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10/07/2007

Falta de óxido nítrico retarda reação à esquistossomose na fase aguda

Paula Lourenço


Um estudo desenvolvido  no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, com camundongos deficientes na produção de óxido nítrico, aponta que a falta dessa substância retarda a reação do organismo à esquistossomose na sua fase aguda (com 45 dias de infecção), o que prejudica os animais, pois o diagnóstico e o tratamento da doença só se dariam na transição da fase aguda para a fase crônica da enfermidade (após 90 dias), quando já há um possível comprometimento do fígado.


 O <EM>Schistossoma mansoni</EM> dentro de um vaso no fígado (Foto: UFRGS)

O Schistossoma mansoni dentro de um vaso no fígado (Foto: UFRGS)


Para constatar o prejuízo, a pesquisa analisou 25 camundongos deficientes em iNOS (enzima que induz o óxido nítrico) e desnutridos, em três circunstâncias: com avaliação da produção de citocinas (substâncias que protegem o organismo de infecções); com estudo da situação dos granulomas (ovos mortos) instalados no fígado desses animais (análise histopatológica); e verificando a quantidade de vermes liberados pelos camundongos (carga parasitária).


A avaliação da produção de citocinas foi feita com Interferon-g, IL-4 e IL-10, tidas pela literatura como atuantes contra a esquistossomose. Nessa fase, a pesquisadora responsável pelo estudo, a biomédica Renata Ramos, verificou que os camundongos deficientes na enzima iNOS não estimulam a citocina Interferon- g. Por causa dessa falha, ela deixa de liberar o óxido nítrico, com o qual o organismo identificaria o parasito S. mansoni ainda no início da sua fase aguda. O que ocorre, no entanto, é uma resposta imune equivocada, com as citocinas IL-4 e IL-10, opositoras do Interferon- g que acabam “mascarando” a infecção pelo S. mansoni, com sua atuação no momento errado. As IL-4 e IL-10, na verdade, devem atuar na transição para a fase crônica da doença, ou seja, quando já há risco de comprometimento do fígado, pois produzem colágeno para evitar a fibrose provocada pela reação do organismo aos ovos mortos instalados no órgão.


Renata revela que, nessa primeira etapa do estudo, a desnutrição dos camundongos parece não interferir nos resultados quando associados à deficiência em iNOS. No entanto, quando a biomédica foi averiguar a situação dos granulomas no fígado dos camundongos, o que ocorre entre 60 e 90 dias de infecção pelo S. mansoni, observou que eles eram bem menores do que se tivessem tido a reação com o óxido nítrico sem o tratamento necessário de combate à doença. Isso aconteceu graças à associação da deficiência em iNOS com a insuficiência protéica, decorrente da desnutrição.


Na terceira etapa do estudo, quando Renata avaliou a carga parasitária nos camundongos, houve a constatação de que não há diferença na quantidade de vermes nos animais desnutridos e com deficiência em iNOS ou nos camundongos bem nutridos e com deficiência em iNOS. Ao todo, foram alvos da pesquisa 200 camundongos, dos quais cem normais, sem deficiência em iNOS para formar o “grupo controle”, e cem com deficiência em iNOS. Desses, 50 estavam infectados, sendo 25 desnutridos e 25 bem nutridos; e 50 não infectados, sendo 25 desnutridos e 25 bem nutridos.


O estudo de Renata Ramos serviu para sua dissertação de mestrado em saúde pública do CPqAM, com orientação da pesquisadora Silvia Montenegro, do Departamento de Imunologia do Centro.

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