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14/05/2013

Fiocruz e universidade Pierre et Marie Curie vão elaborar cursos de pós-graduação para pesquisadores brasileiros e franceses

Danielle Monteiro


O presidente da universidade francesa Pierre et Marie Curie (UPMC), Jean Chambaz, se reuniu na sexta-feira (10/5) com gestores e pesquisadores da Fiocruz para discutir a elaboração dos cursos de pós-graduação em bioterapia e de matemática aplicada à biologia que as duas instituições pretendem desenvolver em conjunto ainda esse ano. Segundo Chambaz, a elaboração dos cursos de pós-graduação nessas áreas será muito benéfica tanto para o Brasil quanto para a França. “A biologia está mudando rapidamente. Estamos coletando dados novos nesta área e agora precisamos urgentemente da contribuição de matemáticos e de pessoas da ciência da computação para interpretá-los para que, com isso, possamos construir a biologia do futuro. Isso é muito desafiador para ambos os países”, argumentou.


 O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, recebe o presidente da universidade Pierre et Marie Curie, Jean Chambaz (Foto: Peter Ilicciev) 

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, recebe o presidente da universidade Pierre et Marie Curie, Jean Chambaz (Foto: Peter Ilicciev) 





Para o coordenador do Laboratório Internacional Associado (LIA) Fiocruz/UPMC/Inserm, Wilson Savino, a elaboração dos cursos de pós-graduação em comum, principalmente na área de terapia celular, vai permitir um esforço conjunto em uma área científica contemporânea e muito importante para a medicina investigativa e para a medicina clínica do futuro. Ele destacou que estudos no campo de terapia celular são atualmente uma das prioridades do Ministério da Saúde e também da Fundação, a qual se lança cada vez mais para temas relevantes de medicina investigativa. “A terapia celular está sendo cada vez mais usada como alternativa a determinadas doenças neurodegenerativas, sejam elas crônicas ou agudas, e também doenças do músculo cardíaco, como enfarte, ou degenerativas do músculo, como as distrofias musculares. Daí a importância da formação e de estudos nesse campo”, justificou.



O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, lembrou da forte tradição de cooperação entre as duas instituições, a qual já rendeu diversos frutos, entre eles, o Laboratório Internacional Associado de Imunoterapia e Terapia Celular, criado em 2011 em parceria com o principal centro francês de pesquisa biomédica, o Instituto Nacional Científico e de Pesquisa Médica (Inserm, na sigla em francês). Trata-se de um laboratório “sem paredes” que com a união das experiências brasileira e francesa realiza projetos científicos comuns em imunologia, biologia de músculo esquelético e distrofias musculares. “Estamos ampliando nossa parceria agora por meio de um componente muito importante na área de ensino, a pós-graduação, a qual tem um potencial enorme que vai além da própria formação, dando estímulo à pesquisa e à renovação de liderança”, disse Gadelha.

 

A previsão é de que a pós-graduação em bioterapia celular seja iniciada em setembro desse ano e o mestrado de biomatemática em 2014. A ideia é que a parceria envolva instituições de financiamento, como a Capes, além de outros renomados institutos do Rio de Janeiro, ainda a definir. Pesquisadores das duas instituições vão se encontrar em junho desse ano para definir os detalhes e pontos focais dos dois cursos.


Cooperação Fiocruz - UPMC


Parceiras há oito anos, a Fiocruz e a UPMC tem procurado cada vez mais estreitar suas relações de cooperação. Durante visita do presidente da universidade francesa em dezembro do ano passado, as duas instituições acordaram em, juntamente com o Inserm, renovar o convênio do Laboratório Internacional Associado (LIA) de Imunoterapia e Terapia Celular para os próximos quatro anos. A renovação do projeto vai permitir a realização de novos estudos sobre a distrofia muscular de Duchenne que visam à melhoria da qualidade de vida das pessoas que sofrem com o mal. A doença provoca degeneração muscular e afeta somente meninos.



O coordenador da iniciativa no Brasil, Wilson Savino, conta que, em 2014, será iniciado um ensaio clínico da doença com o uso de um inibidor da molécula VLA4, visando à inibição da inflamação muscular que acelera o agravamento da enfermidade. Atualmente está sendo desenvolvido no laboratório um modelo experimental com animais imunocompetentes - capazes de desenvolver uma resposta imune contra células estranhas - para o estudo mais eficaz da expansão de precursores de células musculares injetados no músculo, visando à terapia celular em distrofias musculares. “Entre as descobertas recentes, podemos destacar que demonstramos a importância do processo inflamatório local (onde as células humanas são transplantadas) para melhorar a eficácia do transplante”, revela Savino. Além de estudos de distrofias musculares, o LIA também atua na formação de recursos humanos, que já deu origem a uma série de dissertações de mestrado, teses de doutorado e estágios de pós-doutorado, além da publicação de diversos artigos científicos de relevância internacional, sendo que um deles ganhou espaço na revista Nature Middle East. “Os protocolos desenvolvidos no laboratório, assim como o conhecimento científico gerado, poderão ser aplicados futuramente em ensaios clínicos de terapia celular para distrofias musculares”, explica Savino.



A Fiocruz e a UPMC também pretendem atuar em conjunto na área de neurociências. Para isso, foi feito no começo desse ano um levantamento de interesses específicos com pesquisadores da Fundação no campo. Os resultados serão apresentados em junho na França. Mais adiante, será realizada no segundo semestre desse ano, uma oficina com pesquisadores franceses na Fundação para a elaboração de um plano de trabalho para uma cooperação científica no campo.


Publicado em 14/5/2013.

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