Início do conteúdo

11/02/2021

Fiocruz lança 3º Boletim Socioepidemiológico Covid-19 nas Favelas

Informe Ensp


A Fiocruz lança, nesta quinta-feira (11/2), o 3º Boletim Socioepidemiológico Covid-19 nas Favelas. Nesta edição, a publicação, que é uma iniciativa da Sala de Situação Covid-19 nas Favelas, apresentará a distribuição e a incidência da Síndrome Gripal (SG) nas favelas cariocas. O evento de lançamento reunirá os pesquisadores Andre Périssé (Ensp/Fiocruz) e Bianca Leandro (EPSJV/Fiocruz), autores do boletim, a assistente social Luanda Café, da Clínica da Família do Caju, e o pesquisador da Ensp/Fiocruz e coordenador técnico do Dicionário de Favelas, Marcelo Fornazin. A transmissão está marcada para as 18h, no canal da VídeoSaúde Distribuidora Fiocruz no YouTube

O Boletim tem o objetivo de produzir informações para apoiar o monitoramento epidemiológico e social da Covid-19 nas favelas do município do Rio de Janeiro (MRJ). O terceiro volume, que traz informações sobre as pessoas com sintomas de gripe que procuraram as unidades de atenção básica para atendimento por profissional de saúde e realização de testagem para o Sars-CoV-2, revela que o mês de abril foi o pico da pandemia no primeiro semestre de 2020, com 111 mil casos notificados de SG e 21.500 confirmações de Covid-19. O mês de novembro de 2020, no entanto, marcou a retomada do aumento do vírus, com 119 mil casos de síndrome gripal e 18.200 casos de Covid-19.

“Em decorrência da baixa realização de testes pelo serviço público de saúde, muitas pessoas com sintomas leve ou moderado de Covid-19 não realizam o teste para confirmar a doença e, por esta razão, são notificadas no sistema de informação em saúde como um caso de Síndrome Gripal. Logo, a SG pode ser usada, em tempos de pandemia, como um indicador indireto da evolução da Covid-19 na atenção básica”, explicou o pesquisador da Ensp André Périssé. 

Os dados sobre SG nas favelas compreendem o período entre o início da pandemia e o início de agosto de 2020, porque, a partir desta data, o Ministério da Saúde deixou de informar dados sobre bairro ou CEP dos usuários. “A não disponibilização de dados como CEP e bairro inviabiliza a realização de estudos que tentem encontrar diferenciais intramunicipais no espaço urbano, essenciais para se discutir sobre as desigualdades sociais e seus reflexos na saúde”, pontua Bianca. Mesmo assim, com os dados disponibilizados, os autores verificaram que os bairros com Alta e Altíssima Concentração de favelas contêm tem mais de 80% de dados sem informação para a testagem da Covid-19, o que evidencia uma baixa testagem nestes bairros. “Ter acesso aos dados atualizados com a informação de CEP ou bairro nos ajudaria a verificar se este índice permanece igual, aumenta ou diminui”, acrescenta.

No total, foram notificados 12.863 casos de SG entre os 20 bairros da tipologia Sem Favelas; 153.307 casos para os 78 bairros de Concentração Baixa; 67.584 casos para os 42 de Concentração Mediana; 14.897 para os 12 de Concentração Alta; e 8.229 para os sete de Concentração Altíssima. 

Já a taxa de incidência geral de SG foi maior nos bairros sem concentração de favelas, seguida pelas categorias de Concentração Baixa e Mediana. Os bairros de Bonsucesso, São Cristóvão e da Gávea apresentam em todos os meses e, na maioria das vezes, as maiores taxas de incidências. Esses bairros, segundo o estudo, indicaram uma permanência no adoecimento por Síndrome Gripal. 

“Para síndrome gripal, essa alta taxa de incidência nos bairros Sem favelas também pode indicar um maior acesso ao serviço de saúde de forma geral e não somente o acesso ao teste. Além disso, moradores dos bairros Sem favelas têm mais condições de se ausentarem do trabalho e procurar assistência à saúde do que os moradores dos bairros com Alta e Altíssima Concentração favelas. Isto porque, em sua maioria, os trabalhadores das favelas estão precariamente inseridos na economia e postergam a ida ao serviço de saúde, buscando assistência somente quando o quadro de saúde se agrava”, aponta a publicação.

Para a pesquisadora da Ensp Jussara Ângelo, também autora do boletim, a 3ª edição discute como um dos pontos centrais o direito à informação em saúde. Principalmente porque variáveis historicamente disponibilizadas pelo DataSUS sem comprometer a confidencialidade dos dados pessoais, como o campo "bairro", deixaram de ser disponibilizadas no banco de dados sobre síndrome gripal.

“Essa mudança compromete o monitoramento desses dados na escala intramunicipal não só do município do Rio de Janeiro como de todo o Brasil. Importante lembrar que o acesso ao teste de confirmação para covid-19 ainda é desigual na cidade, portanto o monitoramento dos dados de síndrome gripal é uma aproximação mais fidedigna à magnitude da doença na cidade e, sobretudo, nos espaços periféricos urbanos. Precisamos discutir o retorno do acesso à essas informações essenciais ao monitoramento epidemiológico da covid-19”.

"Este boletim confirma a hipótese que já vinha sendo apresentada no primeiro e no segundo, que revelam desigualdade na testagem. E a gente vem desde o início falando isso. Como o tratamento é desigual, o resultado também será desigual, e as políticas de cuidado também", admite Itamar Silva, membro do Grupo Eco Santa Marta.

Lançamento

O lançamento acontecerá nesta quinta-feira, às 18h, no canal da Vídeosaúde do YouTube. A atividade é aberta aos interessados. O evento acontece no dia seguinte do Dia Estadual de Mobilização para o Enfrentamento da Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro. A data foi marcada pela realização da roda de conversa virtual Favelas e Universidades no Enfrentamento à Covid-19, promovida pela UFRJ com participação de representantes de movimentos sociais, coletivos, associações e organizações que atuam nos territórios, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Voltar ao topo Voltar