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08/03/2012

Fiocruz homenageia as mulheres, que são mais da metade de sua força de trabalho

Mara Figueira


Neusa Aparecida Emiliano já foi motorista de ônibus, caminhoneira e, há cinco meses, trabalha na Fiocruz como operadora de máquinas pesadas. Quem percorre o campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro, pode vê-la ao volante de uma retroescavadeira, realizando serviços para a jardinagem. Com essa máquina de peso, Neusa dá um destino adequado ao lixo da Fundação, retira entulhos de obras e ajuda em demolições, quando necessário. “Ainda causa espanto nas pessoas me ver operando a retroescavadeira. Engraçado, né? Não devia. Devia ser algo bem simples. Porque hoje em dia há tanta mulher em áreas tradicionalmente masculinas...”, conta ela, que tem 37 anos, é casada e mãe de duas meninas. A habilidade da operadora de máquinas pesadas na realização das tarefas arranca elogios. “Ninguém espera ver uma mulher fazendo esse trabalho. Mas ela faz coisas aqui melhor do que os operadores anteriores”, conta o coordenador de turma Wellington Silva. Neste Dia Internacional da Mulher (8/3), assim como Neusa, milhares de mulheres, com seu trabalho, contribuem para fazer da Fiocruz o que a instituição é hoje.


 A habilidade da operadora de máquinas pesadas Neusa Aparecida Emiliano na realização de suas tarefas arranca elogios (Fotos: Peter Ilicciev) 

A habilidade da operadora de máquinas pesadas Neusa Aparecida Emiliano na realização de suas tarefas arranca elogios (Fotos: Peter Ilicciev) 





De acordo com dados de dezembro de 2011 do Serviço de Informação em Recursos Humanos da Diretoria de Recursos Humanos (Direh), são 6.629 mulheres atuando na Fundação, entre servidoras, terceirizadas, bolsistas e ocupantes de cargos de direção e assessoramento superior cedidas de outros órgãos. Levando em conta esse número absoluto, elas são maioria na Fundação: somam 52,7% da força de trabalho total.


Não que ser a maioria faça alguma diferença para elas. A vigilante Juliana Temporal, por exemplo, acredita que o que importa é ser profissional, independentemente do sexo. Com isso em mente, ela superou barreiras. Antes de assumir seu serviço atual – dedicado integralmente ao monitoramento das câmeras do campus de Manguinhos e de setores da Farmácia Popular –, durante cinco anos Juliana foi a única mulher a trabalhar no plantão noturno da Fundação.


“Meu expediente era das 18h às 6h. Metade do tempo era dedicada ao monitoramento das câmeras e metade ao campus, fazendo o mesmo que um vigilante masculino faria: realizando ronda e vendo se há algum problema”, conta ela, que ostenta em seu currículo, além de um curso antibomba da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil do Rio de Janeiro, o fato de ser faixa azul de jiu jitsu – ou seja, separando-a da faixa preta, estão apenas as faixas roxa e marrom.


 A vigilante Juliana Temporal, que é faixa azul de jiu jitsu

A vigilante Juliana Temporal, que é faixa azul de jiu jitsu


Juliana é ainda um exemplo de como as mulheres buscam ser vistas de maneira igualitária no mercado de trabalho. “Trabalhei muito tempo à noite sendo a única mulher. Mas nunca fiz esse diferencial, para não ter essa coisa de, por ser mulher, não poder fazer”, explica. A vigilante trabalhou em vários setores da Fundação, mesmo naqueles em que, em um primeiro momento, pensou-se que não poderia haver mulheres, por não haver banheiro à disposição ou guarita. “Eu fui quebrando tabus”, conta ela.


Fazendo a diferença na Fiocruz



Desafios, aliás, não faltam às mulheres. As estatísticas mostram que, se elas já avançaram muito quanto à escolaridade e inserção no mercado de trabalho, ainda há muito a conquistar. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o rendimento das mulheres trabalhadoras continua sendo inferior ao dos homens. Pesquisas no mercado de trabalho também mostram que as mulheres são minoria entre os executivos das maiores empresas brasileiras.


Diante disso, é digno de nota o fato de, na Fiocruz, as mulheres serem maioria em cargos de chefia. Elas ocupam 51,1% dos cargos de direção e assessoramento superior e funções gratificadas. A Fundação também conta com duas mulheres vice-presidentes. Claude Pirmez, por exemplo, é vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência. Faz parte do seu trabalho promover e articular todas as ações de pesquisa da Fiocruz, analisando a produtividade e identificando lacunas que precisam ser preenchidas. “Estar no poder, para mim, é muito mais a oportunidade que a gente tem de encaminhar soluções. É a oportunidade de fazer coisas pela Fiocruz, pela pesquisa da Fiocruz, e o resultado disso ser refletido na sociedade e no bem-estar da população brasileira”, diz ela.


 A vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência, Claude Pirmez (ao centro): estar no poder é a oportunidade de atuar pelo bem-estar da população

A vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência, Claude Pirmez (ao centro): estar no poder é a oportunidade de atuar pelo bem-estar da população





No Laboratório de Fisiologia Bacteriana, é fácil perceber a superioridade numérica feminina na Fundação. “Aqui os homens são escassos. Em um universo de quinze pessoas, três são do sexo masculino”, conta a bióloga Clara Cavados, chefe substituta do laboratório e pesquisadora-titular. Nesse espaço em que as mulheres dominam, são realizados trabalhos com bactérias que têm uma ampla variedade de funções, como uso na indústria para produção de antibióticos e aplicação em controle biológico de insetos. Entre outras iniciativas, também conta com uma linha de pesquisa voltada para a área de alimentos, com foco em bactérias que causam intoxicação alimentar.


 Clara Cavados: a Fiocruz não vê você como homem ou mulher. Vê como pesquisador, como profissional

Clara Cavados: a Fiocruz não vê você como homem ou mulher. Vê como pesquisador, como profissional


Segundo Cavados, o fato de as mulheres serem maioria na Fundação não exige necessariamente políticas diferenciadas para esse público por parte da instituição. “Só porque nós somos majoritariamente mulheres? Não tem aquela história de que somos todos iguais? Então, eu acho que não tem que ter diferenciação. A Fiocruz não vê você como homem ou mulher: vê você como pesquisador, como tecnologista, como profissional”.


Pela igualdade



Desde 2009, a Fiocruz conta com o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça, vinculado à Vice-Presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional. Composto por representantes de todas as unidades da Fiocruz, o Comitê atua na promoção e a adoção de práticas de equidade de gênero e raça de forma sistemática na Fundação, como instrumento de gestão. Uma função que se torna ainda mais importante diante de dados como o do Serviço de Informação em Recursos Humanos da Diretoria de Recursos Humanos (Direh), que mostram as mulheres formando a maior parcela da força de trabalho da Fundação.


“O comitê entende que a instituição necessita se debruçar sobre estes números e pensar políticas públicas em que esta expressiva presença feminina seja levada em conta. Políticas que auxiliem no processo de equidade nos espaços de trabalho”, diz a coordenadora adjunta do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fundação, a pesquisadora da Fiocruz Minas Elizabeth Maria Fleury Teixeira.


Entre as realizações já alcançadas pelo comitê, Elizabeth lembra a atuação junto à comissão criada pela Diretoria de Recursos Humanos e a Ouvidoria da Fiocruz com o objetivo de dar andamento a queixas, denúncias e reclamações relativas a assédio moral e sexual no trabalho. “Essas questões eram tabu na instituição, como têm sido na maioria das instituições públicas e empresas. O comitê deu apoio político ao efetivo funcionamento desta comissão, que, no momento, está atuante. Acreditamos que nosso apoio tenha sido de fato importante”, afirma.


O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz começa agora em 2012 a terceira participação da Fiocruz no Programa Nacional Pró-Equidade de Gênero e Raça da Secretaria de Política para Mulheres da Presidência da República. Faz parte do plano de ação enviado a Brasília e a ser desenvolvido pela Fundação dar visibilidade a questões como a desigualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho; promover relações de trabalho equitativas entre homens e mulheres; corroborar na luta pelo fim da violência contra a mulher; e promover a adoção de relações de equidade de gênero e raça na cadeia de relacionamentos da instituição, buscando envolver as empresas fornecedoras e de terceirização. Um trabalho que só tem a somar e a fazer da Fiocruz um lugar em que as mulheres sintam orgulho de trabalhar.


Dicionário Feminino da Infâmia



O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça apoia, na Fiocruz Minas, a criação do Dicionário Feminino da Infâmia – Acolhimento e Diagnóstico de Mulheres em Situação de Violência. “Temos no momento 50 pesquisadoras de inúmeros institutos e órgãos de todo o Brasil trabalhando como colaboradoras do projeto”, conta Elizabeth Fleury. “Os verbetes se destinam a esclarecer e sensibilizar equipes de profissionais de saúde e de assistência social que atendem na ponta os casos de mulheres em situação de violência”. O dicionário deverá ser distribuído à rede do Sistema Único de Saúde e do Sistema Único de Assistência Social em todo o país. Segundo Elizabeth, a Editora Fiocruz vai analisar a possibilidade de publicação.


Vídeo



No FioTube, assista a um vídeo que mostra um pouco do trabalho desenvolvido pelas mulheres que atuam na Fiocruz (acesse: fiotube.icict.fiocruz.br)


Publicado em 8/3/2012.

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