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10/07/2008

Fetos expostos a droga abortiva têm o dobro de risco de apresentar anomalias

Catarina Chagas


Embora o aborto seja ilegal no Brasil, alguns produtos são utilizados como métodos abortivos por mulheres em todo o país, como hormônios sexuais e o medicamento misoprostol – versão sintética da prostaglandina, introduzida no Brasil em 1986 para o tratamento de úlceras gástricas. Em pesquisa feita com quase 5 mil gestantes de seis capitais brasileiras, 14,6% das participantes relataram ter usado produtos para induzir a menstruação. Especialistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) associaram tais métodos a um risco aumentado de o bebê apresentar anomalias congênitas.


 Os chás de ervas abortivos, embora considerados tóxicos, não apresentaram, no trabalho da UFRGS, associação com problemas nos fetos

Os chás de ervas abortivos, embora considerados tóxicos, não apresentaram, no trabalho da UFRGS, associação com problemas nos fetos


A amostra para estudo foi constituída de mulheres com mais de 20 anos, entre a 21ª e a 28ª semanas de gestação, atendidas em unidades de assistência pré-natal vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) em Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Entre as participantes que relataram uso de substâncias para induzir a menstruação – sobretudo para descobrir se estavam ou não grávidas –, 34,4% afirmaram tomar chás de ervas; 28,3% usaram hormônios sexuais; e 17%, misoprostol.


Esta última substância, apesar de menos utilizada, parece ser a mais nociva, aumentando em 2,64 vezes o risco de o bebê apresentar problemas congênitos como pé torto, defeitos nas unhas das mãos e microcefalia. “Desconfiamos de que o misoprostol interfere no desenvolvimento normal da vascularização do embrião ou feto”, explica a farmacêutica Tatiane da Silva Dal Pizzol, responsável pelo estudo.


Além do misoprostol, hormônios sexuais também estiveram associados a anomalias congênitas, o que pode ser explicado pelo uso de altas doses de hormônios sexuais não como método contraceptivo ou como teste de gravidez, mas para interromper a gestação. Já os chás de ervas abortivos, embora considerados tóxicos, não apresentaram, neste trabalho, associação com problemas nos fetos.


Tatiane alerta ainda que os números do trabalho podem estar subestimados por terem considerado apenas o diagnóstico dos médicos que acompanharam o nascimento dos bebês. “Alguns defeitos neurológicos podem passar despercebidos no período logo após o nascimento, manifestando-se após dias ou meses de vida”, justifica.


Segundo a pesquisadora, a utilização de misoprostol e hormônios sexuais para induzir a menstruação envolve problemas complexos como o aborto feito por pessoas sem instrução, o uso indevido de medicamentos e a grande demanda por serviços de emergência após tentativas malsucedidas de aborto. “As anomalias congênitas, causadas ou não pelo uso de medicamentos durante a gestação, vem contribuindo com uma proporção crescente de casos nos índices de mortalidade infantil”, acrescenta a farmacêutica. “Mas os dados sobre a contribuição dos medicamentos para o desenvolvimento dessas anomalias ainda são escassos e, muitas vezes, incompletos”, pondera.

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