Evento na Fiocruz pelo Dia da Mulher celebra avanços e debate desafios

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Mario Ferreira (Cedipa/Fiocruz) e Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)
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O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) sediou, nesta quinta-feira (13/3), o evento anual da Fiocruz pelo Dia Internacional da Mulher. A celebração, que teve transmissão online, começou com uma mesa de abertura composta por gestores e gestoras da Fundação e, em seguida, houve uma palestra da coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz), Hilda Gomes. Presente ao evento, o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, pontuou que a data, na verdade, é um dia de luta, da qual a instituição tem participado cada vez mais ativamente.

 

Moreira disse que a Fiocruz “tem feito muito em relação às políticas de equidade, de respeito às diferenças, por meio de mecanismos de inclusão. Mas é bom lembrar que esta é uma luta difícil, contra uma estrutura de valores que perpetua um sistema de opressão, de misoginia e preconceitos. Temos o desafio de avançar principalmente na diversidade em cargos de liderança na Fundação”, afirmou.

De acordo com o presidente, é necessário valorizar o feminino que pulsa na instituição. “O que já é feito, mas precisa ser sempre reforçado, porque a luta é contra uma estrutura de valores que promove o preconceito, o machismo e a misoginia no país. Num dia como este renovamos nossos compromissos com esta luta”. A edição deste ano do evento, que teve início em 2022, teve como foco a luta por mais mulheres em cargos de alta gestão, protagonismo e diversidade.

 Mario Moreira no evento.

De acordo com o presidente, é necessário valorizar o feminino que pulsa na instituição (foto: Divulgação)

 

Moreira aproveitou o momento para homenagear a ex-ministra da Saúde e ex-presidente da Fiocruz Nísia Trindade Lima, a primeira mulher a ocupar ambos os cargos. Segundo o dirigente, ela representa de maneira bem fiel as lutas que o 8 de março simboliza. Ao ser homenageada, Nísia foi aplaudida de pé pela plateia.

O diretor do IFF, Antonio Flávio Meirelles, contextualizou a criação da data, que surgiu como Dia da Mulher Trabalhadora, lembrou o movimento em favor do voto feminino, as manifestações de mulheres, em meio às guerras, por pão e paz e a emancipação delas. “Este é um evento que une toda a Fiocruz no IFF. Elas têm, merecidamente, cada vez mais protagonismo e atualmente são maioria em todos os segmentos profissionais da Saúde, até entre o médicos. No IFF, dos 13 cargos de alta gestão, 9 são ocupados por mulheres. E queremos mais”.

Também fizeram parte da mesa de abertura a chefe de Gabinete da Presidência da Fiocruz, Zélia Profeta, a diretora-executiva adjunta da Fundação, Priscila Ferraz, a chefe de Gabinete da Direção do IFF, Mariana Setúbal, a coordenadora de Atenção à Saúde do Instituto, Lívia Menezes, a analista administrativa do Arquivo Médico do IFF, Mabel Souza, que representou as funcionárias terceirizadas, e a mãe de uma paciente do Instituto, Ubiranilde Azevedo. A filha dela, Sara Raquel, é a paciente que está há mais tempo internada no IFF.

 Mulheres no evento.

O evento, que se estendeu ao longo do dia, contou com atividades e homenagens a trabalhadores pela contribuição e compromisso na Fiocruz (foto: Divulgação)
 

Para Lívia Menezes, a data vai muito além de “flores e homenagens”. Ela disse que é necessário não apenas celebrar os avanços mas, sobretudo, impulsionar políticas que façam a diferença, já que a Fiocruz é comprometida com a igualdade. Não é revanche, é equidade”.

Priscila Ferraz citou os desafios de construir um mundo mais equânime e também citou o discurso “forte, potente e corajoso da ex-ministra Nísia ao deixar o posto”. Ela disse que é urgente a criação de uma ambiência para mais avanços que incluam uma maior participação feminina nas esferas de decisão”.

Zélia Profeta afirmou que o Brasil “precisa enfrentar uma sociedade patriarcal e autoritária que ainda cerceia e limita as mulheres. É fundamental fortalecer a equidade e combater a violência e o preconceito contra as mulheres. Temos políticas como a iniciativa Mais Mulheres e Meninas na Ciência e implantamos a Cedipa, entre outras ações, que vão ao encontro desta luta”.

O evento, que se estendeu ao longo do dia, contou com atividades, que incluíram estande de biossegurança, feira de artesanato, leituras, momento de beleza, práticas integrativas e complementares em saúde, oficina de dança e cinema. Também houve homenagens a trabalhadores pela contribuição e compromisso na Fiocruz.

Palestra sobre equidade de direitos

Hilda no evento.

A coordenadora da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa), Hilda Gomes, participou do evento. Em sua palestra, Hilda destacou a importância de uma agenda institucional voltada ao enfrentamento das desigualdades de gênero, enfatizando que essas questões estão interligadas a outras formas de opressão, como racismo, capacitismo e discriminação social.

Segundo a coordenadora da Cedipa, a Fiocruz tem o desafio de transformar sua cultura organizacional, garantindo que suas práticas sejam antirracistas, antiheterossexistas e anticapacitistas.

"As desigualdades de gênero estão presentes na sociedade brasileira, historicamente estruturada pelo racismo, machismo, classismo e outras formas de opressão. Como parte deste contexto, a Fiocruz também reproduz, em seu cotidiano, práticas que vulnerabilizam pessoas dentro da instituição. Nosso compromisso é mudar esta realidade”, disse Hilda.

A coordenadora apresentou dados que evidenciam as desigualdades enfrentadas pelas mulheres negras no Brasil. Segundo o Censo de 2022, elas representam 54,5% da população feminina do país e estão majoritariamente inseridas em espaços de menor remuneração e vínculos precários de trabalho. Além disso, acumulam a dupla função de prover e cuidar, sendo a maioria entre as chefes de famílias monoparentais. A situação se agrava em relação às mulheres indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais, que também enfrentam barreiras no acesso a direitos básicos.

"Negros, indígenas, quilombolas, ciganos e outros grupos sociais que vivem em territórios marginalizados sofrem múltiplas formas de discriminação e violação de direitos fundamentais. Isso perpetua as iniquidades sociais, que resistem ao longo da história do Brasil, apesar dos avanços legislativos”, completou.

Enfrentamento às desigualdades

Hilda Gomes enfatizou a necessidade de aplicar a perspectiva da interseccionalidade na formulação de políticas institucionais, combatendo o racismo estrutural em suas diversas dimensões. A Cedipa tem trabalhado para implementar a Política de Equidade Étnico-Racial e de Gênero da Fiocruz (2023), promovendo boas práticas institucionais em todas as áreas de atuação da Fundação, como educação, pesquisa, inovação e disseminação científica.

"É preciso romper com modelos organizacionais que mantêm as desigualdades e investir nos processos de letramento pela diversidade e equidade. Para isso, buscamos articular nossa agenda com territórios, movimentos sociais e instâncias de defesa dos direitos humanos”, concluiu, reforçando a fala do presidente Mario Moreira sobre a necessidade de discutir, conscientizar e apostar na renovação em caráter progressista, pois essa é uma luta do país, uma luta de todas as pessoas.