12/02/2016
Agência Fiocruz de Notícias (AFN)
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e mais 32 revistas científicas, ONGs, fundos e institutos de pesquisa assinaram, na última quarta-feira (10/2), uma declaração conjunta na qual se comprometem a compartilhar, de forma rápida e aberta, dados e resultados relevantes de pesquisas que possam ajudar na crise com o vírus zika e em outras emergências de saúde pública. O objetivo da iniciativa é garantir que qualquer informação de valor para a saúde pública seja disponibilizada gratuitamente e o mais rápido possível para a comunidade internacional, sem impedir pesquisadores de, posteriormente, publicar os dados apresentados em seus artigos. A expectativa é que outras instituições também passem a aderir à causa nas próximas semanas.
“É fundamental a Fiocruz e outras instituições serem signatárias deste acordo que, no caso da pesquisa sobre zika, altera o padrão usual da comunicação científica, com a publicação mais rápida e a gratuidade em periódicos que usualmente requerem pagamento dos autores. Estamos diante de uma grave crise sanitária reconhecida mundialmente: já obtivemos algumas evidências científicas, mas ainda há muitas perguntas sem resposta, que demandam uma ação intensa por parte das instituições de pesquisa”, destacou a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima. “Faz parte do acordo a divulgação de notas de pesquisa ou dados de estudos em desenvolvimento, o que creio ser coerente com a gravidade da situação e a necessidade que está mobilizando não só a comunidade científica nacional e internacional, mas também a sociedade”.
De acordo com Nísia, esse acordo também é favorável à Política de Acesso Aberto promovida pela Fiocruz. “A assinatura do acordo também contribui para o debate, ainda incipiente, que aponta a necessidade de compartilhar os dados de pesquisa e não apenas os artigos científicos, o produto final das investigações. O apoio de instituições e periódicos de pesquisa internacionais a esse acordo é um passo importante para essa discussão. Esperamos que mais instituições brasileiras possam aderir”, afirmou.
Para as instituições signatárias do acordo, a partilha de informações com a pré-publicação de dados e/ou resultados durante emergências de saúde pública deve se tornar a norma global. Cientistas em todo o mundo têm feito esforços para desenvolver uma vacina contra o zika e conhecer melhor o vírus. Na última quinta-feira (11/2), o ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou que especialistas dos EUA iniciariam o trabalho de desenvolvimento de uma vacina contra o zika em parceria com o Brasil.
Confira abaixo a declaração na íntegra (tradução livre). Clique aqui para ler o texto original.
Declaração sobre o compartilhamento de dados em emergências de saúde pública:
Os argumentos para o compartilhamento de dados, e as consequências de não realizar, têm sido colocados em grande destaque devido aos surtos de ebola e zika.
No âmbito de uma emergência de saúde pública de preocupação internacional, é imperativo que todos os envolvidos tornem disponíveis quaisquer informações que possam ter valor no combate à crise.
Estamos comprometidos a trabalhar em parceria para garantir que a resposta global a situações de emergência de saúde pública seja nutrida pelos melhores dados e evidências de pesquisa disponíveis, tais como:
- Os periódicos signatários tornarão o acesso livre para todo o conteúdo relativo ao vírus zika. Quaisquer dados ou pré-impressões divulgadas sem restrição antes da submissão de qualquer artigo não impedirão a publicação deste em periódicos.
- Os signatários representantes de fundos financiadores irão exigir que pesquisadores que estão desenvolvendo trabalhos relevantes para emergências de saúde pública definam mecanismos de compartilhamento rápido e o mais aberto possível de dados intermediários e finais com qualidade assegurada, sobretudo, com a saúde pública, as comunidades de pesquisa e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Convocamos outras instituições a firmarem os mesmos compromissos.
Este compromisso está de acordo com consultoria especializada sobre compartilhamento de dados que foi realizada pela OMS no ano passado na qual é esperado que pesquisadores e especialistas partilhem dados na primeira oportunidade, uma vez que estes estiverem adequados para a divulgação e seguindo quaisquer medidas de segurança relativas a proteção de participantes ou pacientes.
Assinam a declaração:
Academy of Medical Sciences, UK
Bill and Melinda Gates Foundation
Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC)
The British Medical Journal (BMJ)
Bulletin of the World Health Organization
Canadian Institutes of Health Research
The Centers for Disease Control and Prevention
Chinese Academy of Sciences
Chinese Centre for Disease Control and Prevention
The Department of Biotechnology, Government of India
The Department for International Development (DFID)
Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG)
eLife
The Economic and Social Research Council (ESRC)
F1000
Fondation Mérieux
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
The Institut Pasteur
Japan Agency for Medical Research and Development (AMED)
The JAMA Network
The Lancet
Médecins Sans Frontières/Doctors Without Borders (MSF)
National Academy of Medicine
National Institutes of Health, USA
National Science Foundation, USA
The New England Journal of Medicine (NEJM)
PLOS
Science Journals
South African Medical Research Council
Springer Nature
UK Medical Research Council
Wellcome Trust
The Netherlands Organisation for Health Research and Development (ZonMw)