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27/04/2018

Evento debate efeito da dor na qualidade de vida de pacientes

Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)


Aproximadamente 30% da população é afetada, em algum momento da vida, por algum tipo de dor. A situação é a principal causa de sofrimento ou incapacitação para o trabalho, chegando a ocasionar graves consequências psicossociais e econômicas, e cabe ao profissional de saúde atuar da melhor forma possível no manejo da situação. Com o objetivo de entender melhor o que é a dor e seus impactos na qualidade de vida dos pacientes, a Comissão de Residência Médica (Coreme) do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) promoveu (26/4) a sessão clínica Dor: uma urgência a ser tratada, que teve como palestrante convidada a Tatiana Tibério, médica geriatra e de cuidados paliativos.

“Temos que compreender que a dor não tem só o aspecto físico. É um componente com outras variáveis como a espiritual (pode trazer culpa, medo, perda de sentido para a vida), psicológica (com aspectos de depressão, raiva e percepção de finitude) e social (com perda de renda, posição familiar e incapacidade)”, explicou Tatiana Tibério. Se essa dor não for adequadamente tratada, trará sérias consequências para a pessoa como diminuição do apetite e desnutrição, fadiga e distúrbio do sono, depressão, incapacidade para atividades da vida diária, entre outros problemas.

A médica explicou que a Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e a Sociedade Americana de Dor descrevem “a dor como o quinto sinal vital que deve sempre ser registrado ao mesmo tempo e no mesmo ambiente clínico em que também são avaliados os outros sinais vitais, quais sejam: temperatura, pulso, respiração e pressão arterial”.

Segundo a International Association for the Study of Pain (IASP), a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesões reais ou potenciais. Apesar de ser um problema de Saúde Pública, a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) informa que não existem dados estatísticos oficiais sobre a dor no Brasil, mas que sua ocorrência tem aumentado substancialmente nos últimos anos. Entretanto, a incidência da dor crônica no mundo oscila entre 7 e 40% da população.

Tratamento

Apesar dos avanços obtidos no conhecimento fisiopatológico da dor e dos esforços para dimensiona-la e trata-la, ainda existem grandes lacunas no tratamento da dor. Os desafios no manejo da dor são grandes, pois envolvem diversos fatores como a acessibilidade e o custo de opióides, a falta de treinamento profissional, as restrições que existem em nosso sistema de saúde e a “opiofobia”, que pode ser traduzida como o receio dos médicos em prescrever esse tipo de medicação, a reserva dos enfermeiros em aplicar tal medicamento ou do próprio paciente em utilizá-lo, mesmo que estejam sentindo dor moderada ou intensa. A geriatra lembrou que o Brasil é um dos 10 países com menor prescrição para esse tipo de medicação no mundo. Segundo dados da SBED, a média de consumo de opióides no país por ano é de 7,8 mg por pessoa, enquanto que a taxa ideal de consumo é de 192,9 mg.

Os opióides são as medicações mais efetivas no tratamento da dor moderada a intensa e com eficácia bem definida para a dor aguda ou a dor crônica oncológica. Entretanto, seu consumo pode causar uma série de reações adversas como sedação, náuseas, vômitos, constipação, hiperalgesia ou alteração hormonal, por exemplo. Tatiana apresentou ainda algumas diferenças entre cinco diferentes tipos de opióides encontrados na rede pública: codeína (o mais fraco, com uma dose dez vezes menos potente que a morfina), tramadol, morfina, metadona e fentanil transdérmico (o mais potente, chegando a ser 100 vezes mais potente que a morfina).

Encerrando sua exposição, Tatiana destacou a urgência na capacitação dos profissionais de saúde na abordagem do sofrimento humano, no combate ao estigma dos opióides, que passa pelo aprendizado de seu uso responsável, e a ampliação da política pública de acesso a medicamentos essenciais no manejo da dor. “Precisamos de novas políticas de produção, distribuição e uso de opióides para aliviar o sofrimento. As pessoas não deveriam morram com dor”, concluiu.

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