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04/06/2018

Evento debate controle e agravos da doença de Chagas

Kath Lousada (VPPCB/Fiocruz)


Em 1909, Carlos Chagas descreveu o ciclo completo da tripanosomíase americana, feito ímpar na história da medicina. A doença de Chagas, como ficou conhecida, despertou a atenção do pesquisador enquanto em missão no combate à malária no norte de Minas Gerais. Passados mais de um século do mapeamento da doença e do início às medidas de vigilância e controle da enfermidade, dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, atualmente, são estimados entre 6 e 7 milhões de pessoas afetadas pela doença de Chagas no mundo, somente no Brasil, o número de pessoas infectadas pelo protozoário Trypanosoma cruzi chega a 2 milhões.

Abertura do encontro Fio-Chagas contou a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima (foto: VPPCB/Fiocruz)

 

Considerada uma doença negligenciada pela OMS, sua principal forma de transmissão ocorre por via vetorial, por meio do inseto popularmente conhecido como barbeiro ou bicudo que suga o sangue enquanto defeca na pele. Outras formas de transmissão são a de mãe-filho, se a mulher tiver a doença; por transfusão de sangue ou transplante de órgãos infectados; e pela ingestão de alimentos infectados com as fezes do inseto. A transmissão oral da doença tem sido evidenciada nos últimos 15 anos no Brasil especialmente na região da Amazônia Legal (Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins, e parte dos Estados do Maranhão - Nordeste - e Mato Grosso - Centro-Oeste).

Frente a este cenário de desafios para a saúde pública, somada às perspectivas para o alcance da meta de controle de doenças tropicais da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, o 15° Encontro do Programa de Pesquisa Translacional em doença de Chagas (Fio-Chagas) reuniu representantes dos laboratórios das unidades da Fiocruz - com pesquisa nesta temática e participantes da rede - para debaterem questões pertinentes à doença na atualidade ao longo de três dias (16 a 18/5) no Palácio Itaboraí, em Petrópolis (RJ). 

Como objetivo, a composição de iniciativas que integrem equipes de diferentes instituições, unidade e laboratórios, nas áreas biomédica, clínica, desenvolvimento tecnológico e saúde coletiva, para o desenvolvimento de propostas voltadas para as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), em especial às questões críticas para o alcance do controle de doenças e agravos em doença Chagas.  

A abertura do encontro contou a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, que destacou o trabalho de referência realizado na instituição e, para além da questão histórica, a contribuição em vários campos do conhecimento. “O trabalho de saúde pública em Doença de Chagas sintetiza muito bem a multiplicidade de perspectivas, e mais do que isso, a necessária complementariedade. É uma pesquisa voltada à resolução de um problema de saúde, cuja descoberta foi possível, porque o campo da ciência e saúde no Brasil nunca foi restrito ao laboratório, ele sempre se articulou com questões ambientais, trabalho de campo e pesquisa clínica.” 

Por videoconferência, Pedro Albajar-Viñas representando a Organização Mundial da Saúde (OMS) (Innovative & Intensified Disease Management Control of Neglected Tropical Diseases) disse que a Fiocruz “é uma instituição única no mundo pela sua diversidade. E é única, também, pelas extraordinárias possibilidades que ela oferece a quem nela trabalha e a quem com ela trabalha. A iniciativa Fio-Chagas tem sempre um potencial extraordinário de convocar para o encontro a comunicação, o diálogo, a consecução de consensos sobre caminhos a serem andados num questionamento onde a cooperação será a última palavra em contraposição a competições estéreis.”

Como exemplo de afirmação da agenda propositiva da Fio-Chagas, Albajar disse que se questionado sobre qual o maior desafio atual para a conquista dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a resposta seria detecção e diagnósticos dos casos, que, segundo ele são “muitas vezes silenciosos e tantas vezes silenciados”. Também considerou uma tônica do encontro a abordagem “biomédica e psicossocial por igual, dialogando para desenhar, desenvolver e implementar projetos, ações, para quebrar barreiras de acesso, para informar, educar e comunicar.” 

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