eles dois livros ainda em fase de elaboração. Um com foco nas diferentes formas de assistência, o desafio de enfrentamento da deficiência e promoção de direitos dos indivíduos portadores. O outro analisando 53 estudos de casos, com deficientes de 0 a 24 anos, baseados em quatro fatores (maus-tratos, proteção, violação e acesso a direitos).


“Este se propõe a revelar as facetas da família, da pessoa com deficiência e da comunidade, além do modo como foi realizada a assistência e que as equipes interviram, os recursos que foram otimizados, os efeitos de proteção assegurados ou as situações em que prevaleceu a não interrupção do ciclo da violência, quando questões mais estruturais trouxeram desafios que transcendem o campo de ação tradicional da saúde e reabilitação”, explica pesquisadora. Também foram feitos um guia para profissionais da saúde, educação e assistência social sobre como prevenir a violência contra deficientes e um vídeo, Os filhos da tecnologia, para ajudar na visibilidade e possível auxílio posterior do novo grupo encontrado.

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