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14/07/2017

Evento debate panorama de arboviroses e desafios na imprensa

Fernanda Miranda (Fiocruz Brasília)


“O combate ao Aedes Aegypti não é uma tarefa apenas do setor saúde, mas de vários outros departamentos do governo, apesar da enorme resistência que existe nas outras áreas em entender que essa é uma responsabilidade de todos”, enfatizou o assessor da Fiocruz Brasília, José Agenor Alves, na manhã desta quinta-feira (13/7), durante o 1º Seminário Internacional e 5º Seminário As Relações da Saúde Pública com a Imprensa, referindo-se ao período em que foi Ministro da Saúde. Na ocasião, Agenor foi o moderador da mesa Panorama das arboviroses transmitidas pelo Aedes e os desafios da imprensa, que reuniu especialistas das áreas de saúde e da comunicação.

A pesquisadora Celina Turchi iniciou o debate fazendo um retrospecto sobre o vírus zika e lembrou que ele foi encontrado em 1947 por um pesquisador da Universidade de Glasgow. “Os escritos do estudo o consideravam um vírus de pouca importância no que se refere à transmissão de doenças para a humanidade”. Em 2007, Celina contou que o vírus chamou a atenção da comunidade científica ao contaminar algumas pessoas da ilha Yap. Já em 2013, ela destacou que o vírus contaminou algumas pessoas na Polinésia Francesa, que apresentaram casos de síndromes neurológicas nos sistemas nervoso e central e periférico. “Dois anos depois, o jornal The New York Times já estava noticiando os casos de microcefalia causados pelo zika, no Brasil”, afirmou.

Celina também recordou que na época, as pesquisas sobre o zika, o envio dos dados para o Ministério da Saúde e a comunicação com a sociedade aconteciam praticamente em tempo real. “Paralelo aos trabalhos de pesquisa, acredito que o seminário ABCDE do vírus zika, a publicação de alguns artigos científicos sobre o assunto e o livro Zika vírus no Brasil – A resposta do SUS foram fundamentais para o entendimento da epidemia”, ressaltou.

A pesquisadora, que foi considerada como uma das 10 cientistas mais importantes de 2016 pela revista científica Nature e uma das 100 mais influentes do mundo pela revista norte-americana Time por ter coordenado o grupo de pesquisa que descobriu a associação entre o vírus zika e a microcefalia, atribui o reconhecimento à competência de toda a equipe com quem trabalha. Celina também destacou a rede de pesquisadores nacionais e internacionais que se formou em torno das pesquisas e das plataformas criadas para se obter uma melhor comunicação entre a comunidade científica e encerrou sua apresentação com a imagem de uma periferia de Recife. “Enquanto houver uma tremenda desigualdade social, nós teremos dificuldades de controlar a transmissão do vírus”, avaliou.

Em seguida, foi a vez da jornalista do Observatório da Imprensa, Ângela Pimenta fazer um panorama sobre as redações jornalísticas e apontou o baixo grau de confiabilidade no meio digital, o pouco espaço nos jornais para publicações sobre saúde e a escassez de jornalistas nas redações como problemas a serem enfrentados. “No Brasil, houve 773 demissões entre 2012 e 2016 nos jornais impressos”, contou. Ângela também criticou o excesso de falsas notícias e da viralização de informações desqualificadas. “Esse é um problema para a comunicação em saúde que deve ser tratado tanto pela imprensa quanto pelos órgãos públicos. Outra questão relevante é a formação desses jornalistas que precisam se qualificar na área da saúde e eu acredito que essa é uma missão para instituições como a Fiocruz”, comentou.

O médico sanitarista da Fiocruz Brasília, Cláudio Maierovitch, explicou que a dengue é um indicador de risco de arboviroses urbanas e apresentou um gráfico sobre a incidência anual de dengue no Brasil de 1995 a 2017, que mostrou o pico com 1688.688 casos, em 2015, e 112.381, em 2017, até o momento. “Embora em 2013 também tenham ocorrido muitos casos, a imprensa deu mais destaque em 2015 e eu atribuo essa constatação ao fato do surto ter acontecido em São Paulo, a maior cidade do país”, avaliou. Para Cláudio, embora a incidência dos casos de dengue tenha caído, é importante que o governo fique atento, que haja o protagonismo da sociedade e o investimento em vacina, novas tecnologias e tratamentos.

O jornalista do jornal Estado de Minas, Paulo Henrique Lobato, exibiu um vídeo produzido pelo veículo sobre a transmissão da febre amarela, doença que somente nesse ano foi responsável por 165 mortes no Estado de Minas Gerais e criticou a destruição de florestas e o assassinato de macacos, na região.

O debate também contou com a presença do assessor de comunicação do Governo do Distrito Federal (GDF), Rudolfo Lago, que apresentou a estratégia de comunicação do GDF, no enfrentamento às doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti. Para Rodolfo, o trabalho de comunicação deve ser educativo. “Firmamos parcerias com a Secretaria de Educação e as escolas da rede pública de ensino do DF e criamos o Programa Escola Sem Mosquito. Vamos lançar em breve um aplicativo desenvolvido pelo Ministério do Planejamento e Ministério da Saúde, que vai permitir que os usuários enviem uma fotografia com o tipo de mosquito e o local onde ele foi encontrado”, afirmou.

Encerrando as atividades da manhã, a assessora de comunicação da Fiocruz Pernambuco, Rita Vasconcelos, falou sobre O papel da assessoria de comunicação da Fiocruz Pernambuco na epidemia de zika – 2015/2016. A assessora contou que em 2016 houve um aumento de 118% de atendimento à imprensa e 111% de matérias publicadas sobre a Fiocruz Pernambuco e que todas foram avaliadas como positivas para a instituição. “Vale a pena destacar que após essa epidemia, observamos uma mudança na postura do pesquisador diante das demandas de imprensa, pois ele passou a compreender que é importante dar visibilidade à pesquisa que ele está realizando, tanto para ele fazer novas parcerias com outros pesquisadores, quanto para dar um retorno à sociedade”, comentou.

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