Início do conteúdo

10/09/2013

Fiocruz e instituto de saúde americano vão desenvolver novo teste para malária

Danielle Monteiro


Uma parceria entre o Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná), o Centers for Disease Control and Prevention – CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças)  e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná  (IBMP) vai criar uma nova alternativa para o diagnóstico da malária no Brasil e em países africanos. As duas instituições estão trabalhando para, juntas, desenvolver um teste molecular confirmatório da doença, que terá fácil execução e será capaz de identificar as quatro espécies do parasita causador da enfermidade. O vice-diretor do ICC/Fiocruz Paraná e coordenador da parceria no Brasil, Marco Krieger, contou à Agência Fiocruz de Notícias como o projeto está sendo desenvolvido e revelou quais serão os próximos passos desta iniciativa promissora.

AFN: Como surgiu a ideia de se formar uma parceria com o CDC no desenvolvimento do teste molecular para diagnóstico da malária na África? E quais são os principais objetivos deste projeto?

Marco Krieger: Surgiu de uma interação com o grupo de pesquisa do Dr Alexandre da Silva, líder do centro de pesquisa e diagnóstico molecular de parasitas do CDC, que, em visita à Fiocruz Paraná, ficou positivamente impressionado com nossa competência tecnológica e industrial. A partir deste contato inicial, buscamos viabilizar um projeto para obtermos um produto para utilização em saúde pública. O principal objetivo deste projeto consiste em aproveitar um teste in house utilizado pelo CDC e promover melhoras neste teste transformando esta prova utilizada no CDC com sucesso em um produto certificado capaz de ser utilizado em outros laboratórios.

AFN: Como funciona esse teste diagnóstico? Ele possui um diferencial em relação aos outros? Quais são seus benefícios?

Krieger: Trata-se de um teste confirmatório da doença. Esperamos fazer uma evolução constante deste teste nos próximos anos. Na primeira versão que estamos iniciando a validação, já fizemos significativos avanços no sentido de melhorar a performance assim como a execução do teste. Em primeiro lugar transformamos o teste que era feito em quatro reações independentes em um teste duplex capaz de diferenciar quatro espécies do parasita Plasmodium, que provoca a malária (P.falciparum, P. vivax, P.ovale e P. malariae). Além disto, acrescentamos um controle interno que é capaz de validar os resultados negativos. Adicionalmente as reações estão sendo preparadas em um formato pronto para uso em que o operador terá de colocar apenas a amostra na mistura, sendo que um componente de termo estabilidade foi acrescentado nesta mistura que se mantém funcional por um mês à temperatura ambiente e um ano a quatro graus, em contraste com as reações tradicionais que devem ser estocadas a menos vinte graus célsius.

Não existe teste molecular disponível em Moçambique, mas as vantagens descritas são importantes mesmo em relação a outros testes disponíveis em outras partes do mundo. Vale lembrar que o teste tradicional morfológico (com a utilização de microscópio) ainda é muito importante. Estamos preparados para atender à demanda do Brasil e de Moçambique e devemos produzir de 100 mil a 300 mil testes por ano.

AFN: Qual o papel da Fiocruz neste projeto?

Krieger: A Fiocruz foi a responsável pela introdução das melhorias descritas acima. Além disto, a produção está sendo feita com insumos produzidos na Fiocruz Paraná em um conceito de Boas Práticas de Fabricação, o que garante uma melhor qualidade e rastreabilidade do produto.

AFN: Já foram realizadas validações (100 amostras) em Atlanta, seguindo protocolo CDC/Fiocruz, com resultados promissores. Em que pé está este projeto e que resultados foram até então obtidos?

Krieger: A primeira etapa da validação já foi feita no CDC com amostras provenientes de diferentes regiões do planeta. Fizemos adicionalmente validações em parceria com o grupo da Fiocruz Rondônia com mais de trezentas amostras da região amazônica e os resultados até o momento repetem os índices de sensibilidade e especificidade obtidos pelo CDC.

AFN: Dois técnicos do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique e um do IBMP foram treinados no CDC. Em que consistiu esse treinamento?

Krieger: O treinamento foi na execução do teste. Consistiu na extração de DNA de amostras de pacientes, realização da Reação em Cadeia da Polimerase (reação de PCR) e análise e interpretação dos dados. Faremos o treinamento final em junho no Brasil, do qual vão participar tecnologistas do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique, juntamente com a equipe do CDC e da Fiocruz Paraná. Faremos esse treinamento no Brasil já com o teste com todas as melhorias introduzidas.

AFN: Quais serão os próximos passos a serem tomados no projeto?

Krieger: Estamos também buscando o desenvolvimento de um teste para aplicação no campo em um conceito point of care (que pode ser feito fora de um laboratório tradicional, quase como um teste rápido, mas que necessita ainda de equipamentos portáteis e, desta forma, pode ser utilizado no campo). Ele já teve resultados preliminares muito satisfatórios e esperamos já em 2014 começar sua validação.

AFN: Quando devem começar a ser implantados estes testes em Moçambique?

Krieger: A ideia é que, após o treinamento no Brasil, em agosto já enviemos os primeiros testes para utilização em Moçambique. Ao mesmo tempo estaremos também aprofundando nossa colaboração com a Fiocruz-Rondônia para a utilização do teste também no Brasil, com o apoio inicial do Ministério da Saúde através da coordenação do programa de malária da Secretaria de Vigilância em Saúde.

AFN: O teste também será implantado em outros países africanos?

Krieger: É possível que sim, mas, por enquanto, temos planos de distribuir o teste em Moçambique e no Brasil.

AFN: A malária leva à morte milhares de indivíduos em todo o mundo e a África é um dos continentes mais afetados pela doença. Que impacto o desenvolvimento deste teste diagnóstico terá no continente?

Krieger: O diagnóstico e a identificação das espécies e possíveis marcadores de resistência é uma ferramenta essencial para apoio e acompanhamento de políticas de controle da doença. Sem dúvida um melhor diagnóstico pode auxiliar no manejo da malária, que é muito grave na região e este é nosso objetivo principal. No Brasil, por exemplo, o Ministério está implementando um programa de erradicação do Plasmódio falciparum. Um teste discriminador deste agente responsável pelas formas mais graves da doença será fundamental para alcançar este objetivo.

Foto: Peter Ilicciev.

Voltar ao topo Voltar