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29/05/2018

Fiocruz celebra aniversário com audiência de prestação de contas

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A Presidência da Fiocruz promoveu, nesta segunda-feira (28/5), no auditório do Museu da Vida, no campus de Manguinhos (RJ), uma audiência pública para prestação de contas dos primeiros 16 meses de gestão da presidente Nísia Trindade Lima. O evento, que fez parte das comemorações dos 118 anos da Fundação, começou com a apresentação de um vídeo com depoimentos da diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne, e de pacientes e a alunos que comentaram seus vínculos com a instituição e agradeceram o atendimento, o acolhimento e o aprendizado. A prestação de contas deste ano teve um formato diferente: foi um talk show comandado pela coordenadora-geral do Canal Saúde, Márcia Corrêa e Castro, que entrevistou a presidente Nísia, dando à dirigente a oportunidade de fazer um balanço de sua gestão.

A presidente Nísia Trindade Lima promoveu uma audiência pública para prestação de contas dos primeiros 16 meses de gestão na Fiocruz (foto: Peter Ilicciev)

 

O primeiro dos quatro blocos da prestação de contas teve como título Fiocruz – Instituição Estratégica do Estado em defesa do SUS e da saúde global. Nísia discorreu sobre as ações que têm sido adotadas nos últimos meses para garantir o diálogo com as diferentes instâncias de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), em estados e municípios, e também com as instâncias de formulação de políticas públicas, como o Congresso Nacional. A presidente afirmou que existe uma conjuntura de dificuldades e imprevisibilidade. “É necessário que façamos uma reflexão sobre o ataque do qual as instituições públicastêm sido alvo. Atualmente é difícil ser gestor público. Apesar dos problemas, no entanto, uma pesquisa a respeito da imagem da ciência feita pela [Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência] SBPC mostrou que a Fiocruz é citada como instituição eficiente e comprometida com a inovação”.

A presidente disse que o relatório feito em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), sobre agrotóxicos, e que foi apresentado ao Congresso Nacional, espelha bem o produtivo relacionamento com outras instituições. “A Fiocruz é uma instituição de excelência, mas não é uma ilha. Não estamos isolados”, frisou. Outro destaque desse relacionamento amplo foi a realização, na Fiocruz, da 296ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde. Os acordos com governos estaduais e do Distrito Federal, onde existem unidades da Fundação, também foram lembrados. Ela também citou a constituição de redes estaduais na área da atenção básica como um dos bons exemplos de articulação com as demais entidades da Saúde.

Nísia também comentou as parcerias e o diálogo com movimentos sociais como sinal da atuação da Fundação em defesa do SUS e da cidadania. Um exemplo claro, entre outros, do engajamento da instituição na luta contra a discriminação, a exclusão e a violência se deu na mobilização de repúdio ao assassinato da vereadora Marielle Franco. Nessa área, um projeto relevante foi o Justiça Itinerante, emparceria com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e que leva prestação de serviços jurídicos a moradores das comunidades vizinhas à Fiocruz.

A respeito da agenda internacional, a Fiocruz, que é referência internacional no campo da saúde coletiva, foi convidada, segundo a presidente, a fazer parte do painel de alto nível que fará um balanço dos 40 anos da Declaração de Alma-Ata. O documento foi formulado em 1978, na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, em Alma-Ata, capital do Cazaquistão. Ela também listou parcerias com instituições chinesas, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e organismos multilaterais como marcos da atuação internacional. “Fazer cooperação internacional é reforçar os sistemas de saúde. A Agenda 2030 é fundamental para essa defesa e impedir que investimentos em saúde sejam considerados gastos. A presidente contou que ficou emocionada quando o governo de El Salvador informou que a Fiocruz deu uma contribuição de grande importância para reduzir a mortalidade infantil no país centro-americano. “Ninguém pode ser deixado para trás”, disse Nísia.

O segundo bloco do talk show foi Pesquisa, desenvolvimento tecnológico, produção e vigilância e ação transversal na Fiocruz. Nísia abordou o cenário epidemiológico nacional, tendo em vista o aumento do número de casos de febre amarela e de outras arboviroses. Ela citou a criação de uma Coordenação Especial para Arboviroses como um ponto importante na área de vigilância em saúde. Nísia também listou os novos produtos do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), referência na produção pública de medicamentos, as entregas do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), o maior produtor mundial da vacina contra febre amarela (64 milhões de doses em 2017), e mais um marco na inovação tecnológica: o kit molecular ZDC, o primeiro do país com chancela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que permite fazer o diagnóstico simultâneo de zika, dengue e chikungunya. A inovação é fruto do trabalho integrado de Bio-Manguinhos com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). “Bio-Manguinhos e Farmanguinhos foram as duas unidades que mais sofreram com cortes e ambos operaram sob grande tensão. A sociedade precisa ser informada sobre o que significa reduzir as atividades de institutos como esses. Apesar das imensas dificuldades, temos conseguido atender as demandas da população”.

A presidente recordou a concessão do Prêmio Péter Murányi à pesquisadora Celina Turchi e equipe (Merg/Fiocruz Pernambuco), pela identificação da associação do vírus zika com a microcefalia. Ainda em relação a essa enfermidade, Nísia citou a pesquisadora Patrícia Brasil, do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), vencedora do Prêmio Científico Christophe Mérieux 2018, oferecido pela Fondation Christophe et Rodolphe Mérieux e pelo Institut de France. A premiação reconhece a trajetória acadêmica da cientista e a relevância de seu projeto, sobre a história natural da infecção por zika durante a gestação.

No terceiro bloco, Gestão democrática e sustentabilidade institucional, a presidente observou que a gestão democrática é um dos elementos que caracterizam a Fiocruz, que conta com eleições diretas para seus dirigentes e ampla autonomia em suas unidades técnico-científicas. Ela aproveitou para abordar o 8º Congresso Interno da Fundação, no final de 2017, que aprimorou o modelo de participação e representação da instituição. A Comissão de Organização passou a ter condição permanente de atuação para as ações pós-Congresso. O encontro renovou as diretrizes para o período 2017-2020 a partir de 11 teses.

A presidente citou a mobilização em 2017 para garantir, por parte do governo federal, a sua nomeação após ser eleita democraticamente pelos servidores. “Apesar de serem tempos difíceis, construímos uma unidade interna e uma forte articulação com outras instituições e com a sociedade, visando garantir o processo democrático. Com isso, chegamos a um processo de escuta maior das demandas”. A atuação do Conselho Deliberativo da Fiocruz também ganhou ainda maior relevo diante dessa questão que uniu a Fundação. Em uma instituição tão diversa, complexa e muitas atividades, o trabalho do CD Fiocruz contribui para a integração e a sinergia das atividades, respeitando a autonomia das unidades.

Na linha de maior diálogo com a comunidade, Nísia abordou a criação do Sexta de Conversa, iniciativa por meio da qual a presidente, a cada mês, responde pela internet a perguntas de trabalhadores e pesquisadores e se informa de muitas demandas. Outro destaque do bloco foi a candidatura do Castelo Mourisco da Fiocruz a Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco.

No quarto e último bloco, A Fiocruz do Futuro, a presidente comentou os desafios para os próximos dois anos e meio de seu mandato e também para o SUS e a saúde do brasileiro. Ela sublinhou os grandes debates que foram realizados, sobre desenvolvimento e saúde, e abordou a consulta internacional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação na implementação da Agenda 2030 eno alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Também foi destacado o Curso de Foresigth para capacitar profissionais da Fiocruz com técnicas e ferramentas de prospecção. “A Fiocruz tem muitas e diversificadas potências. Não podemos nos fincar apenas no campo da resistência aos ataques que a instituição vem sofrendo. É de crucial importância que projetemos o futuro, pormeio de um esforço integrado de prospecção. Reunir todas as nossaspotências para pensar a Fiocruz e o SUS do futuro”.

Nísia disse que o país enfrenta muitos desafios e atravessa um momento particularmente difícil. “No campo interno, temos que consolidar a cadeia de inovação e a integração das unidades regionais, formar novos quadros, desenvolver novos produtos de saúde para a população, entre outros. No campo externo, a Fiocruz precisa ser sempre uma linha de defesa da democracia, dos SUS e das instituições públicas. O Brasil precisa que ocorram eleições e quesejam legítimas”.

Depois da prestação de contas a presidente descerrou uma placa comemorativa do aniversário da Fiocruz e dos 100 anos do Castelo Mourisco. O diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Paulo Elian, disse que “o Castelo é o símbolo maior desta instituição. Este centenário marca a candidatura a Patrimônio da Humanidade. Ao longo do ano teremos outras iniciativas que reforçarão essa candidatura. É um momento de alegria e esperança, mas também demuito trabalho”. O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, parabenizou a Fiocruz e afirmou que toda a comunidade científica participará da iniciativa. Para Nísia, o Castelo é um símbolo que Oswaldo Cruz imaginou para que a ciência brasileira seja forte, firme e robusta.

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