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07/05/2021

Evento reforça necessidade de proteção social no pós-pandemia

Javier Abi-Saab (Agência Fiocruz de Notícias)


Articular o desenvolvimento científico ao desenvolvimento social foi uma das propostas apresentadas pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, no evento O que devemos fazer? Pesquisa biomédica e em saúde pública no Brasil e nos Estados Unidos no pós-Covid-19, promovido pela Universidade de Yale. A presidente ressaltou o caráter social da pandemia e a necessidade de considerar a organização da proteção social um eixo fundamental para a recuperação pós-Covid-19.  

“A pandemia de Covid-19 tem mostrado uma alta resposta científica, mas revela uma profunda desigualdade entre os países, e dentro dos países, no acesso aos benefícios provenientes da ciência e tecnologia”, apontou Nísia, destacando a desigualdade como ponto central a ser revertido. “Os determinantes sociais mostram toda a sua força neste momento, seja na gênese da pandemia como nos seus efeitos”, declarou. 

Como proposta para uma agenda de pesquisa, ela apontou como fundamental medir os impactos da pandemia em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030, assim como na geração de novas desigualdades e de extrema pobreza. Também ressaltou os cinco pilares fundamentais para a recuperação pós-Covid-19: sistemas de saúde, proteção social, resposta econômica, políticas macroeconômicas (entre elas a política de desenvolvimento científico) e coesão social. “Num processo de reconstrução esses pilares são fundamentais, assim como também será necessário uma abordagem multidisciplinar” disse a presidente, destacando que a resposta da crise deve ir ao encontro do desenvolvimento sustentável e considerar os desafios ambientais e demográficos.

Além da presidente da Fiocruz, o evento contou com a participação do coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), Paulo Buss; do diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Luis Carlos Ferreira; e do diretor do Instituto de Saúde Global na Universidade de Yale, Saad Omer. 

O coordenador do Cris/Fiocruz focou sua intervenção nas funções e serviços essenciais para a saúde pública que devem ser monitoradas e procurar aprimorar em todo sistema de saúde. Essas funções incluem a avaliação e monitoramento da saúde da população, a comunicação efetiva, a criação de políticas e o estabelecimento e manutenção de uma força de trabalho e uma infraestrutura de saúde, entre outras. Para o pesquisador, as iniquidades no acesso e o enfoque na abordagem curativa, é o quadro que deve ser revertido.

Buss ressaltou a importância de “identificar as fragilidades e fortalezas dos sistemas de saúde considerando as funções essenciais”. Para isso é necessário um estudo conjunto da academia com os gestores da saúde que defina as necessidades de pesquisas. Por último, Buss destacou que os desafios também implicam o desenvolvimento de inovações para os sistemas de vigilância, incluindo a vigilância genômica.

O diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Luis Carlos Ferreira, enfatizou a necessidade de trabalho conjunto entre as universidades com outros atores da sociedade e entre si. Ferreira destacou que a pandemia tem mostrado a importância dos centros de pesquisa trabalharem de maneira próxima com as empresas, como aquelas que estão produzindo vacinas. Isso facilita que o conhecimento seja traduzido de maneira fluida e eficiente da academia ao mercado e vice-versa. 

Concluindo o grupo de palestrantes, Saad Omer destacou que os maiores fracassos da pandemia não foram da área científica e sim da governança em saúde. “Tivemos muitas ferramentas científicas e inclusive novas foram desenvolvidas. Mas ficou clara a necessidade de uma governança bem orientada em termos de saúde pública e que tome decisões baseadas na ciência”. Omer também lembrou que as instituições que conseguiram pensar em redes tiveram mais sucesso, enquanto que aquelas que tentaram agir sozinhas fracassaram. Nesse sentido, a ciência em equipe teve uma nova relevância. Por último, o professor destacou a missão de serviço das universidades e instituições de pesquisa. Para ele, é dever destas instituições “manter as memórias das lições aprendidas vivas e incidir por meio do esforço intelectual”. 

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