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28/06/2016

Fiocruz Amazonas sedia debate sobre parto e nascimento

Valéria Costa (Fiocruz Amazonas)


O alto índice de partos cesarianos no Brasil e a banalização da medicalização para a indução e aceleração de partos normais foram o eixo central dos debates no Seminário Norte sobre Parto e Nascimento, realizado na última quinta (23) e sexta-feira (24/6) na sede do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazonas). O evento é uma parceria entre a instituição e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e foi transmitido ao interior do estado pelo Canal IPTV/Telessaúde e para todo ao país por meio da internet.

De acordo com um dos organizadores do seminário, o pesquisador da Fiocruz Amazonas Jesem Orellana, o motivo do seminário surgiu de um apelo de um grupo de profissionais da saúde em discutir o tema e todos os seus meandros, como a violência obstétrica e a indução de cesarianas, muito comuns em hospitais da rede privada de saúde, por exemplo. “Surgiu esse clamor, não só das mães, parturientes, mas sobretudo de profissionais de saúde que vivenciam essa questão e se sentem incomodados com o excesso de cesarianas. No entanto, poucos médicos se inscreveram para participar dos debates”, lamentou.

E, para quantificar e embasar esse discurso, o Seminário Norte sobre Parto e Nascimento trouxe como palestra principal dados sobre o inquérito Nascer no Brasil, fruto de uma pesquisa de abrangência nacional conduzida pela pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), Maria do Carmo Leal, e que traz à luz dados assustadores em que coloca o Brasil como o país com a maior proporção de cesarianas do planeta. “Os números são muito aquém daquilo que se deseja, enquanto país industrializado. Em países da Europa, por exemplo, o número de cesarianas não ultrapassa 15% na rede privada. Enquanto em Manaus, na mesma rede privada, registra-se incríveis 99% de partos cesáreos”, afirmou Jesem.

Para ele, o alto índice de cirurgias obstétricas tem a ver com a questão de mercado, um negócio, uma vez que se mobiliza toda uma estrutura para que seja feito o parto cesáreo: desde o anestesiologista até o neonatologista.

A pesquisa de Maria do Carmo Leal, realizada em 2012, endossa as declarações do pesquisador. Conforme os dados que vieram à luz com o resultado da pesquisa, que forçou o Conselho Federal de Medicina (CFM) a tomar providências para frear o excesso de cesarianas no país, atualmente quase 60% dos bebês que nascem na rede pública e privada de saúde vêm pela via cirúrgica, na maioria das vezes, desnecessárias, conforme palavras da pesquisadora.

O seminário ainda apresentou temas como o impacto da epidemia do vírus zika em gestantes de Manaus, proferida pela pesquisadora da Fiocruz Amazonas Flor Ernestina Martinez Espinosa; o parto e nascimento nas populações indígenas, da pesquisadora da Fiocruz Amazonas Raquel Dias-Scopel e um debate entre representantes do CFM e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), sob a condução do presidente da Câmara Técnica de Saúde da Mulher do Cofen, Valdecyr Herdy Alves, e Etelvino Trindade, do CFM.

A abertura do Seminário Norte Parto e Nascimento contou com as presenças dos diretores da Fiocruz Amazonas, Sérgio Luz e Felipe Naveca; dos secretários municipal e estadual de Saúde, Homero de Miranda Leão e Pedro Elias, respectivamente; e da enfermeira e membro da comissão organizadora do evento, Lihsieh Marrero, representando, no ato, o reitor da UEA, Cleinaldo Costa.

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