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05/02/2020

Fiocruz e FCT definem prioridades do OTSS para 2020

Vanessa Cancian e Vinícius Carvalho (Comunicação OTSS)


Planejamento anual do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) definiu cinco prioridades para este ano: formalizar institucionalmente o OTSS, consolidar a ação territorial integrada, implementar a avaliação da Agenda 2030, consolidar a incubadora e ampliar a cooperação internacional do Observatório com o protagonismo de povos e comunidades tradicionais. 

Vagner Nascimento é coordenador do FCT e um dos coordenadores gerais do OTSS (foto: Comunicação OTSS)

 

Criado a partir de uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), o OTSS é um espaço tecnopolítico de geração de conhecimento crítico, a partir do diálogo entre saber tradicional e científico, para o desenvolvimento de estratégias que promovam sustentabilidade, saúde e direitos para o bem viver das comunidades tradicionais em seus territórios.

Nesta entrevista, Vagner Nascimento, coordenador do FCT e um dos coordenadores gerais do OTSS, fala sobre as estratégias do projeto para o ano de 2020 e destaca a importância da união entre a Fiocruz e o FCT para a promoção de territórios sustentáveis e saudáveis no contexto dos povos e comunidades tradicionais da Bocaina.

Comunicação OTSS: O OTSS é resultado da união entre uma instituição de ciência e uma organização que representa povos e comunidades tradicionais. Qual a importância deste tipo de encontro hoje? 

Vagner Nascimento: Os movimentos sociais têm suas bandeiras de luta. No caso do Fórum de Comunidades Tradicionais, a principal é a defesa de seus territórios e da sustentabilidade dos povos tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba. Esse encontro com a Fiocruz é importantíssimo porque vem qualificar as agendas do movimento e propor um modelo de sustentabilidade e saúde para esse território com base em pautas que partem das próprias comunidades em áreas como agroecologia, saneamento ecológico, educação diferenciada, turismo de base comunitária e justiça socioambiental. Entendemos que cuidar desse território é importante para construirmos um modelo de desenvolvimento contra hegemônico para essa região. Por isso fazemos pesquisa e olhamos para o território em busca do bem viver. 

Comunicação OTSS: Qual balanço você faz das atividades do OTSS em 2019?

Vagner Nascimento: Em 2019 começamos um projeto de caracterização de 64 territórios de comunidades tradicionais. Também trabalhamos nossas agendas estratégicas e conseguimos avançar em um projeto territorializado para dentro dessas comunidades. Construímos um curso de pós graduação em gestão de territórios e saberes em parceria com a UFF e a APA Cairuçu, expandimos nossa cooperação internacional com as universidades de Coimbra e Paris 8 e também integramos o GT oficial que levou Paraty e Ilha Grande ao título do Patrimônio Mundial da Unesco, entre outras conquistas importantes em defesa dos territórios tradicionais da Bocaina.

Comunicação OTSS: Um dos focos de ação definidos pelo planejamento do OTSS para 2020 é consolidar a incubadora. Por quê? 

Vagner Nascimento: A incubadora é uma área que, desde o início das nossas ações, vem se fortalecendo. Agora queremos estar mais focados nas ações finalísticas da agroecologia, do turismo de base comunitária e do saneamento ecológico para dentro das comunidades tradicionais, dialogando com o princípio do bem-viver e trazendo a questão da economia solidária para dentro desse debate. 

Comunicação OTSS: Outra prioridade definida para o ano é avançar na avaliação territorializada da Agenda 2030 da ONU. Por quê? 

Vagner Nascimento: É muito importante caminharmos nessa agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU em diálogo com nossos territórios tradicionais. Para isso, precisamos medir, através do olhar da saúde, a qualidade de vida das comunidades tradicionais e monitorar isso para ver o impacto das nossas ações aqui no território. Queremos medir os avanços das nossas ações efetivas na região, e nada melhor do que partir de um instrumento importante como a Agenda 2030. 

Comunicação OTSS: Qual, afinal, a importância desta agenda para o território? 

Vagner Nascimento: Essa agenda é extremamente importante porque esses mecanismos são usados sempre, e poucas vezes têm o olhar sobre as especificidades de como as comunidades tradicionais veem seu próprio desenvolvimento. A questão do que é riqueza e pobreza, por exemplo. Quando olhamos para as formas convencionais de medir isso, nós, das comunidades, não somos enquadrados porque, para nós, a riqueza não está relacionada só com dinheiro e depende de outros elementos como questões sagradas, água, sementes crioulas. Por isso, iremos mostrar, pela nossa visão, as coisas que se enquadram para a gente criar outros parâmetros e valorizar o que é importante para nós. 

Comunicação OTSS: Outra prioridade estabelecida pelo planejamento foi consolidar a cooperação internacional, o que podemos esperar disso para 2020? 

Vagner Nascimento: A cooperação internacional é um braço extremamente importante, sobretudo pelo contexto que vivemos hoje no Brasil de retrocesso dos direitos dos povos e comunidades tradicionais e de ataque às organizações sociais e de ensino. Então tentamos fortalecer a agenda internacional para dar visibilidade às lutas e as formas de organização do Brasil, mas também para fazer parcerias que levem à consolidação de práticas tradicionais aqui no território. Nesse sentido, temos o objetivo, em 2020, de construir o Fórum Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais e tirar do papel a Universidade Livre e Cooperativa Internacional (Luci). 

Comunicação OTSS: Por fim, o Otss definiu como prioridade consolidar a gestão territorial integrada. Por quê?

Vagner Nascimento: A gestão territorializada é importante para integrar nossas ações no território e para que a gente consiga fortalecer e monitorar as agendas e as nossas ações. Isso faz com que a gente deixe de ver as coisas dentro de caixas separadas e passe a olhar para as sinergias entre elas desde o ponto de vista dos territórios. Precisamos sair das caixas para ver as conexões entre todas as coisas que a gente faz.

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